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Podemos trabalhar? – comunicado da Ordem dos Médicos

Podemos trabalhar?
Comunicado da Ordem dos Médicos
É de perder completamente a paciência.
A SPMS refere que são as “dores de crescimento” do sistema de prescrição electrónica de medicamentos (PEM) com a desmaterialização do receituário. Falácia, porque quem sofre as dores são os médicos e os doentes e não a SPMS!
As sucessivas falhas e erros da PEM colocam em causa a segurança dos doentes no acto da emissão e renovação de receituário e, muitas vezes, impedem a sua dispensa na farmácia, obrigado os doentes ou os seus familiares a efectuarem mais deslocações e a perder tempo e dinheiro.
A Ordem dos Médicos exige saber quem foi o responsável pelo acelerar da desmaterialização da prescrição médica, sem as adequadas condições estarem reunidas, com todo o cortejo de consequências negativas e intensas ‘dores de crescimento’ que daí advieram. É altura de dizer basta!
É inacreditável o número de dias em que a PEM não funciona convenientemente, provocando enormes perdas de tempo e contribuindo para a desmotivação e o desnecessário cansaço dos médicos. São inaceitáveis as permanentes alterações da PEM, sem pré-aviso e sem informação nem formação dos profissionais. Cada alegada melhoria da PEM é precedida de um tremendo calvário. Os Médicos voltaram a ter de prescrever à mão, sem acesso ao histórico do doente e sem acesso a receitas triplas, agravando o trabalho e aumentado a possibilidade de erro! Por favor, não inventem mais funcionalidades, ponham apenas a PEM a trabalhar normalmente, ou então vão para casa e não infernizem mais a vida de quem quer cumprir a sua missão e ter tempo para os seus doentes!
Recentemente, um jovem especialista de Medicina Geral e Familiar que recusou concorrer a um lugar no SNS, optando por outra via profissional, afirmou que a razão residia na sua vontade em “não estar para aturar aqueles ‘palermas’”. Referia-se a todos aqueles que, no SNS e nas estruturas do Ministério da Saúde, têm transformado o dia a dia médico num inferno de burocracias, desmoralização, desumanização, falhas informáticas, perdas de tempo, faltas de material, obsessão de indicadores estatísticos sem quaisquer ganhos em Saúde, indefinição quanto ao futuro, pressões de redução de tempos de consulta, falta de tempo para os doentes, persistência de problemas da rede informática da saúde em muitos locais (como a Unidade de Alcoologia de Coimbra, por exemplo, que tem uma situação dramática), trabalho extra sem remuneração, etc., etc..
Repare-se que os médicos apoiam a informatização da saúde, mas exigem que seja feita por gente competente e empenhada! Que facilite em vez de complicar! Que não dê passos maiores do que a perna! Que vise melhorar a resposta e a segurança do SNS e não apenas produzir estatísticas, policiar o trabalho dos médicos e bombardeá-los com janelas de pop-up a que já ninguém liga. Depois querem objetivos? Contratualização? Cumprimento no horário de consultas agendadas? Como?!
Ontem mesmo os médicos receberam esta mensagem: “Desativação da funcionalidade de consulta das ‘Prescrições Anteriores’; – Impossibilidade de envio de SMS aquando a emissão de uma Receita Sem Papel, tendo obrigatoriamente de ser disponibilizado o Guia de Tratamento ao utente. O Guia de Tratamento será disponibilizado sob a forma impressa ou através do envio de e-mail. Mais informamos que as funcionalidades supra identificadas serão repostas mal nos seja possível garantir a totalidade da estabilidade dos serviços centrais. Lamentamos todos os incómodos causados e encontramo-nos ao dispor para qualquer esclarecimento adicional.”. A SPMS não faz a mínima ideia do desastre que representa para uma consulta médica não ter acesso à informação anterior do doente?! É impossível trabalhar assim!
Esgotada a paciência, a Ordem dos Médicos reclama respeito pelos médicos e pelos doentes.
Senhor Ministro da Saúde, basta! Exigimos que alguma coisa aconteça!
Aguardamos com (muita) impaciência.
Ordem dos Médicos, Lisboa 21 de Setembro de 2016