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Ministra demissionária “não conseguiu encontrar soluções para resolver os problemas do SNS”

Marta Temido acaba por pedir a demissão por não ter conseguido “encontrar soluções para resolver os problemas gravíssimos que temos atualmente no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, considerou Miguel Guimarães algumas horas depois de ser tornada pública a decisão da ministra demissionária.

Para o bastonário da Ordem dos Médicos, a demissão da ministra não resolve os vários problemas que o SNS está a enfrentar. “O PS, que tem até maioria parlamentar, tem uma política de saúde que está definida no seu programa de ação, que os portugueses votaram, e que é uma política que está a conduzir aos resultados que vemos atualmente. São resultados complicados, como aliás a Ordem tem vindo a chamar a atenção há vários anos”, afirmou à CNN Portugal. “Não penso que seja propriamente a mudança de ministro que garante a mudança de políticas. Esperamos que sim. Esperamos que a política possa adaptar-se mais ao que é a realidade atual, às necessidades prementes na área da saúde, seja em capital humano seja num novo modelo de gestão que permita mais autonomia e capacidade de resposta”, acrescentou.

Avaliando as políticas e as decisões que se tomaram para os portugueses durante o percurso de Marta Temido enquanto ministra da Saúde, o bastonário referiu que, em termos da saúde global e do SNS em particular, “ficou muito, para não dizer que ficou quase tudo, por fazer para podermos dar a melhor resposta aos portugueses”.

Para o representante dos médicos é preciso agora “um ministro (ou ministra) que faça acontecer e que resolva os problemas que afetam a saúde em Portugal”.

Novo Rumo?

— Artigo de Opinião do bastonário da Ordem dos Médicos, publicado no jornal Correio da Manhã no dia 01/09/2022 —

A demissão da ministra da Saúde Marta Temido por não ter “mais condições” deve ser motivo de reflexão. A ministra não tem condições e decide sair. Pensem agora naqueles que todos os dias fazem acontecer o SNS. Os médicos e os profissionais de saúde. Aqueles que lutam para salvar vidas. Que fazem milhões de horas extraordinárias. Que são vítimas de violência no local de trabalho. Que são afetados por burnout e sofrimento ético. Que denunciam situações em que as condições de trabalho não são adequadas. Que pedem ajuda que não lhes é concedida. Que acabam por funcionar como “escravos” do sistema. Que têm responsabilidade disciplinar, civil e penal no exercício da sua profissão. E se todos estes médicos e profissionais de saúde decidirem também sair por não terem condições de trabalho? Quem salva o SNS? A saída da ministra da Saúde revela a instabilidade da ausência de uma estratégia e um plano objetivo para a Saúde do país. Precisamos de um novo rumo. Um rumo que possa unir, valorizar e concretizar. Esta demissão pode constituir uma oportunidade de reforma e mudança nas políticas de saúde. Caso o Primeiro-Ministro não insista nos erros que nos conduziram à situação atual. Aguardemos.