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Carlos Alberto Raposo de Santana Maia(1936-2012)

    Homenagem

    Morreu o Carlos Santana Maia. Um amigo de longa data, que a morte tão injustamente nos levou e nenhum dos amigos esperava. Nós sabíamos da doença, mas não acreditávamos.

    O Carlos nasceu apenas em 10 de Maio de 1936, em Mouriscas, filho de Cremilde Moreira Raposo (professora primária) e João Gualberto Santana Maia (médico e professor).

    Iniciou os estudos primários na escola onde leccionavam seus avós maternos. Fez o ensino secundário no Colégio Infante de Sagres, propriedade de seu pai e o ensino complementar no Liceu de Santarém.

    Em 1953 iniciou os estudos médicos na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, frequentava eu o 2.º ano. Como era normal naquele tempo quase todos nos conhecíamos, da Universidade, dos jogos da Académica, das tertúlias nas Repúblicas, da Associação Académica, do Tropical, de namoriscar as colegas de Letras, do Orfeão, das patuscadas, das serenatas e de todas as coisas que se fazia a vida naquele tempo.

    Mas a nossa amizade estreitou-se mais em 1957, era ele aluno do novo professor Bártolo do Vale Pereira, recém-chegado do Porto para leccionar Patologia Cirúrgica.

    Havendo necessidade de escrever e editar uma sebenta desta cadeira, tomaram esse encargo três amigos então ligados por esse propósito – Alberto Lopes da Conceição, Carlos Santana Maia e eu próprio (já a frequentar Clínica Cirúrgica).

    De quem foi a ideia, não sei ou não me lembro, mas seguramente o soubemos então. Sei e lembro-me que foi uma missão conseguida e com sucesso, tendo tido mais do que uma edição nos anos seguintes. Todos os colegas a seguiram, nenhum se queixou e todos passaram no exame…

    São laços que não se quebram, mesmo quando a vida nos separa fisicamente. A mesma vida que por outros caminhos nos une.

    Quando em 1993 fui convidado para dirigir e apresentar o primeiro programa diário sobre saúde, na recém-criada TVI, no seu primeiro dia de emissão (20.02), tive o grato prazer de ter o meu velho amigo Carlos, então Bastonário da Ordem dos Médicos, como primeiro convidado do programa Rica Saúde, juntamente com o Prof. Daniel Serrão.

    A minha escolha teve um sentido – juntar o presidente de todos os médicos e a Universidade, ali representada por um claro exemplo de pedagogia, ética e deontologia.

    E lembro-me bem que a alegria que eu senti por aquela missão de que me encarregaram, não era maior que aquela que o Carlos sentiu por ser eu a fazê-la.

    Alguns anos depois voltaríamos a encontrar-nos algumas vezes, em Coimbra, em reuniões para a criação das TV Medicina e TV Saúde, onde depois pude fazer os programas ‘E se eu vos contasse’ e ‘Haja Saúde’. E, mais uma vez, foi um contacto fraterno, de amigos verdadeiros.

    Quem leia estas palavras poderá perguntar o que tem isto a ver com o In Memoriam que se esperava? E eu responderei que tem tudo.

    Quando um amigo escreve sobre outro não está preocupado em reproduzir a biografia que se pode encontrar com facilidade na net, com várias chaves para a sua procura. O que o preocupa é saber que o amigo partiu e não era isso que se desejava. É relembrar as vivências comuns, os pontos de vista trocados, a confiança mútua, a palavra amiga do encontro.

    Claro que mesmo pensando assim não posso, nem devo, fugir aos detalhes da biografia, pois quem nos leia pode querer saber algo mais.

    Por isso, não posso deixar de dizer que o médico Carlos Alberto Raposo de Santana Maia se licenciou em Medicina em 1959 e que obteve 17 valores na sua tese de licenciatura sobre a ‘Trombo-elastografia no estudo da coagulação sanguínea’ , que defendeu em 1960, ano em que também tirou o Curso de Ciências Pedagógicas.

    Em 1961 foi mobilizado para Angola, onde permaneceu até 1963, como médico de uma Companhia de Caçadores Especiais.

    Regressado, foi nomeado Assistente de Terapêutica Médica (Prof. Antunes de Azevedo) e nunca mais parou.

    Aprovado por unanimidade no concurso nacional para Director do Serviço de Medicina do Centro Hospitalar de Coimbra (1972). Presidente da Comissão Instaladora do Centro Hospitalar de Coimbra (1974), do Conselho de Gerência (77/80), do Conselho Científico, Professor de Clínica Médica e de Deontologia no ensino médico pré-graduado na Unidade de Ensino Clínico do Centro Hospitalar de Coimbra (75/83) e também nas Escolas Superiores de Enfermagem Ângelo da Fonseca, na Bissaya Barreto e na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (para cuja criação contribuiu).

    Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, fez investigação científica no domínio da diabetes mellitus e metabolismo do ferro.

    Publicou 51 trabalhos científicos e foi membro de 12 Sociedades Científicas, nacionais e internacionais.

    Em 1988, presidiu à Comissão de Ética do Hospital. Em 1996, Presidente do Grupo de Trabalho para a elaboração da Carta de Equipamentos de Saúde, Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (1991) e Presidente (96/98). Presidente da Comissão Instaladora do Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais (1998) e do seu Conselho de Administração (2002). Membro da Plataforma de Observação e Acompanhamento da Saúde (2003).

    Como político, Carlos Santana Maia participou em várias acções da oposição antes de 1974 e depois disso fez parte da Comissão da Federação de Coimbra e da Comissão Nacional do Partido Socialista, foi Director de Campanha do Dr. Mário Soares, em Coimbra (1986) e seu Mandatário Distrital em 1991. Deputado eleito à Assembleia da República em 1983 e 1985. Vice-Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento, membro do Conselho Geral do Centro de Estudos e Formação Autárquica desde 1985. Presidente da Assembleia Municipal de Coimbra (1997/2002).

    Como homem de acção cívica foi Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Núcleo de Coimbra da Liga dos Antigos Combatentes (1988), Vice-Presidente da Delegação de Coimbra da Cruz Vermelha Portuguesa (1988/1997) e seu Presidente (1997/2006).

    Como médico activo e interveniente na Ordem dos Médicos, ocupou vários cargos de que destaco – membro do Conselho Regional de Coimbra (71/73), do Conselho Disciplinar Regional (74/76), nomeado pelo CNE, Coordenador Nacional da então criada Especialidade de Medicina Interna (1981), Presidente do Conselho Regional do Centro (1988), Vice-Presidente da Comissão de Médicos Assalariados do Comité Permanente dos Médicos da CEE, Vice-Presidente da Comissão de Organização dos Cuidados de Saúde, Segurança Social, Economia de Saúde e Indústria Farmacêutica, Presidente do Conselho Eleitoral Nacional (1989).

    Em 16 de Dezembro de 1992 foi eleito Bastonário da Ordem dos Médicos, com mais de 60% dos votos expressos, numas eleições com elevada participação, a que concorreram também os Professores Machado Macedo e Gentil Martins, tendo obtido maioria absoluta em todos os distritos do Continente e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

    Tornou posse do cargo em 16 de Janeiro de 1993, em cerimónia realizada na Sede da Ordem dos Médicos e presidida por Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República, Prof. Barbosa de Melo.

    Agraciado pelo Rei Balduíno com a Ordem de Leopoldo II, Rei dos Belgas (1984).

    Membro honorário da Academia Brasileira de Medicina (1994).

    Eleito Honorary Fellow of the American College of Physicians (Filadélfia, 1997).

    Medalha de Mérito da Ordem dos Médicos (2000).

    Medalha de Serviços Distintos do Ministério da Saúde (2001).

    Diploma de Sócio Honorário da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (2004).

    Como escreveu Carlos Cidade, após a sua morte – um homem que “sempre teve como lema a ajuda aos que menos tinham”, que era conhecido por “intervir, quer do ponto de vista profissional, quer do ponto de vista cívico” e por envolver-se em causas “para servir melhor os outros’’; “Fala por si a obra que nos deixou na área da saúde”; a ligação que Santana Maia mantinha ao PS “foi sempre vista por todos como uma referência de como estar na causa e no serviço público”, “testemunhei o seu último cargo político, como presidente da Assembleia Municipal de Coimbra – e que saudade da ‘’sua forma simples de estar e de respeitar todos”.

    Estas palavras poderiam ser ditas ou transcritas daquilo que os seus inúmeros amigos dele diziam, então e agora.

    Carlos Santana Maia foi tudo aquilo que se pode ler no seu curriculum oficial e mais aquilo que todos os amigos dele dirão sempre – um amigo verdadeiro, para todos os tempos e idades.

    Adeus Carlos. Até breve.

    Carlos Vieira Reis

    Datas

    Nome completo: Carlos Alberto Raposo de Santana Maia
    Nome Clinico: SANTANA MAIA
    Cédula profissional: 9479
    Especialidade:
    Data de nascimento: 10 de Maio de 1936
    Data de Inscrição na OM: 1/02/1961
    Data de Formatura: 30/01/1961
    Faculdade de Medicina de Coimbra
    Data de falecimento: 3 de outubro de 2012.

    Nota: a OM assegura aos herdeiros os direitos de acesso, retificação e apagamento destes dados pessoais.

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