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Médicos fizeram 4,4 milhões de horas extraordinárias até setembro

Em apenas nove meses, entre janeiro e setembro de 2021, os médicos fizeram mais de 4,4 milhões de horas extraordinárias no Serviço Nacional de Saúde, de acordo com os dados disponibilizados esta semana pela Administração Central do Sistema de Saúde ao jornal Público.

O recurso excessivo ao trabalho suplementar era já uma prática corrente antes da pandemia, altura em que os médicos realizavam mais de 6 milhões de horas extraordinárias todos os anos. Agora, com a COVID-19, esse valor disparou, com o valor de 4,4 milhões de horas a ser atingido quando ainda faltam contabilizar os últimos três meses do ano.

O recurso excessivo ao trabalho suplementar é um sinal claro de que o Serviço Nacional de Saúde precisa de reforço urgente, e tem também sido motivo de preocupação para o bastonário da Ordem dos Médicos. Miguel Guimarães tem vindo a alertar, por diversas vezes, para o burnout e sofrimento ético que esta situação acarreta junto dos médicos, com prejuízo tanto para os clínicos como para os doentes.

Os valores avançados pela ACSS comprovam que os médicos são a classe profissional que mais horas suplementares faz per capita, ainda que em termos brutos os enfermeiros registem este ano mais horas, o que se deve ao facto de estarem em maior número do SNS e ao trabalho nos centros de vacinação, valorizado muitas vezes em pagamento suplementar.

Aliás, olhando para os dados publicados regularmente pela Direção-Geral da Administração e do Emprego Público é possível perceber que os médicos estão no topo das profissões em que o trabalho suplementar mais pesa no total da remuneração, apenas superados pelos diplomatas e bombeiros/polícia municipal.

A este valor do trabalho suplementar é preciso somar ainda as horas contratadas a empresas prestadoras de serviços médicos e que reforçam as carências sentidas no sistema público. A ACSS disponibilizou dados também de janeiro a setembro, mas sem discriminar a divisão das mesmas. Mesmo assim, há a contabilizar 3,6 milhões de horas, que representaram uma despesa de mais de 105 milhões de euros.