+351 21 151 71 00

“Tragédia anunciada”: Ordem dos Médicos e sindicatos visitam Hospital Beatriz Ângelo

O Hospital Beatriz Ângelo (HBA) “vive os piores momentos da sua história”, descrevem os médicos que lá exercem. Na passada terça-feira, 28 de fevereiro, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, assumiu que a urgência pediátrica do hospital de Loures iria encerrar à noite e ao fim de semana por “não haver disponibilidade de profissionais”. Nem um dia depois, a 1 de março, demitiram-se os chefes do serviço de urgência geral. Com as equipas mais reduzidas, os médicos ao serviço fazem centenas de horas extraordinárias.

Para perceber de perto as dificuldades dos profissionais nos diferentes serviços, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, fez-se acompanhar por representantes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), numa visita à urgência do Hospital de Loures. Ambos dizem que a situação do Beatriz Ângelo é insustentável e que é preciso agir rapidamente.

A visita aconteceu no dia em que foi conhecida a demissão dos chefes de serviço de urgência, que dizem estar em causa, nas atuais condições de funcionamento, a “missão e a qualidade assistencial”, bem como a “segurança de todos os doentes e profissionais”

“Outrora hospital modelo e revolucionário na abordagem e gestão dos doentes, vive os piores momentos da sua história e vê-se a não cumprir o seu maior objetivo: a prestação de cuidados de excelência ao doente.”

 Foi assim que os chefes do serviço de urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo, que apresentaram a demissão, descrevem a situação atual em Loures. Ao longo de uma página e meia, os médicos descrevem que vivem um “presente de desespero por escassez de recursos humanos” e olham “com enorme preocupação e desacreditação” para o futuro.

Miguel Guimarães relembrou que não se trata de uma situação nova e lamenta que os problemas de há seis anos se mantenham, falando de uma “tragédia anunciada”. O bastonário frisou, que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “precisa de um novo modelo de gestão”, com a “valorização dos profissionais”, para poderem ser ultrapassados os problemas existentes.

“Havia sinais de que isto poderia acontecer e existem sinais de que isto poderá acontecer noutros hospitais. Isto não é novidade nenhuma para quem está dentro da área da Saúde e sabe as condições (ou a falta) que existem nos hospitais”, afirmou Miguel Guimarães. “O que é surpreendente é que estas questões não sejam resolvidas a tempo”, acrescentou.

Visita à USF São João da Talha: falta de condições básicas prejudicam desempenho médico de excelência

Temperaturas desreguladas devido a aparelhos de ar condicionado que não funcionam. Gabinetes e salas de espera não climatizados. Infiltrações de água que deixam vários gabinetes inutilizáveis. Falta de impressores, computadores e sistemas informáticos com bloqueios frequentes.

Este foi o cenário encontrado pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, numa visita realizada no dia 1 de março à Unidade de Saúde Familiar (USF) de São João da Talha (ACES Loures/Odivelas).

Acompanhado por representantes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Miguel Guimarães falou com os colegas e mostrou a sua preocupação com a falta de condições básicas que encontrou. “Os médicos de família desta USF dão tudo, todos os dias, pelos seus doentes, mas precisam de ser respeitados”, alertou. “Não é possível exercer medicina com a maior qualidade e, ao mesmo tempo, estar preocupado sobre se o gabinete vai ficar inundado a qualquer instante”. “Os maiores prejudicados são os doentes e não podemos permitir que o seu acesso aos melhores cuidados de saúde seja posto em causa”, acrescentou.

Os sistemas informáticos encontram-se fortemente debilitados, com bloqueios constantes que interferem com o fluxo de trabalho. Além disso, há falta de computadores e impressoras em toda a USF, tal como não existe telefone em vários gabinetes. Mais recentemente, a USF de São João da Talha ficou sem acesso a papel das mãos, papel higiénico e toalhetes, não tendo previsão de quando será reabastecida.

A Ordem dos Médicos condena fortemente a falta de condições existentes na USF de São João da Talha, que dificultam gravemente a prestação de serviços aos doentes. Isto apesar de, graças à excelência dos seus médicos e profissionais de saúde, esta unidade conseguir apresentar resultados de topo ao nível do Índice de Desempenho Global (IDG). Na USF de São João da Talha, o IDG ronda os 90%, o que significa que é uma das 15 melhores do país nesta matéria, segundo o relato de vários profissionais que lá exercem.