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Excesso de mortalidade em julho “deve-se aos doentes não-COVID que ficaram para trás”

Dados revelados esta semana pelo jornal Público, com base em informações do Sistema Nacional de Vigilância da Mortalidade, indicam que morreram em julho 10.390 pessoas em Portugal, o valor mais alto num mês nos últimos 12 anos. Comparando com julho de 2019, trata-se de um aumento de 26%. Destes óbitos “apenas” 159, ou seja, 1.5%, teve a COVID-19 como causa.

Em declarações à Rádio Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos não mostrou dúvidas em afirmar que “o excesso de mortalidade deve-se aos doentes não-COVID” cujas consultas, diagnósticos e tratamentos “claramente ficaram atrasados. (…) Não vale a pena arranjar outras explicações”.

Miguel Guimarães alerta para o inverno que chega em breve e para a preparação que é necessária concretizar com celeridade, “a pior coisa que podíamos fazer era suspender a atividade não-COVID”. Na opinião do bastonário, Portugal devia ter seguido o exemplo de outros países europeus onde a atividade programada foi mantida apesar da pandemia. Recorde-se que, em Portugal, ficaram por realizar cerca de 1 milhão de consultas nos hospitais e 3 milhões nos centros de saúde.

“A saúde deveria ter sido o primeiro setor a desconfinar”, de modo a poder-se evitar males maiores decorrentes de doenças mais graves. Faltou, por exemplo, “tirar o medo das pessoas de ir aos hospitais”. Para isso, é urgente “ter uma pedagogia forte, preparar as unidades de saúde para a resposta, se necessário socorrer-nos do setor privado e social para ajudar, mas rapidamente pegarmos naqueles doentes todos que ficaram para trás”.

Em entrevista para o canal Saúde+, o bastonário explicou ainda que a retoma da actividade programada tem estado a ser feita, sobretudo nos hospitais mas o mesmo não se pode dizer dos Cuidados de Saúde Primários. “Uma chamada telefónica, não pode ser confundida com uma consulta médica”.

A versão da DGS sobre o aumento da mortalidade é o calor que se fez sentir, com consequências mais graves sobretudo “nos grupos etários acima dos 65 anos de idade”.