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União Europeia da Saúde? Se a queremos, temos de investir

Para o bastonário da Ordem dos Médicos o passo inicial que poderá permitir a construção de uma União Europeia da Saúde é “um reforço do investimento” no setor por parte de cada Estado-membro. Miguel Guimarães falava, na última segunda-feira, num debate sobre o tema, organizado pela representação da Comissão Europeia em Portugal e pela NOVA Economics Club, em parceria com a NOVA Student’s Union.

“Se queremos uma União Europeia da Saúde, temos de começar a investir nos sistemas nacionais de saúde”, referiu, alertando para o facto do volume de investimento de cada país em termos de saúde ser bastante díspar. Além do investimento, sublinhou, é incontornável a necessidade de uma “liderança forte”. Nesta matéria, Miguel Guimarães lembrou o que aconteceu com o processo de vacinação, onde “tivemos o melhor e o pior”. No “melhor” encontra-se a colaboração entre os países para a compra das vacinas, uma coletividade que teve mais força do que qualquer iniciativa própria. Já no “pior”, o bastonário destacou a suspensão temporária da administração da vacina da AstraZeneca, na medida em que “os vários países decidiram por si próprios”, relegando a unidade europeia para segundo plano, apesar das recomendações da Agência Europeia do Medicamento e da Comissão Europeia.

Miguel Guimarães realçou que a pandemia serviu para nos lembrar, uma vez mais que “estamos todos ligados” neste mundo global. Por isso, “é tempo de colocar a saúde e a solidariedade global em primeiro lugar”. Só com uma abordagem comum (no que é possível) se conseguirá, de forma mais eficaz, cumprir o desígnio da saúde ser um direito e não um privilégio. “Fortalecer a saúde global é um compromisso comum”, assumiu o representante que advertiu que temos de estar mais preparados para a próxima pandemia, porque “nós sabemos que vai existir uma nova pandemia no futuro, só não sabemos quando.

Já o ex-ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, salientou que o mundo está a atravessar “uma nova era” despoletada pela COVID-19. O ex-governante mantém-se otimista num “novo entendimento” global sobre a importância das políticas de saúde, até porque a realidade mostrou essa necessidade de forma premente. “Os Estados-membros da União Europeia, os Estados Unidos, o Reino Unido e a China aperceberam-se de que uma doença viral pode parar a economia, pode por todos os aviões no chão”. Adalberto Campos Fernandes acredita que “nada séria como antes” tendo em conta o impacto da pandemia, tanto na vida social, como na economia.

O médico e deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite, frisou que a pandemia desafia a ideia de que os países mais ricos e mais fortes “têm mais a ganhar ao preservar a sua capacidade de decisão na saúde como um poder soberano”. O orador manifestou acreditar que a pandemia “é uma oportunidade muito especial e única para podermos iniciar uma caminhada passo a passo para a União Europeia da Saúde. “Finalmente temos essa oportunidade. Haja da parte das lideranças a capacidade para a concretizar”, concluiu.

Opinião diferente tem o economista e professor da NOVA School of Business and Economics, Pedro Pita Barros, que apresentou uma visão mais “pessimista” sobre a viabilidade do projeto. A sua opinião é sustentada nas “diferentes fontes de financiamento” que cada país da União Europeia tem, tanto para o seu orçamento global, como especificamente para a área da saúde. “É muito difícil ver como se conseguirá criar uma União Europeia da Saúde desta forma”, afirmou.

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