Os idosos e doentes crónicos são quem percecionou maiores dificuldades no acesso a cuidados de saúde em resultado da pandemia. Essa é uma das conclusões do estudo “Acesso a cuidados de saúde em tempos de pandemia”. O estudo foi elaborado pela GFK Metris para o movimento “Saúde em Dia – Não Mascare a Sua Saúde”, uma iniciativa da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), com o apoio da Roche, que visa alertar a população para a necessidade de não negligenciar todas as vertentes da sua saúde.
Num encontro que aconteceu em Lisboa na Ordem dos Médicos e que foi transmitido também por streaming, dados os condicionalismos atuais e a consequente impossibilidade de juntar todos os interessados, o diretor da GFK Metris, António Gomes, apresentou alguns resultados desse estudo que tinha como objetivo perceber as perceções da população sobre o acesso aos cuidados de saúde em tempo de pandemia, revelando alguns dados muito significativos: mais de metade dos portugueses considera que a pandemia dificultou o seu acesso a cuidados de saúde, uma perceção que tem especial incidência entre a população mais idosa e os doentes crónicos. Sobre as perceções de segurança, os números indicam que os mais jovens se sentem mais seguros, e que cerca de metade da população não se sente segura em recorrer aos serviços de saúde nomeadamente por medo de contágio, o que se reflete no facto de mais de 200 mil portugueses assumirem que não recorreram a cuidados de saúde – apesar de se terem sentido doentes durante os últimos meses -, manifestando receios associados a esse acesso. 8% da população assume que se sentiu doente durante este período e 31% dessas pessoas que estiveram doentes não foram a nenhum médico.
O estudo revela ainda uma forte perceção de confiança nos médicos, com 88% (o que corresponde a 7.2 milhões de portugueses) a referir que depositam elevada confiança nos profissionais de saúde em geral e nos médicos em particular, a que se segue 83% a confirmar a confiança nas deslocações às farmácias para comprar medicamentos. Perante a pergunta se confiam que estão a ser acautelados todos os procedimentos para garantir a segurança dos doentes, e se há confiança nos doentes para receber cuidados de saúde no Centro de Saúde/Unidade de Saúde Familiar e hospitais públicos, são indicadores que apresentam igualmente percentagens elevadas e em todas mais de 65% das pessoas confirma de forma positiva a existência dessa confiança.
Muitas outras áreas foram referidas, dos cuidados de saúde primários à saúde pública, sem esquecer a importância da saúde mental, que foi tema da intervenção de Júlio Machado Vaz que falou sobre o futuro, lembrando que, quando tivermos uma vacina ou um tratamento que trave a pandemia, não podemos esquecer de continuar a prestar apoio nesta área pois muitas das consequências – quanto à saúde mental dos profissionais – poderão vir a ser detetadas anos mais tarde, alertou, referindo-se ao stress pós-traumático. A saúde mental tem muitas determinantes individuais, familiares e sociais que refletem várias políticas, recordou frisando a importância deste ser um domínio em que haja a colaboração de vários setores, apelando a que reflitamos de modo a planear o futuro, com uma melhor articulação dos serviços, reduzindo quer a incidência do “profundo cansaço das populações”, quer a ansiedade e tristeza, que, recordou, neste contexto, são naturais mas às quais devemos estar atentos.
Enquanto Alexandre Lourenço, presidente da APAH, defendeu que “a resposta do sistema de saúde depende de uma rede e não de uma resposta individual”, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, enalteceu a iniciativa da sociedade civil, e referiu exemplos de excelência em vários setores (desde a organização no Hospital de São João e que seria modelo para outras unidades hospitalares, ao trabalho da Ordem dos Farmacêuticos em conjunto com as associações de doentes para tornar realidade a entrega de medicamentos hospitalares ao domicilio) no combate às COVID-19. A encerrar o encontro, frisando a importância de combater o medo, Miguel Guimarães defendeu que – com o diagnóstico feito – está na hora de agir, e lançou o desafio a todos os intervenientes para que se construa, a partir destes resultados e conhecimento, um conjunto de propostas com metas, calendarização e objetivos bem definidos para apresentar aos responsáveis políticos e, assim, ajudar Portugal nomeadamente na definição das áreas onde investir de forma prioritária para ultrapassar esta fase.