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Sair da casca

Autora: Vânia Mendes de Oliveira, interna de 2º ano de Medicina Geral e Familiar
Orientadora de formação: Dra Paula Miranda
USF VitaSaurium

 

 

Sair da casca

Durante o 1o ano de internato de MGF as minhas férias coincidiram com as da minha orientadora de formação (OF). Afinal, era demasiado inexperiente para “dar o corpo ao manifesto” ao ficheiro na sua ausência. Nesse ano, apenas houve um dia ou outro em que estive na Unidade sem a OF.
A minha “prova de fogo” aconteceu no 2o ano da especialidade, em março de 2023, quando geri o ficheiro sozinha, durante 1 semana. Sabia que, quando esse momento acontecesse, iria ser desafiante, mas não pensei que seria tanto… Houve em mim uma mistura de sentimentos. Por um lado gostei de me projetar no meu futuro, com muitas consultas para realizar, por outro senti-me assoberbada! Apesar de não haver consultas programadas e de ter ficado “apenas” a dar resposta à consulta aberta e não presencial, a agenda encheu invariavelmente, com solicitações que chegavam de todo o lado: secretariado, enfermagem, e-mail… O meu sentido de responsabilidade de estar a assumir o ficheiro também não me ajudou porque disse “sim vejo, sim atendo”, ao máximo de situações. Adicionalmente, queria que a minha OF encontrasse a “casa arrumada” quando regressasse, por brio e para não a sobrecarregar. No início da semana, demorava-me muito nas consultas pois, além da minha inexperiência, estou habituada a trabalhar com calma, reparto o trabalho com a OF e senti que devia dar resposta, em cada consulta, a todos os problemas apresentados pelo utente.
Apercebi-me de alguns utentes impacientes com os meus atrasos, o que me deixou triste…
Estava a esforçar-me tanto e pensei que o facto de haver uma resposta, apesar da sua médica de família não estar na Unidade, me isentaria da sua insatisfação. Ao longo da semana a minha gestão de tempo melhorou, tornando-me mais ágil nos meus atos, como se a engrenagem do sistema começasse a funcionar! Uma das estratégias para me tornar mais célere, foi não ir pedir tantas vezes aos colegas a sua opinião e ser mais auto-confiante.
Essa semana, permitiu-me fazer uma auto-avaliação. Sinto que a minha satisfação profissional, nesta fase, depende de: conseguir responder aos pedidos, em tempo útil e de forma auto-suficiente; conferir qualidade aos meus atos e percepcionar a consequente
satisfação no utente; ser capaz de me articular com a equipa. A semana foi tão cansativa que, em casa, houve dias em que não consegui acompanhar sequer 2 minutos de uma conversa com a minha família. Concluindo, com uma carreira tão exigente e absorvedora, é importante equilibrar a vida profissional com a pessoal, e vive-versa. Tal como lembra a frase da última versão da Declaração de Genebra: “Cuidarei da minha própria saúde, bem-estar e habilidades de forma a prover cuidados do mais alto padrão”.