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Ordem dos Médicos ouvida no Parlamento

No dia 31 de janeiro, na Comissão Parlamentar de Saúde, realizaram-se audições a várias entidades do setor. O requerimento que esteve na base das audições, pretendia iniciar um processo de reflexão que contribuísse para o desenvolvimento e implementação de uma estratégia que mude o paradigma organizacional dos cuidados agudos ou agudizados em Portugal.

As questões relacionadas com os constrangimentos vividos nas urgências e a falta de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) estiveram no centro das questões dirigidas ao bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Questionado sobre os elevados tempos de espera nos serviços de urgência vividos, atualmente, no SNS, Miguel Guimarães apontou a falta de literacia em saúde como um fator muito relevante, alertando, no entanto, que, muitas vezes, apesar de os utentes se dirigirem corretamente aos cuidados de saúde primários, não existe resposta nos mesmos.

“É necessário educar a população sobre o uso correto dos serviços de saúde, principalmente, do serviço de urgência. Não deveria ser a primeira porta de entrada no SNS, como acontece atualmente, visto que esse é o papel dos serviços de saúde primários”. Mas adiciona, “o hábito de procurar os cuidados de saúde primários está a perder-se, uma vez que também existe falta de recursos de humanos, logo não existe resposta”, explicou.

Ainda sobre um novo modelo de referenciação das urgências, o bastonário acredita que o atual modelo de triagem (sistema de triagem de Manchester) precisa de ser atualizado. “É importante perceber se é necessário adaptar este sistema ao tipo de doente e ao tipo de doença”, bem como “haver uma maior integração entre o INEM e os vários serviços de urgência do país”, reiterou.

Para Miguel Guimarães é preciso, também, olhar para a organização dos serviços hospitalares. Em primeiro lugar, é necessário “entender qual é a capacidade de resposta de todos os hospitais, em termos de recursos humanos e em termos de organização das várias áreas das especialidades”. Uma vez questionado sobre se o modelo de Organização Regional da Zona Metropolitana do Porto, – o qual tem apresentado bons resultados – pode ser implementado em Lisboa, o bastonário acredita que é possível, mas numa versão adaptada.

“A concertação dos recursos efetuada no Porto, pode ser efetuada em Lisboa, não da mesma forma, tendo conta fatores como a dimensão da população. Não pode ser feito nos mesmos moldes, mas pode ser feito num modelo adaptativo”, elucidou.

O representante dos médicos defendeu, uma vez mais, que a única forma de resolver a crise que se vive no SNS, passa, inevitavelmente, pela valorização da carreira médica. Sobre medidas futuras, Miguel Guimarães acredita que o regresso à dedicação exclusiva opcional “pode ser uma boa solução”, visto que também os médicos procuram estabilidade profissional e, consequentemente, familiar.

Os maiores grupos parlamentares prestaram, nesta ocasião, palavras de agradecimento ao trabalho efetuado pelo bastonário da Ordem dos Médicos ao longo destes seis anos e dois mandatos. A consciência de que a sua atuação foi sempre pautada pelo melhor interesse dos doentes foi reconhecida pelos deputados.

Nas audições foram, ainda, ouvidos os presidentes dos Colégios da Especialidade de Medicina Geral e Familiar, Medicina e Pediatria, o presidente da Competência em Emergência, o Presidente da Associação Nacional de Administradores Hospitalares, o Presidente da Associação Nacional de Administradores Hospitalares Privados, Óscar Gaspar, o Presidente da União das Misericórdias Portuguesas e o Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social. O bastonário esteve acompanhado por Rubina Correia, membro efetivo do Conselho Nacional da OM.