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Ordem lamenta que ministra esconda realidade do Algarve

Não me parece que haja falta de médicos no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (…). Os números são públicos sobre aquilo que são os profissionais de saúde que existem no Serviço Nacional de Saúde e concretamente nesses hospitais”. Esta foi a declaração feita na sexta-feira pela ministra da Saúde, na sequência dos problemas relatados em algumas unidades hospitalares, nomeadamente no Algarve.

Perante esta afirmação falsa a Ordem dos Médicos não podia deixar de repor a verdade. Até porque o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, esteve na quinta-feira no Hospital de Faro (Centro Hospitalar Universitário do Algarve, CHUA), onde há poucos dias a urgência foi assegurada com um único cirurgião e onde as escalas das próximas semanas têm períodos sem nenhum médico. Os problemas relatados foram transversais a várias especialidades e, mesmo assim, há médicos que querem entrar para o quadro do CHUA e que aguardam concurso ou autorização do Ministério da Saúde e do Ministério das Finanças há longos meses.

De acordo com os números da própria Administração Central do Sistema de Saúde, que constam do último balanço social publicado, o CHUA é o centro hospitalar do país com maior volume de horas de prestação de serviços médicos, com 238.706 horas em 2018. Na despesa com a prestação de serviços médicos o CHUA volta a ocupar o primeiro lugar, com 8,3 milhões de euros.

Além disso, os médicos fizeram ainda 223.348 horas extraordinárias em 2018, um aumento de 8% em relação a 2017. De resto, a região tem 2,4 médicos por 1000 habitantes. Só o Alentejo tem menos. A média nacional é de 2,9 no Serviço Nacional de Saúde.

Porquê tantas horas extraordinárias e tantos milhões de euros em prestação de serviços médicos? Porque faltam objetivamente médicos, muitos médicos, em muitas especialidades. E as condições de trabalho não dignificam nem os doentes nem os profissionais de saúde.

“Se estes números não são suficientes para a ministra da Saúde reconhecer a grave carência que afeta o Algarve e que deveria ser prioridade nacional, convém então que a tutela explique tempos de espera inaceitáveis, que deixam as pessoas sem acesso a cuidados de saúde em tempo adequado”, refere o bastonário da Ordem dos Médicos. Miguel Guimarães destaca que no Algarve um doente tem de esperar, por exemplo, quase 1400 dias por uma consulta prioritária de ortopedia. No caso da pneumologia são necessários 718 dias, 663 dias na urologia, 269 na neurocirurgia, etc. Para as cirurgias o cenário não é melhor, com esperas de 248 para neurocirurgia, 195 para oftalmologia, 185 dias para otorrinolaringologia, 160 para urologia, e 132 dias para ortopedia.

Chega de tentar iludir os cidadãos através da propagação de falsas notícias. Se em vez de negar a realidade a tutela assumisse os problemas existentes, o SNS e os seus profissionais sentir-se-iam, pelo menos, mais respeitados.

Lisboa, 07 de dezembro de 2019

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