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COVID-19: a melhor vacina é a que esteja disponível!

No programa Centro de Decisão de 20 de março do Porto Canal o tema foi a vacinação e o combate à pandemia no contexto nacional e europeu, num espaço de informação que contou com as intervenções do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, Roberto Roncon, coordenador de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de São João e Sara Cerdas, eurodeputada e membro da Comissão de Saúde Pública do Parlamento Europeu.

Questionado precisamente sobre as falhas da União Europeia, o bastonário da Ordem dos Médicos não poupou algumas críticas ao que tem acontecido no processo lamentando que a Europa não apoie mais e melhor a investigação, mas não apenas no que se refere à pandemia pois “a investigação, no que se refere ao tratamento de outras doenças” acabou também “por ser prejudicada pela concentração que existiu no combate à COVID-19″. Já a eurodeputada Sara Cerdas num tema incontornável, referiu a vacina da Astrazeneca como sendo “segura e eficaz” e com “benefícios de acordo com os ensaios clínicos e com toda a informação recolhida pela Agência Europeia do Medicamento”, justificando com o facto de estarmos num “processo científico muito dinâmico”, a circunstância de se ter aplicado o “princípio da precaução”. Preocupado com as repercussões da descoordenação, precisamente nesse contexto, Miguel Guimarães alertou que a União Europeia “aqui não funcionou!” pois devia ter reunido os Estados membros, e após avaliar a situação, “dava a oportunidade à Agência Europeia do Medicamento ou à OMS para se pronunciarem” antes que cada um começasse a agir por seu lado, relembrando que qualquer uma dessas organizações frisou desde o primeiro momento que estávamos a falar de efeitos adversos “extraordinariamente raros”, assinalando uma “prudência excessiva” pois “estas 48h têm muito impacto no número de pessoas que vão recusar a vacina”, lamentou.

Também sobre as questões de segurança da vacina, Roberto Roncon fez questão de frisar que há eventos adversos “reportados como potencialmente relacionados com as vacinas” em todas as vacinas mas que não há necessariamente um nexo de causalidade e que, por exemplo, no caso da trombose venosa, esse nexo é de difícil estabelecimento, explicando o procedimento da EMA.

Sobre a possibilidade de virmos a implementar a vacina russa no espaço europeu, Sara Cerdas considera que a Sputnik deve ser admitida desde que cumpra os requisitos idênticos aos de “qualquer vacina ou produto que tenha o processo normal de apuramento de segurança, eficácia e efetividade”, afirmando total confiança na Agência Europeia do Medicamento. A introdução da vacina russa está, contudo, ainda dependente de análise pois “o processo de revisão da Sputnik só entrou na Agência a 4 de março”.

O bastonário da Ordem dos Médicos não hesitou em lembrar que “a Rússia tem investigação ao mais alto nível e investigadores dos melhores a nível mundial; portanto têm capacidade para produzir uma vacina de qualidade e avaliar a sua introdução no mercado”. “Quanto mais depressa atingirmos a imunidade de grupo mais depressa vamos conseguir estabilizar a luta contra o vírus, portanto a Sputnik é bem vinda”. Até porque, alerta, “um processo de vacinação para ser eficaz tem que ser rápido” porque, se se estender para além de setembro o que acontecerá é que a imunidade dos primeiros vacinados poderá já estar comprometida, facto sobre o qual ainda não há quaisquer certezas científicas. O que é “essencial para o nosso país é termos um plano de vacinação bem estruturado e a funcionar rapidamente, com a vacina que estiver disponível”. Sim, porque, não hesita em classificar como “a melhor vacina aquela que esteja disponível: seja a da Pfizer, a da Astrazeneca ou a Sputnik”…

Quanto à possibilidade de um tratamento Roberto Roncon lembrou que é melhor prevenir e que nenhum tratamento farmacológico é preferível a uma vacina, lamentando o aproveitamento político de fármacos como a hidroxicloroquina, que, ao serem recomendados de forma profilática, e indicados como “medicamento milagroso” para a COVID-19 deixaram potencialmente a descoberto doentes com doenças auto-imunes. Esses doentes correram o risco de ficar sem tratamento em doenças nas quais a substância estava comprovadamente dada como eficaz por estar a ser consumida por doentes que não tinham benefícios com o uso desse medicamento.