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Missão bem sucedida, mas é preciso não esquecer a Beira

Já regressou a Portugal o grupo de médicos voluntários que esteve na cidade da Beira – Moçambique, numa missão promovida pela Health4Moz  em colaboração com a Ordem dos Médicos. Os médicos regressaram exaustos, mas felizes, por sentirem que conseguiram fazer uma grande diferença: implementaram mudanças estruturais em alguns Serviços do Hospital Central da Beira, elaboraram protocolos clínicos, realizaram diversas intervenções cirúrgicas e ações de formação em infeciologia, investigação em saúde, segurança alimentar e controlo de infeção. Todo este trabalho foi diretamente coordenado com os colegas e estruturas locais. Agora é preciso continuar a ajudar e não esquecer a Beira …

Durante o mês de maio, em estreita colaboração com a Administração do Hospital Central da Beira (HCB), com os Diretores de Serviço e com os colegas, a equipa #unidospelabeira (Health4moz – Ordem dos Médicos) promoveu a implementação de mudanças estruturais em alguns serviços hospitalares, elaborou protocolos clínicos e realizou diversas intervenções cirúrgicas. Muito embora fosse sempre privilegiada a formação e troca de experiências ombro-a-ombro, foram também realizadas ações de formação na área da infecciologia, da investigação em saúde e da segurança alimentar e controlo de infeção, entre outras. 

Tratou-se de uma missão planeada para intervir numa fase de recuperação e reconstrução, tendo a equipa trabalhado em estreita parceria com a Direcção Clínica, a Direcção Pedagógica e Científica e os profissionais do HCB. Uma excelente planificação da missão e uma enorme receptividade no terreno permitiram a realização de trabalho clínico em colaboração com os profissionais do HCB, mas sobretudo uma forte aposta no lançamento de bases sólidas para a reorganização dos serviços, a planificação da assistência médica e medicamentosa e a formação. Como explicou aos jornalistas a chefe de missão Fernanda Santos: “o saldo foi muito positivo: cumprimos o que queríamos e mais o que não pensávamos conseguir! (…) O Hospital Central da Beira está muito mal, a maioria dos serviços está destruído”. A Health4Moz assumiu a tarefa da reconstrução do hospital e as obras já tiverem início a 16 de maio, em três pavilhões definidos como prioritários – o bloco cirúrgico, o mais atingido pelo ciclone, o banco de sangue e a imagiologia. A recuperação da totalidade do HCB será feita por fases, pois deverá ocorrer sem prejuízo da assistência a todos quantos recorrem ao hospital. Importa dizer que o HCB é o segundo maior hospital do país, é um hospital quaternário e serve 4 províncias e cerca de 8 milhões de habitantes.

Neste momento, dois meses após a tragédia, as condições são muito más, há falta de material nomeadamente material cirúrgico e consumíveis, e a maioria do hospital não tem abastecimento regular de água. Os médicos que se voluntariaram para esta missão contam como tiveram de trabalhar com água levada em bidões e como procuraram minimizar as carências de quase tudo.

“O mundo parece ter esquecido a tragédia”, lamentaram os médicos que estiveram no terreno, alertando que é preciso que continuemos a ajudar Moçambique. A catástrofe natural atingiu cerca de um milhão e meio de pessoas e estima-se em cerca de 3 mil milhões de euros (número avançado pela Conferência Internacional de Doadores) o valor necessário para fazer face a todas as dificuldades e destruição que o povo moçambicano ainda enfrenta, dois meses depois da passagem do ciclone.

“Não podemos esquecer a Beira. As pessoas esqueceram um bocado, passou a fase da emergência e aquilo que ficou depois da emergência é tão ou mais preocupante e importante como aquilo que aconteceu na fase de emergência”, explicou à Lusa a médica Fernanda Santos.

A equipa que agora regressou a Portugal foi composta por dois infeciologistas, dois pediatras, um cirurgião, três médicos de Saúde Pública e dois enfermeiros, e trás consigo a satisfação de missão cumprida com excelência, muito embora com o sentimento de que muito mais haverá para fazer! Trás também o reconhecimento pelo trabalho realizado, manifestado pessoalmente por todos os colegas com quem colaboraram mas também pela Direcção do Hospital que, publicamente, fez questão de lhes atribuir um “Certificado de Reconhecimento”. Finalmente trás o conforto de ter deixado no terreno algumas mudanças implementadas e um acréscimo de conhecimento, que certamente será uma mais-valia para uma melhor saúde para o povo de Moçambique, em particular da cidade da Beira.

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