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Ordem e sindicatos médicos manifestam “indignação” com falhas no processo de vacinação

Em conferência de imprensa conjunta, a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), manifestaram “indignação” e “revolta” devido às incongruências no processo de vacinação.

Recorde-se que o Ministério da Saúde anunciou que iria arrancar a primeira fase do Plano de Vacinação COVID-19 com os médicos e profissionais de saúde, cumprindo as normas da União Europeia. Anunciou também a intenção de vacinar todos os profissionais de saúde na primeira fase. Passado um mês, ainda estamos muito longe de cumprir esse objetivo.

O bastonário da Ordem dos Médicos confessou a sua preocupação com o facto da maior parte dos médicos e restantes profissionais de saúde ainda não terem sido vacinados. Tal facto, salientou, “gera nos médicos um sentimento de revolta e indignação”, numa altura em que o Governo já anunciou que vai avançar com a vacinação de novos grupos.

Solidário com as centenas de mensagens que tem recebido dos seus colegas, Miguel Guimarães frisou que “é fundamental garantir que as pessoas que cuidam de todos nós também sejam cuidadas”. E isso, alertou, não se faz com finais da Liga dos Campeões, prémios de Fórmula 1 ou épocas natalícias sem restrições.

O que está em causa é que “por cada médico infetado ou com contacto de alto risco”, ficam por realizar consultas, cirurgias e exames complementares de diagnóstico, bem como aumenta exponencialmente a pressão sobre um serviço de saúde já com escassez de recursos humanos no SNS.

“Não vacinar os médicos é condenar os doentes a ficarem sem acesso a cuidados de saúde”, avisou o bastonário, acrescentando que para a Ordem dos Médicos é muito importante tratar os doentes COVID, mas também os chamados doentes não-COVID, “sobretudo os mais prioritários”.

Neste momento, de acordo com dados adiantados na conferência de imprensa, menos de 10% dos médicos que trabalham fora do SNS receberam a primeira dose da vacina. Já no SNS são apenas 30% aqueles que estão vacinados. “Temos de exigir a execução de um plano transparente e claro”, disse Miguel Guimarães. “Temos de exigir a quem está a liderar a saúde em Portugal” uma forma de comunicar “clara” e “transparente”, pois foi “a má comunicação que nos levou onde estamos hoje em dia”. O bastonário falava de uma comunicação “centrada na verdade” e que contribua para aquilo que precisamos: “união no combate à COVID-19 e às outras doenças”. Mas, garantiu, isso tem de ser feito de forma “séria, organizada e planeada”.

“Enquanto bastonário não posso tolerar desrespeito”, “os corajosos são os médicos (…) as pessoas que estão a tratar dos doentes no terreno”, enalteceu. Miguel Guimarães lamentou que estas (não) decisões de quem decide em Portugal façam transparecer que além deste país não ser para velhos, “também não é para profissionais de saúde”. “Os médicos são alvo de desprezo e até de humilhação por quem está a gerir o país. Não podemos aceitar esse desprezo e vão ser utilizados todos os meios possíveis para defender os profissionais de saúde”, terminou de forma perentória.

Noel Carrilho da FNAM confessou um enorme “espanto” ao constatar “que não tem havido critérios necessários para preservar o recurso escasso que é a vacina”. “Esta preocupação estende-se para os médicos e profissionais de saúde do publico, privado e social”, esclareceu. “Sabemos de casos em que não foram tomados esses critérios em consideração e foram vacinadas pessoas sem essa prioridade”, acrescentou.

Da parte do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha mostrou-se indignado com a gestão unilateralmente política da distribuição das vacinas. O líder do SIM deu como exemplo a situação conhecida publicamente do presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz que terá sido vacinado sem estar incluído em qualquer grupo prioritário.

“É perfeitamente lamentável o aproveitamento político que a ministra da Saúde e o Governo têm tido. Os profissionais de saúde têm que ser vacinados. Já tivemos três mil médicos infetados”, referiu Jorge Roque Cunha. Se não o fizermos, “não estamos a proteger os médicos, nem as nossas populações”, concluiu.

 

Veja aqui o comunicado da OM, SIM e FNAM de dia 27/01/2020