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Visita ao Centro Hospitalar de Tondela-Viseu: falta estrutura funcional e mais especialistas

O Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV) recebeu a visita de uma delegação da OM composta pelo bastonário Miguel Guimarães, o presidente do Conselho regional do Centro da Ordem dos Médicos Carlos Diogo Cortes e o presidente da sub-região de Viseu da OM, Luís Patrão. Nesta visita verificou-se que se mantém muitas deficiências em termos de instalações e uma grande insuficiência de especialistas. Entre as muitas situações que precisam de atenção, realce para a urgência, cuja obra já está planeada, e para a Psiquiatria, área em que os profissionais confessam sentir vergonha perante a falta de condições em que estão a tentar cuidar dos seus doentes. Apreensivo com esta situação, no final da visita, Miguel Guimarães desafiou a Ministra da Saúde a visitar este centro hospitalar para ver no terreno a falta de condições.

Miguel Guimarães referiu na reunião com o Conselho de Administração (CA) que as lideranças a nível das unidades de saúde são muito importantes, defendendo que “precisamos de dar mais autonomia e mais flexibilidade de gestão aos hospitais, … com responsabilização e limites, obviamente”. Além de frisar a necessidade de mais recursos humanos, o bastonário frisou que espera que a Assembleia da República e o Ministério da Saúde tenham abertura para que as mudanças possam ocorrer porque sem autonomia é complicado, se não impossível, conseguir gerir de forma eficaz.

A importância de, na retoma, se conseguir transmitir confiança para as pessoas voltarem às consultas foi a tónica acentuada por Carlos Cortes, presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, preocupação que tem estado subjacente ao pedido de reunião: acautelar o problema – que hoje se sente – das patologias não COVID estarem a ficar um pouco de parte; Recordamos que esta reunião foi pedida há meses mas com a mudança do CA e a necessidade de dar resposta à pandemia, foi sendo adiada. Outro problema abordado foram os efeitos negativos da conflitualidade e da degradação das condições, situações que geram uma “carga emocional muito forte sobre os profissionais de saúde”, num contexto em que muitos serviços estão a ter problemas de falta de recursos humanos ou instalações deficitárias. Para Carlos Cortes “a OM tem que estar atenta” e ajudar resolver as dificuldades que “podem ter impacto negativo sobre a prestação de cuidados do hospital”, exemplificando com a Pediatria e a urgência, áreas que são, infelizmente, um problema a nível nacional, não apenas desta unidade hospitalar.

A delegação da OM quis saber como é que o hospital se tem preparado e como está a correr a resposta à COVID-19, contexto em que foi referido que “nesta segunda vaga, os conselhos de administração e os profissionais têm que se preparar para aquilo que não foi preparado a nível da tutela. Luís Patrão, presidente da sub-região da OM de Viseu, lamentou as dificuldades que o hospital tem há anos e que têm resultado na sua impreparação, mas congratulou-se com a informação do CA de que as obras para o Serviço de Urgência já estão planeadas e que esse seja um dos primeiros problemas a ser resolvido. Que se resolvam os problemas do passado, instalados há décadas, para que o hospital possa olhar para o futuro – foi a principal mensagem dos representantes da OM.

O presidente do CA, Nuno Miguel Domingues Duarte, explicou que também está em fase de conclusão a obra do laboratório de biologia molecular – que, durante o mês de novembro, vai estar em período de testes e a partir de dezembro já se espera que esteja operacional e em capacidade plena de realização de testes. Com muitas carências em várias áreas, foi também indicado o estudo do aumento de 8 para 20 camas de cuidados críticos, um projeto complexo, em fase de autorização por parte da tutela. Oncologia e Psiquiatria foram duas áreas referenciadas como mais urgentes, mas, da reunião com os médicos, foi possível juntar a esta lista vários de serviços e especialidades em que as instalações e/ou os recursos humanos não correspondem às necessidades: da Ginecologia, à Radiologia, Otorrinolaringologia, etc.

O departamento de Psiquiatria é uma área em que todos estão de acordo: administração, profissionais e Ordem dos Médicos preocupam-se com instalações pouco funcionais, degradadas e sem condições de dignidade para a prestação de cuidados de saúde. O CA explicou que pretendem desenvolver um projeto para criar condições para que o Serviço de Psiquiatra que se situa em Abraveses possa vir a ficar junto do Hospital de São Teotónio, mas por enquanto, sem que haja previsão de disponibilidade de financiamento. Esperam com essa medida poder criar alguma pressão para que avancem as obras. O Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Tondela-Viseu (CHTV) funciona nas velhas instalações em Abraveses. Jorge Humberto Silva, diretor do departamento, há anos que reclama por novas instalações. O bastonário da Ordem dos Médicos defendeu igualmente a urgência desta obra, realçando que o financiamento necessário para o projeto deste departamento não é muito caro quando comparado com a necessidade de aquisição de equipamentos de radioterapia, por exemplo. O CA lamenta as dificuldades, mas lembra que, a partir de março, as prioridades mudaram em resultado da pandemia. “Tivemos que nos ajustar a uma nova realidade”, para o que têm contado com o conhecimento do diretor clínico, o internista Eduardo Luís Almeida e Melo. “Sentimo-nos muitas vezes sozinhos por termos que tomar decisões sem orientação superior”, referiu o presidente do Conselho de Administração do CHTV, considerando que o diretor clínico é uma grande mais valia, nomeadamente por ser internista, intensivista e ter a competência em emergência médica. “É muito bom receber a visita da minha Ordem” – sublinhou Eduardo Melo, reconhecendo que “vão ser dias muito difíceis”, nomeadamente porque “nesta segunda fase estamos a tentar manter o foco também nos doentes não COVID”, fase para a qual é importante o apoio e ânimo que possam receber, nomeadamente da OM. Sobre as limitações daquele que referiu ser o segundo maior hospital da zona centro, o diretor clínico assumiu: “a fragmentação por muitas especialidades é o nosso calcanhar de Aquiles. Temos muitas valências, mas com poucos profissionais”, uma fraqueza que “afeta vários serviços”, dos quais exemplificou com Oncologia, serviço que só se mantém graças aos prestadores externos. Além de muitos erros estruturais que houve ao longo dos anos em termos de ampliação ou criação de novas valências, sem respeito pelos circuitos, situações muito disruptivas e difíceis de resolver, a com a pandeia surgiram novos problemas: o Hospital de Dia está neste momento a funcionar dentro do serviço de Medicina Física e Reabilitação, por exemplo. São adaptações que foram necessárias mas que geram conflitos de espaço que dificultam a fluidez do dia a dia das várias especialidades. Apesar de, como foi explicado pelo diretor clínico, ter sido possível nos cuidados intensivos fazer um incremento de 8 para 12 camas de lotação fixa, a verdade é que há muitas dificuldades em alargar a resposta aos doentes críticos porque mesmo que haja um espaço alternativo, faltam recursos humanos. “Aumentar a resposta nos cuidados intensivos terá que passar pela diminuição da resposta eletiva”, lamentou. No dia em que realizamos a visita, 19 de outubro, o CHTV tinha 19 doentes COVI internados numa enfermaria dedicada com 26 camas. Para a urgência – que tem uma estrutura pouco funcional, poucos espaços abertos, maus circuitos, etc. – com as obras a começarem em breve, Eduardo Melo explicou que está a ser planeada a criação de uma estrutura modelar de apoio que vai ser fundamental.

O bastonário da OM considera que a saúde vai ter que mudar e que este é o momento de aproveitar para melhorar a capacidade de resposta dos hospitais. “Este momento é crítico; Embora a economia seja uma coisa extraordinariamente importante pois se as pessoas ficarem sem emprego essa circunstância terá um impacto enorme na sua vida e saúde, esta é a prioridade neste momento porque se não recuperarmos a saúde, a economia não recupera. É essencial manter a visão que a saúde é a base de tudo”. A Ordem dos Médicos tem apelado a maior investimento na saúde, não fazendo exigência específicas para os profissionais, embora defenda, naturalmente, que os médicos têm que sere devidamente respeitados e compensados. “Pedimos que se invista para melhorar a saúde dos cidadãos. Se não é para nós que pedimos, o que vamos ganhar com esse investimento? Vamos ganhar um país mais forte, com mais capacidade de resposta. Vamos salvar vidas”, concluiu. A visita inclui uma reunião com todos os colegas e uma passagem pelo departamento de Saúde Mental.

Psiquiatria e saúde mental: degradação das instalações contrasta com dedicação dos profissionais

Mesmo com os relatos a antecipar a degradação das instalações do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, a visita ao espaço acentua a urgência de uma intervenção nesta resposta para a saúde mental. As duas enfermarias – feminina e masculina – têm capacidade para internar 22 doentes cada. Mas em cada ala existem apenas duas casas de banho e dois duches e faltam espaços para promover a privacidade dos doentes. Os banhos são divididos por turnos, para evitar a água fria.

Todo o edifício, tanto no internamento como nas consultas, é labiríntico e pouco funcional, criando dificuldades de articulação, conforto e de adaptação a uma resposta mais moderna na área da Psiquiatria. A ratoeiras aqui e ali confirmam os relatos sobre presenças indesejadas, e até existem fotografias de cobras dentro das instalações. Só as salas relacionadas com as consultas do primeiro surto psicótico e dos comportamentos alimentares são uma espécie de oásis, já que as equipas conseguiram concorrer a apoios financeiros externos com projetos de reabilitação destas zonas.

Sabe-se hoje que existem muitas vantagens em desenvolver respostas na comunidade e as instalações do Departamento associadas à geografia do Distrito de Viseu acentuaram essa necessidade. Assim, a juntar aos doentes internados ou que vêm às consultas e terapias, o Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental acompanha ainda mais de 600 doentes nas suas casas, numa logística que obriga a dividir a área em 6 zonas e 46 grupos. Num ano são feitas mais de 6500 visitas e percorridos 60 mil quilómetros para promover uma resposta de proximidade.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bastonário pede solução urgente para as “péssimas condições” deste centro hospitalar

Considerando que é fundamental que a ministra da Saúde dê atenção máxima e urgente a esta situação, o bastonário defende que “a senhora ministra venha visitar o Centro Hospitalar Tondela-Viseu” e que deve “aproveitar e visitar especificamente o departamento de Psiquiatria, e já agora também o serviço de Oncologia”, outra área extremamente carenciada. Aos jornalistas, Miguel Guimarães salientou que na sequência da reunião com o CA e os responsáveis pelo departamento de Psiquiatria, foi dada a garantia que “a administração tem, neste momento, três prioridades: o serviço de urgência que já está encaminhada (…) e depois a Oncologia e a Psiquiatria, porque ambos têm péssimas condições para os doentes”. O Bastonário recordou que escreveu à ministra, sem resposta, e defendeu que nesta altura de pandemia é o momento certo para a tutela conseguir um reforço orçamental para vários projetos prioritários, sendo a Psiquiatria e a Oncologia do CHTV claramente dois deles, como frisou.