As situações de stress, de depressão, de ansiedade ou de burnout são cada vez mais relatadas por um significativo número de trabalhadores face à enorme pressão para responder às exigências do ambiente de trabalho moderno e à atual situação pandémica. Tal ocasiona repercussões, não só na vida profissional como também na vida pessoal, familiar e social. O ónus da doença mental evidencia-se altamente relevante no contexto do trabalho, usualmente associado a “um forte estigma e discriminação” e à perda de capital humano produtivo. Este ónus tem um impacto importante ao reduzir perspetivas de emprego e de salário, o rendimento das famílias, a produtividade das empresas, e ao causar altos custos, diretos e indiretos, na economia. Num mercado económico livre, o ritmo do trabalho das empresas é ditado por comunicações instantâneas, elevados níveis de concorrência e de competição global exigências de produtividade e desenvolvimento tecnológico, que conduzem a ambientes de trabalho cada vez mais stressantes. Estes ambientes são agravados pela definição de objetivos pouco realistas, pela urgência em alcançar resultados, pelas longas horas de trabalho, por contratos precários e pela instabilidade e incerteza no emprego.
A enorme crise de saúde pública ocasionada pela pandemia da COVID 19 provocou uma disrupção, sem precedentes, na economia e na sociedade em geral e desencadeou profundas e rápidas mudanças laborais que geraram, agravaram e realçaram os riscos psicossociais e que colocaram em evidência a relevância da saúde e do bem-estar dos trabalhadores, bem como a importância da gestão dos riscos psicossociais no contexto do trabalho.
Reconhece-se que as condições de trabalho e a forma como este é organizado e executado podem ter efeitos adversos na saúde mental e bem-estar dos trabalhadores, sempre que não se garanta uma boa gestão dos riscos psicossociais no local de trabalho. É precisamente este o ponto de partida do guia técnico lançado pela DGS no dia 28 de setembro 2que se intitula “Vigilância da saúde dos trabalhadores expostos a fatores de risco psicossocial no local de trabalho”. Como explicou Rui Portugal, subdiretor geral da Saúde espera-se que as instituições aproveitem e usem “os recursos que estão disponíveis nos diferentes programas, públicos ou privados” nomeadamente em termos de Saúde ocupacional que é tão “relevante no nosso ciclo de vida, em que o local de trabalho é um espaço muito específico de risco mas também de grandes oportunidades e fatores protetores para a qualidade da nossa vida”. Presente na cerimónia, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães saudou este trabalho frisando que “cada vez mais o local de trabalho deve ser um espaço de promoção da saúde”, mental e física. Referindo-se especificamente à sua área, o bastonário alertou para a forma como os trabalhadores da saúde, e muito concretamente os médicos, estão, em resultado da pandemia, mais do que nunca, expostos a “fatores de risco psicossociais”. O ambiente de trabalho degradou-se, com o conteúdo do trabalho focado na COVID-19 e com o aumento da pressão assistencial, a que os médicos fizeram face, tantas vezes negligenciando as considerações pessoais extratrabalho e a família, estão a influenciar negativamente a sua saúde, o seu rendimento no trabalho e a sua satisfação profissional. É preciso combater a exaustão e o burnout porque “o absentismo tem um impacto muito grande na oferta de cuidados das unidades de saúde” mas também tem impacto nos próprios profissionais em termos de sofrimento ético e nas suas famílias. Referindo algumas estatísticas preocupantes, Miguel Guimarães referiu que, no Eurobarómetro, o stresse laboral é considerado o principal risco psicossocial, sendo indicado por 53% dos trabalhadores europeus.” A elevada percentagem do stress ocupacional que temos no setor da saúde explica-se pela carga de trabalho [excessiva], pelo elevado nível de exigências, pela falta de recursos humanos e pela falta de incentivos e recompensas”, refere em resumo o bastonário, alertando que “é tempo de tomar decisões e implementá-las no terreno” para combater o burnout e o sofrimento ético, pois quando os médicos sentem que não conseguem tratar bem os seus doentes, “a carga de sofrimento ético é tremenda”
A encerrar a sessão a Diretora Geral de Saúde sublinhou como os riscos psicossociais no local de trabalho são um “desafio major e emergente no âmbito do trabalho”, acelerados pela pandemia que trouxe transformações ao mundo do trabalho que potenciam precisamente esses riscos. Graça Freitas alertou para a necessidade de “garantir que os trabalhadores sentem bem estar e segurança no local de trabalho e que estão aptos e realizados profissionalmente, área em que há, garantiu, uma enorme preocupação da DGS.