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Memorando doenças hepáticas|tratamento da Hepatite C

Carta enviada ao Infarmed resultante da reunião desse organismo com a DIREÇÃO DA SUBESPECIALIDADE DE HEPATOLOGIA (RUI TATO MARINHO, BEATRIZ RODRIGUES)

MEMORANDO DOENÇAS HEPÁTICAS / TRATAMENTO HEPATITE C

Introdução
As doenças do fígado são causa de sofrimento de muitos portugueses
As doenças do fígado são uma das cinco principais causas de mortes precoces em Portugal
As doenças do fígado são a sétima causa de morte em Portugal
As causas principais são o excesso de álcool, a hepatite C e o carcinoma hepatocelular
A hepatite C afecta cerca de 100.000 portugueses
A idade média daqueles que necessitam tratamento ronda os 40-50 anos
Cerca de 60% dos consumidores de drogas por via intravenosa poderão estar infectados
A hepatite C, em cerca de 30-40% dos casos, evolui de forma silenciosa para cirrose hepática e
carcinoma hepatocelular
A hepatite C tem cura, com os novos medicamentos, em cerca de 90% dos casos

Felicitamos
Assembleia da República – Aprovação em 10 de janeiro com 96% de votos a favor de Projecto de
Resolução sobre doenças hepáticas (hepatite C, álcool, transplante hepático, cuidados paliativos,
recursos humanos em hepatologia).
Governo – Aprovação da comparticipação do medicamento Boceprevir, mais eficaz em cerca de 30-
50% do que os medicamentos anteriores.
Infarmed – Criação nos finais de 2013 de grupo sobre terapêutica da hepatite C na Comissão
Nacional de Farmácia e Terapêutica. O termos sido recebidos pelo Presidente do Infarmed e a sua
postura de colheita de informação e de diálogo.

Não estamos de acordo
Com a aprovação tardia de um novo grupo de medicamentos, dos quais o Boceprevir faz parte. A
Europa e os EUA já os tinham aprovado em 2011. Portugal aprova em 2014. Espanha tratou com
estes medicamentos cerca de 8.000 doentes, Portugal apenas 200.
Nos finais de 2013 e início de 2014 os EUA aprovaram um novo grupo de medicamentos para a
hepatite C (Sofosbuvir, Simeprevir, Daclatasvir) que dispensa na grande maioria dos casos o uso de
injecções com muitas reacções adversas. A eficácia destes é cerca do dobro dos anteriores, com
encurtamento para metade ou mais do tempo de tratamento, com escassas reacções adversas.
Chamamos a atenção para o facto de que as novas guidelines da American Association for the Study
of the Liver e as alemãs, não recomendam e mesmo desaconselham o recurso à terapêutica tripla
que inclui Boceprevir e Telaprevir.

Esperamos
Maior atenção e investimento para todas as facetas das doenças do fígado pelo Estado Português
Maior investimento: em 2012 foram gastos em tratamento para a hepatite C 6 milhões de Euros.
Para a infecção VIH mais de 214 milhões, para as doenças reumáticas 70 milhões, para a esclerose
múltipla 31 milhões; para a acromegália e para o uso de hormona de crescimento o mesmo que para
a hepatite C. As doenças têm sido abordadas de forma desigual, muitas vezes seguindo os grupos de
pressão.
Pensamos que é possível alocar mais recursos à hepatite C e às doenças hepáticas no geral. O
impacto da hepatite C e do carcinoma hepatocelular vai aumentar em Portugal de forma inequívoca
de acordo com as projecções nacionais e internacionais. Os doentes com hepatite C a necessitar
tratamentos têm cerca de 40-50 anos. Portugal enfrentou muito bem e atempadamente a questão
da toxicodependência, o problema do VIH, a mortalidade infantil, o transplante hepático e a
mortalidade na estrada (mais recentemente). Não há razão para não o fazer agora. Há desperdício
no investimento no final de vida (falta reforçar a ideia do testamento vital), em oncologia, no pedido
de meios complementares de diagnóstico de forte pendor tecnológico (análises e outros), na falta de
forte investimento em cuidados paliativos, entre outros.

Ivan Gardini, European Liver Patients Association Vice-President stated that “governments need to
work together with industry, patients and all other stakeholders to ensure that innovative drugs have
reasonable costs and are delivered to all patients living with hepatitis C. No innovation in treatment
for hepatitis C can be considered such if only a few patients have access to it”.

Pel’A Subespecialidade de Hepatologia
O Presidente
Prof. Doutor Rui Tato Marinho