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Idosos e doentes crónicos com maior dificuldade no acesso a cuidados de saúde

Os idosos e doentes crónicos são quem percecionou maiores dificuldades no acesso a cuidados de saúde em resultado da pandemia. Essa é uma das conclusões do estudo “Acesso a cuidados de saúde em tempos de pandemia”. O estudo foi elaborado pela GFK Metris para o movimento “Saúde em Dia – Não Mascare a Sua Saúde”, uma iniciativa da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), com o apoio da Roche, que visa alertar a população para a necessidade de não negligenciar todas as vertentes da sua saúde.

O diretor médico da Roche, Ricardo Encarnação, considera que o futuro só se constrói em verdadeira parceria entre os vários intervenientes

Num encontro que aconteceu em Lisboa na Ordem dos Médicos e que foi transmitido também por streaming, dados os condicionalismos atuais e a consequente impossibilidade de juntar todos os interessados, o diretor da GFK Metris, António Gomes, apresentou alguns resultados desse estudo que tinha como objetivo perceber as perceções da população sobre o acesso aos cuidados de saúde em tempo de pandemia, revelando alguns dados muito significativos: mais de metade dos portugueses considera que a pandemia dificultou o seu acesso a cuidados de saúde, uma perceção que tem especial incidência entre a população mais idosa e os doentes crónicos. Sobre as perceções de segurança, os números indicam que os mais jovens se sentem mais seguros, e que cerca de metade da população não se sente segura em recorrer aos serviços de saúde nomeadamente por medo de contágio, o que se reflete no facto de mais de 200 mil portugueses assumirem que não recorreram a cuidados de saúde – apesar de se terem sentido doentes durante os últimos meses -, manifestando receios associados a esse acesso. 8% da população assume que se sentiu doente durante este período e 31% dessas pessoas que estiveram doentes não foram a nenhum médico.

O estudo revela ainda uma forte perceção de confiança nos médicos, com 88% (o que corresponde a 7.2 milhões de portugueses) a referir que depositam elevada confiança nos profissionais de saúde em geral e nos médicos em particular, a que se segue 83% a confirmar a confiança nas deslocações às farmácias para comprar medicamentos. Perante a pergunta se confiam que estão a ser acautelados todos os procedimentos para garantir a segurança dos doentes, e se há confiança nos doentes para receber cuidados de saúde no Centro de Saúde/Unidade de Saúde Familiar e hospitais públicos, são indicadores que apresentam igualmente percentagens elevadas e em todas mais de 65% das pessoas confirma de forma positiva a existência dessa confiança.

Júlio Machado Vaz alertou para a necessidade de estarmos atentos às consequências futuras em termos de saúde mental

Muitas outras áreas foram referidas, dos cuidados de saúde primários à saúde pública, sem esquecer a importância da saúde mental, que foi tema da intervenção de Júlio Machado Vaz que falou sobre o futuro, lembrando que, quando tivermos uma vacina ou um tratamento que trave a pandemia, não podemos esquecer de continuar a prestar apoio nesta área pois muitas das consequências – quanto à saúde mental dos profissionais – poderão vir a ser detetadas anos mais tarde, alertou, referindo-se ao stress pós-traumático. A saúde mental tem muitas determinantes individuais, familiares e sociais que refletem várias políticas, recordou frisando a importância deste ser um domínio em que haja a colaboração de vários setores, apelando a que reflitamos de modo a planear o futuro, com uma melhor articulação dos serviços, reduzindo quer a incidência do “profundo cansaço das populações”, quer a ansiedade e tristeza, que, recordou, neste contexto, são naturais mas às quais devemos estar atentos.

Alexandre Lourenço, presidente da APAH

Enquanto Alexandre Lourenço, presidente da APAH, defendeu que “a resposta do sistema de saúde depende de uma rede e não de uma resposta individual”, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, enalteceu a iniciativa da sociedade civil, e referiu exemplos de excelência em vários setores (desde a organização no Hospital de São João e que seria modelo para outras unidades hospitalares, ao trabalho da Ordem dos Farmacêuticos em conjunto com as associações de doentes para tornar realidade a entrega de medicamentos hospitalares ao domicilio) no combate às COVID-19. A encerrar o encontro, frisando a importância de combater o medo, Miguel Guimarães defendeu que – com o diagnóstico feito – está na hora de agir, e lançou o desafio a todos os intervenientes para que se construa, a partir destes resultados e conhecimento, um conjunto de propostas com metas, calendarização e objetivos bem definidos para apresentar aos responsáveis políticos e, assim, ajudar Portugal nomeadamente na definição das áreas onde investir de forma prioritária para ultrapassar esta fase.

Carlos Cortes, presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e Francisco Ramos, professor da Escola Nacional de Saúde Pública, comentaram as conclusões do think tank da semana passada, sob moderação de Romana Borja Santos

Painel de comentário aos resultados do estudo com Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Rosa Matos, presidente do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, e Ana Sampaio, presidente da Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino