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Programa de formação para atrair jovens médicos a zonas pouco populosas

O Governo, em parceria com a Ordem dos Médicos, vai lançar em 2024 um programa de formação partilhada para atrair jovens médicos aos hospitais de territórios pouco povoados, um modelo que atribuirá aos interessados benefícios salariais e de habitação, como forma de incentivo.

O programa chama-se “Mais Médicos” e aplicar-se-á às sete unidades hospitalares localizadas em Bragança, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Portalegre, Santiago do Cacém e Beja.

Na prática, o objetivo é conceder aos médicos “mais jovens” a possibilidade de trabalharem um período num hospital das zonas supracitadas e, outro, num hospital do litoral.

Ao Estado caberá premiar esta escolha, aumentando a remuneração dos médicos que optem por esta opção quando estiverem no hospital de uma zona de baixa densidade populacional.

Em causa estão especialidades como Medicina Interna, Cirurgia Geral, Anestesiologia, Ortopedia, Ginecologia/Obstetrícia, Pediatria e Radiologia, sendo que as especialidades de Psiquiatria e Psiquiatria da Infância e da Adolescência podem vir a ser incluídas no plano. O programa será adaptado à realidade e às necessidades de cada hospital.

Em declarações à comunicação social, Miguel Guimarães recordou que esta já é uma das batalhas da Ordem dos Médicos há vários anos.

“Este tipo de permutas já acontece em algumas especialidades durante o internato médico. O médico que está a fazer a formação especializada num hospital principal numa grande cidade pode fazer uma parte dessa formação, seis meses a um ano, numa zona periférica. E o inverso também acontece”, relembrou.

Porém, o bastonário admite que ver este tipo de programa alargado a mais especialidades e com vantagens para os médicos só pode, por isso, ser um motivo de satisfação: “Existe uma vantagem imediata na formação dos médicos, que têm oportunidade de ter uma experiência diferente, e, depois, quem vai para uma região mais periférica pode perceber que essa é uma boa saída, que pode ser uma hipótese de futuro”, diz o bastonário.

Algo que seria essencial para colmatar a falta de médicos em diversas regiões.

O ministro da Saúde mostrou-se otimista no sucesso desta ideia, relembrando que este terá de ser um processo “continuado ao longo do tempo” porque “não se resolve em 2024 défices acumulados ao longo de décadas”.

“Isso seria irrealista”, reiterou Manuel Pizarro, acrescentando que este programa que junta o Estado e a Ordem dos Médicos “vai resolver o problema a médio prazo”.

O primeiro passo é positivo, mas Miguel Guimarães relembra que o desafio é enorme e não pode só ficar pelo nível da formação.

“É importante levar a que os médicos, quando já são especialistas, queiram ir trabalhar para uma região mais periférica, mas para isso tem de haver, de facto, uma política de incentivos diferente da que tem existido até agora”.

O bastonário afirmou que muitas das medidas possíveis de servirem como incentivos aos médicos estão incluídas no programa “Mais Médicos”, no entanto, “é preciso esperar para ver quanto é que o Governo está disposto a investir”, sublinhou o representante dos médicos. “Uma coisa é o que se anuncia, outra coisa é aquilo que será.”

O programa arranca no início de 2024, que é quando começa o próximo processo de formação de especialistas.

No dia 22 de janeiro, numa entrevista ao Jornal de Notícias, o diretor-executivo do SNS, garantiu que pretende “valorizar pagamentos de acordo com a distância relativamente aos grandes centros.” Fernando Araújo explicou que para “cativar médicos” para o interior do país, “não é possível pagar o mesmo valor em Lisboa ou em Beja porque as pessoas não vão para Beja. Neste momento, existe esse problema real nesse sentido”, concluiu.