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“Quem não está no terreno não faz ideia.” Médicos querem continuar a poder passar receitas à mão

Em Portugal, a grande maioria dos médicos já aderiu à prescrição eletrónica de receitas. De acordo com os dados dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, só no mês de março foram prescritas mais 4 milhões e 800 mil receitas eletrónicas. No entanto, tal como Miguel Guimarães explicou em declarações à TSF, tornar esta prática obrigatória e exclusiva é praticamente impossível e muito perigosa.

Os constrangimentos constantes dos sistemas eletrónicos das unidades de saúde, com os quais os médicos se debatem diariamente, tornam a prescrição manual na única solução viável para passar as receitas aos doentes. “Quando os sistemas informáticos vão abaixo só temos duas soluções: ou prescrevemos manualmente, ou deixamos os doentes sem medicamentos, o que pode ser catastrófico”, referiu o bastonário da Ordem dos Médicos.

Também a falta de literacia informática contribui para que médicos mais velhos continuem a utilizar as receitas manuais, contudo estes médicos continuam a dar consultas e a responder aos seus doentes, muitas vezes em áreas onde há falta de médicos, como em zonas mais isoladas do país. “Numa altura de crise do SNS, com a saída de tantos médicos, estar a impedir médicos de dar o seu contributo e de poderem prescrever receitas, é quase criminoso”, alertou Miguel Guimarães.

O impacto e ajuda destes médicos é incalculável. “Quem não está no terreno e quem não vê doentes não faz ideia das realidades vividas”, especialmente nas regiões mais carenciadas. Por isso, não compreende que tornar as receitas unicamente eletrónicas é perigoso e imprudente. “Não há nenhum país do mundo que tenha as receitas 100% eletrónicas”, sublinhou o representante dos médicos.

A Ordem dos Médicos vai voltar a escrever ao Ministério da Saúde a apelar que seja alargada para lá de 30 de junho a portaria que permite aos médicos prescreverem receitas de forma manual.