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Juramento de Hipócrates em Coimbra – “O mais importante é recuperar as pessoas”

Numa cerimónia sempre comovente para os médicos e as suas famílias, por representar o fim de uma etapa de grande esforço e empenho, 184 jovens juraram, no passado sábado, dia 7, em Coimbra, dedicar a sua vida a servir os doentes e a defender a qualidade da medicina.

Neste Juramento de Hipócrates, as primeiras palavras do bastonário da Ordem dos Médicos foram precisamente para as famílias que “suportaram verdadeiramente a formação dos médicos, financeira e emocionalmente”. Miguel Guimarães disse aos jovens médicos que escolheram “a profissão mais desafiante, mas simultaneamente” mais bonita de todas, recordando que em todos os momentos da vida que os espera estarão a servir a causa pública. Depois, o bastonário pediu aos novos médicos que, perante as dificuldades que encontrarão no SNS, nunca se desviem do que os levou a escolher medicina.

Para o governo, reiterou o apelo à valorização dos profissionais: “o mais importante é recuperar as pessoas para que continuem a acreditar e a apostar no SNS”. Sobre a recente posição do Ministério da Saúde, que estaria a equacionar reter no SNS os jovens médicos por um determinado período de tempo, o bastonário reforçou que “num estado democrático não se pode obrigar as pessoas a ficar num sítio”, insistindo que os médicos nada devem ao Estado, bem pelo contrário”.

Miguel Guimarães aproveitou, ainda, a ocasião para falar de algumas más políticas que têm vindo a ser seguidas e que prejudicam e degradam o SNS. A “má lei de bases da saúde” recentemente aprovada pela Assembleia da República foi um dos exemplos mencionados, já que abriu portas à pseudociência.

Na mesma sessão, o presidente da Secção Regional do Centro evocou a importância histórica do Juramento de Hipócrates, defendendo que tudo o que os médicos necessitam “em momentos de dificuldade” está inscrito neste juramento milenar. Carlos Cortes aproveitou a intervenção para apelar a que os novos médicos defendam sempre “a entrega ao doente e a sua centralidade no sistema de saúde, mas também na vossa vida”. Cortes traçou um cenário preocupante sobre o SNS e sobre o facto de o sistema público de saúde ter deixado de cumprir a sua função de equidade no acesso a cuidados. Inconformismo e humanização foram dois dos desafios que dirigiu aos médicos.

Já Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde e responsável pela oração de sapiência deste juramento, começou por reforçar a esperança no futuro dos jovens médicos, lembrando que escolheram “a profissão mais maravilhosa do mundo” e onde terão a oportunidade de protagonizar uma “mediação entre a injustiça, a desigualdade e o humanismo”. “Altruísmo, entrega, dádiva e serviço aos outros” foram outras das caraterísticas apontadas por Adalberto como sendo necessárias no exercício da profissão. O médico e gestor defendeu que o SNS tem de ser construído com os médicos e que de nada serve sequestrá-los, apelando depois a um cessar-fogo no ambiente que se tem vivido na saúde.

O último discurso foi o do Secretário de Estado da Saúde. António Lacerda Sales comprometeu-se a criar laços com os médicos e reconheceu que são “o projeto do nosso país” e “uma geração muito qualificada e bem preparada”.