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Pandemia: profissionais deixaram de ser ouvidos

Os números preocupantes de novos casos de infeção por SARS-CoV-2 a que assistimos nas últimas semanas, sobretudo na Grande Lisboa, mas não só, resultam da incapacidade de antecipação, que a autoridade nacional de saúde tem revelado nesta fase de desconfinamento. Para o bastonário da Ordem dos Médicos, “é urgente antecipar e não correr atrás do prejuízo, o que implica ter a humildade de ouvir os profissionais de saúde agora, como foi feito no início”.
“É verdade que muito do plano de combate à pandemia e das medidas que foram sendo tomadas acabaram por seguir os apelos da sociedade civil. Nessa altura os profissionais foram ouvidos, nomeadamente especialistas que estão no terreno e integram o gabinete de crise da Ordem dos Médicos. Agora, numa fase tão delicada como o desconfinamento, houve um excesso de otimismo e uma incapacidade de antecipar as medidas preventivas necessárias em função da evolução da pandemia”, afirma Miguel Guimarães.
“Os especialistas, sobretudo aqueles que estão no terreno, deviam ter sido ouvidos mais cedo naquilo que eram recomendações importantes, por exemplo sobre as viagens aéreas, os aeroportos, os transportes, os ajuntamentos… A comunicação também devia ser mais clara e centrada nos aspetos técnicos e científicos, deixando as considerações políticas para os políticos”, reforça o bastonário, defendendo que “os portugueses souberam reconhecer numa sondagem que os profissionais de saúde foram os que estiveram melhor no combate à pandemia e que era importante o poder político acompanhar este apelo”.

Na sondagem mencionada pelo bastonário as hipóteses eram várias: Primeiro-Ministro, Presidente da República, Ministra da Saúde, Diretora-Geral da Saúde, Serviço Nacional de Saúde ou Profissionais de Saúde. Os portugueses não hesitaram e elegeram os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e outros profissionais) como os que estiveram melhor no combate à pandemia da COVID-19, segundo indica a sondagem realizada pela Intercampus, para o Jornal de Negócios e Correio da Manhã.
Aos inquiridos foi perguntado “Quem esteve melhor e pior no combate ao coronavírus?” e a resposta podia ser “menos bem”, “bem”, “muito bem” ou “não sabe/não responde”. Em relação aos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e outros profissionais), 77% deram a classificação máxima (muito bem) e 21% escolheram “bem”, o que perfaz um total de 98% de avaliações positivas. Os profissionais de saúde foram, aliás, os únicos a merecer a nota máxima de forma tão expressiva.
“Esta é a melhor homenagem que podíamos receber à nossa capacidade técnica e competência, mas também à dedicação, resiliência, humanismo e solidariedade. É uma sondagem que nos deixa orgulhosos, sobretudo em tempos tão difíceis, e não podia deixar de saudar todas as pessoas que fazem o nosso país pelo respeito e consideração demonstrados”, comenta o bastonário da Ordem dos Médicos.
“A sondagem é mais um sinal do que os portugueses querem e esperam do poder político que, infelizmente, não tem valorizado os profissionais que todos os dias constroem e fazem a saúde e o SNS. Isso viu-se em momentos especiais, como o Dia do Médico ou nas cerimónias fúnebres do médico que recentemente morreu com COVID-19”, acrescenta Miguel Guimarães.
Ainda segundo a sondagem, mesmo o SNS, que recebeu a segunda maior taxa de resposta de “muito bem”, só obteve 32%. O “bem” fixou-se nos 56%, perfazendo um total de 88% de reconhecimento ao trabalho das unidades de saúde.
O terceiro lugar foi para o Primeiro-Ministro, com 27% de “muito bem” e 58% de “bem” (total de 85% de avaliações positivas). O Presidente da República surgiu em quarto lugar, com um total de 81% de avaliações positivas (27% muito bem e 54% bem).
Em quinto lugar os portugueses colocaram a Ministra da Saúde, com 21% de “muito bem” e 51% de bem (total de 72%). O último lugar coube à Diretora-Geral da Saúde, que recolheu apenas 18% de “muito bem” e 47% de “bem”, num total de 65%.

O trabalho da Intercampus decorreu entre 9 e 13 de junho. O inquérito foi feito por telefone a 610 pessoas, numa amostra representativa da população portuguesa. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de ± 4,0%. A taxa de resposta foi de 62%.
Lisboa, 27 de junho de 2020