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Prémio Bial distingue investigação sobre autismo

Na passada quarta-feira, dia 8 de fevereiro, realizou-se a Cerimónia de Entrega do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

O prémio, no valor de 100 mil euros, foi atribuído ao médico e investigador Miguel Castelo-Branco por 15 anos de trabalho sobre o autismo. O vencedor é, ainda, docente da Universidade de Coimbra, onde coordena o Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional.

Sendo pai de jovem com autismo, Miguel Castelo-Branco tem testado, a par dos medicamentos, o uso de jogos de realidade virtual para “melhorar as competências sociais e de regulação emocional” de crianças e jovens autistas – depois de ter identificado “marcadores neurobiológicos” do autismo (que variam de pessoa para pessoa).

“Alguns ensaios clínicos mostraram a melhoria do humor, da ansiedade e da capacidade de reconhecer emoções faciais, em particular o medo”, revelou em declarações à agência Lusa.

Segundo Miguel Castelo-Branco, existem “características estruturais do cérebro ou padrões diferentes de atividade do mesmo” que “estão na base de um perfil de comportamento diferente, em que a comunicação verbal, as emoções e a capacidade de interagir socialmente estão modificadas”.  Contudo, estas características, próprias de perturbações como o autismo, “são muito diferentes” entre pessoas, obrigando a “ajustar individualmente” as terapêuticas.

O uso de jogos imersivos pode ser acompanhado pelo “registo simultâneo de biosinais de atividade do cérebro, ritmo cardíaco”, permitindo ter “melhor ideia do estado cognitivo” das crianças e jovens e “dar ‘feedback’ desses sinais”, explicou o investigador.

O júri do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022, que distinguiu “Os desafios da neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo”, foi presidido pelo patologista Manuel Sobrinho Simões. O Presidente do Júri destacou o “percurso de vida” de Miguel Castelo-Branco “dedicado à investigação, alicerçado na [sua] história pessoal”, que “contribuiu substancialmente para a compreensão da dualidade saúde/doença, permitindo o desenvolvimento de tratamentos personalizados de forma a melhorar competências sociais e de regulação emocional no autismo”.

Miguel Castelo-Branco já havia recebido o Prémio Bial de Medicina 2008 na sequência da sua investigação sobre a deteção das doenças de Alzheimer, Parkinson e glaucoma em fases muito precoces.

A Fundação Bial atribuiu, ainda, duas menções honrosas, no montante de 10 mil euros cada, à neurocirurgiã Cláudia Faria (Hospital de Santa Maria de Lisboa), pelo estudo de tratamentos personalizados para tumores cerebrais, e ao cardiologista Albertino Damasceno (Hospital Central de Maputo), pela coordenação de um trabalho ao longo de 25 anos sobre a hipertensão arterial na população moçambicana.