- O problema
- Dr. …, Médico de Família: “de quem é a responsabilidade de aconselhar a suspensão ou substituição de Hipocoagulação“, na realização de colonoscopias, não especificando o motivo pelo qual a colonoscopia é pedida.
- Caracterização da prática
- É imperativo esclarecer a razão pela qual se propõe a colonoscopia e identificam-se três situações principais:
- Paciente assintomático que escolha como método de rastreio a colonoscopia.
- Paciente assintomático cuja pesquisa de sangue oculto realizada foi positiva.
- Paciente sintomático cuja investigação pressupõe uma probabilidade pré-teste mais elevada de encontrar lesões neoplásicas.
- Para esclarecer o paciente dos riscos é necessário ter em conta:
- Estratificação do Risco Tromboembólico do Paciente,
- Risco Hemorrágico da Intervenção,
- Determinação do tempo de interrupção do Anticoagulante
- Determinação da necessidade de ponte terapêutica.
- É imperativo esclarecer a razão pela qual se propõe a colonoscopia e identificam-se três situações principais:
- Evidência disponível
- Se se tratar de um Paciente, assintomático, é apresentada a possibilidade de realizar um rastreio para a detecção precoce do Cancro Colo-Rectal.
- A Direcção Geral da Saúde, preconiza para o Rastreio Cancro Colo-Rectal, na Nota de Imprensa nº 2, de 10/02/2018, “a realização com teste primário com pesquisa de sangue oculto nas fezes, na população assintomática entre os 50 e os 74 anos, e sem outros fatores de risco. Nesta estratégia, aos doentes com pesquisa de sangue oculto positivo é proposta a realização de colonoscopia”.
- Segundo o Grupo de Trabalho do rastreio de cancro colo-rectal da ARS Centro, em nota de serviço de 24/07/2014, os doentes hipocoagulados não deverão ser submetidos a rastreio por pesquisa de sangue oculto nas fezes, mas sim a eventual retosigmoidoscopia ou colonoscopia, dependendo da idade e de comorbilidades existentes.
- A interrupção da terapêutica pode aumentar o risco de tromboembolismo (1-3).
- Para clarificar o paciente relativamente à estratificação do Risco Tromboembólico deve-se:
- Verificar se existe indicação para o tratamento com anticoagulante (1).
- Classificar o paciente como Alto ou Baixo Risco (3).
- Para clarificar o paciente relativamente ao Risco Hemorrágico da Intervenção deve-se esclarecer o paciente que a colonoscopia é um procedimento de baixo risco, mas se realizada polipectomia já será um procedimento de alto risco (3).
- Caso seja tomada a decisão de interrupção do anticoagulante é necessário informar o tempo que está dependente do agente anticoagulante utilizado.
- Nestes casos não deve ser recomendada a necessidade de Ponte Terapêutica, em doentes com FA com CHA2DS2-VASc score < 2 ou Válvula Mecânica Aórtica de duplo folheto (3):
- Se se tratar de um Paciente, assintomático, é apresentada a possibilidade de realizar um rastreio para a detecção precoce do Cancro Colo-Rectal.
- Recomendações
- Cabe ao Médico de Família informar o paciente sobre o seu risco hemorrágico e tromboembólico.
- Neste caso concreto o risco hemorrágico do procedimento está definido à priori, e, transmuta de baixo risco, colonoscopia de rastreio, para alto risco se ocorrer a necessidade de polipectomia.
- A decisão deve ser partilhada com o paciente, deverá ter em conta a probabilidade pré-teste de encontrar uma lesão neoplásica em que seja necessária polipectomia e se pretende estar preparado para realizar a polipectomia no mesmo ato diagnóstico ou realizar oportunamente nova colonoscopia para a remoção da lesão.
Bibliografia
- Bridging Anticoagulation: Primum Non Nocere. Stephen J. Rechenmacher and James C. Fang. Journal of the American College of Cardiology. Volume 66, Issue 12, 22 September 2015, Pages 1392-1403.
- Perioperative management of patients receiving anticoagulants. Gregory YH Lip et al, https://www.uptodate.com/contents/perioperative-management-of-patients-receiving-anticoagulants.
- The management of antithrombotic agents for patients undergoing GI endoscopy. ASGE STANDARDS OF PRACTICE COMMITTEE. 2016 GASTROINTESTINAL ENDOSCOPY.
Lisboa, 24 de Agosto de 2018
A Direção do Colégio da Especialidade de Medicina Geral e Familiar
Parecer aprovado por: Isabel Santos, Paulo Santos, Gonçalo Envia, Marta Dora Ornelas, Ana Luísa Bettencourt, Victor Ramos