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PRR: um motor da transformação do setor da saúde?

O webinar que teve como objetivo debater as oportunidades e apoios que vão existir para as organizações do setor da saúde e como é que estas poderão ser o motor da transformação desse mesmo setor, juntou Miguel Guimarães, bastonário Ordem dos Médicos, Joaquim Cunha, Health Cluster Portugal, e Nelson Fontainhas, Partner, da Deloitte

A sessão, moderada por Carlos Cruz, partner e life sciences and health care leader da Deloitte, começou com a intervenção do keynote speaker, Diogo Serras Lopes, Secretário de Estado da Saúde que abordou os mecanismos disponíveis para o desenvolvimento de uma visão macro em saúde, e de Nuno Ferreira, associate partner, da Deloitte que também especificou alguns dos apoios que estão ao alcance do setor da saúde strictu sensu, incluindo tecnologias de saúde, mas também, por exemplo, a relevância da promoção e adoção de hábitos saudáveis num contexto em que se reconhece que a centralidade deve ser na saúde das pessoas a saúde.

Em resposta ao desafio de analisar o Plano de Recuperação e Resiliência, o bastonário da Ordem dos Médicos não pôde deixar de lamentar que se planeie de forma pouco consequente e sem o investimento adequado: “O PRR é para executar durante 5 anos, até 2016, o que significa 277 milhões de euros por ano”, ou seja, “menos de 2% da despesa pública anual”, um valor baixo e que, ainda por cima, não será para inovação: “O PRR é para aplicar ao que já estava em curso. Para reforço das reformas da saúde” algumas com 20 ou mais anos. Miguel Guimarães quer que se pense no que acontece aqui e agora pois “o maior desafio que a pandemia nos lança é a necessidade de fazer transformações na sociedade”, mas não apenas daqui a 20 anos: “É para começar já…” O representante máximo dos médicos define como “absolutamente lamentável” que este PRR não tenha em conta a importância dos incentivos e formação dos recursos humanos pois não tem dúvidas que “foi a qualidade dos nossos médicos e enfermeiros que nos fez dar a resposta que demos a esta pandemia, (…) não foram as paredes” ou os sistemas (que não temos) de telemedicina; Igualmente lamentável é que não exista verba alocada no PRR para a nova “pandemia que já existe neste momento: a da recuperação dos doentes não-COVID que ficaram para trás” com “quase 30 milhões de exames de diagnóstico que ficaram por fazer”, designadamente ao nível do rastreios do cancro. “Temos muito para recuperar” mas, para sermos eficazes, era preciso que este PRR alocasse uma verba específica. A forma como a tutela passou ao lado deste problema deixa o bastonário da OM naturalmente preocupado, levando a apelar à ação, agora.

Já Joaquim Cunha da Health Cluster Portugal lembrou a importância de criarmos um verdadeiro “ecossistema de inovação na saúde” pois, embora possa parecer que repetimos constantemente o mote da centralidade da saúde, temos que fazê-lo até que deixe de ser um chavão e se torne uma realidade. Porque a saúde “é um motor para a economia” facto que já faz parte, pelo menos, do “discurso de qualquer responsável político”. Para que esse desígnio se torna real Joaquim Cunha indicou as palavras de ordem: estratégia, visão global e integrada (pensar pelo menos em termos europeus) e massa crítica (juntando o melhor do que temos mas atraindo também o interesse estrangeiro), explicou.

Nelson Fontainhas, da Deloitte Portugal, líder de consultoria para o setor de Life Sciences & Health Care considera que são visíveis no PRR algumas das principais tendências que têm sido identificadas pela consultora, realçando a importância da transição digital e da disponibilização de novos serviços digitais para o cidadão, como exemplos. Por estarmos neste “momento único para uma geração”, Nelson Fontainhas defende que temos que “perceber se o PRR tem o nível de ambição e o poder transformador” necessários. Como ambição é preciso dar prioridade às tecnologias, mas também às pessoas e competências em tudo o que rodeia a saúde em Portugal, mas não só.

Os intervenientes concordam que a saúde é da maior relevância nomeadamente na área de intervenção relativa às vulnerabilidades sociais e que é um elemento decisivo na criação de condições para um desenvolvimento mais sustentável, sobretudo num contexto de profundas alterações demográficas, com o aumento da esperança média de vida e o consequente envelhecimento da população. Igualmente consensual é a preocupação de que este PRR possa não ser suficientemente ambicioso, ficando-se pela recuperação com potencial prejuízo da resiliência necessária para enfrentar o futuro…