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Ecos do congresso | Miguel Guimarães (presidente do congresso)

 

No início de 2020, a Ordem dos Médicos teve a decisão corajosa de recomendar o adiamento de congressos e de eventos científicos. Hoje, passado mais de um ano, a Ordem dos Médicos conseguiu realizar o seu congresso, em formato híbrido, com quatro dias de trabalhos que congregaram uma dimensão científica e uma dimensão mais política e social. Que balanço faz?

Faço um balanço muito positivo. Este congresso vem na altura certa, numa altura em que é possível juntar mais as pessoas, embora mantendo as regras definidas pela Direção-Geral da Saúde. Aquilo que foram os temas escolhidos para o congresso não podiam ser mais oportunos. Por um lado, lançam uma nova dimensão no Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, uma dimensão científica, que é o estado da arte nas várias áreas de especialidade, que é um trabalho magnífico realizado pelos nossos Colégios, que eu espero que seja para manter nos próximos congressos. É importante que a Ordem dos Médicos apareça num patamar de excelência naquilo que é o conhecimento científico. A questão da pandemia foi o tema central desta vez, mas nos próximos congressos poderemos abordar temas como a política de saúde, temas sociais, o papel da Ordem dos Médicos, entre outros. Estes quatro dias correram muito bem porque tivemos aqui pessoas de excelência, a níveis completamente diferentes, dentro e fora de Portugal.

Que principais conclusões retira?

As dificuldades, as necessidades e a importância de trabalharmos para termos capacidade de resposta para outras pandemias que no futuro vêm aí foram algumas das ideias. Foram feitas várias reflexões, foram divulgadas várias informações importantes e neste momento estamos em condições de poder propor recomendações a vários níveis que podem ser importantes para o país.

Pode dar exemplos das recomendações?

Estamos a falar de recomendações várias, seja para enfrentar novas pandemias, seja para resolver problema crónicos relacionados com o sistema de saúde, e mais concretamente com o Serviço Nacional de Saúde, seja para uma das coisas que se revela cada vez mais essencial, e que é o momento mais indicado para o fazer, que é valorizar as pessoas, aquilo que de melhor Portugal tem. A qualidade da formação das nossas pessoas e o espírito humanista e solidário dos portugueses são únicos e distinguem-nos. As pessoas de excelência têm de ser valorizadas pela responsabilidade que têm na sociedade civil, pela qualidade e pelas suas competências. O SNS está a precisar de um reforço positivo, de capital humano e de algumas transformações como a transformação digital. Precisamos de uma reforma hospitalar e de boa integração entre cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares. Precisamos disso para ganhar energia para novos tsunamis.

Quais as principais preocupações neste momento?

As desigualdades sociais são, neste momento, uma das nossas grandes preocupações. Os índices de pobreza no país aumentaram muito, o que significa que tem de haver um espírito de solidariedade muito grande. As pessoas não conseguem resistir sozinhas, como defendeu o vice-almirante neste congresso, e juntos podemos ir mais longe e resolver problemas mais difíceis. A saúde mental já era um tsunami antes da pandemia e que se agravou e as questões relacionadas com o clima e com o planeta são mais dois exemplos.

Ao longo dos quatro dias foi transversal entre muitos oradores um sentimento de gratidão pelo seu trabalho e para com a Ordem dos Médicos.

Eu não espero reconhecimento pelo trabalho que faço na Ordem dos Médicos. Quando me candidatei e aceitei ser bastonário tinha uma missão e a missão era proteger e cuidar das pessoas, que é o principal lema dos próprios médicos. Somos os provedores dos doentes e é por isso que falamos muitas vezes em condições de trabalho e em melhorar a condição deste ou daquele centro de saúde ou hospital. Isto tem tudo a ver com as pessoas. Estou apenas a fazer a função que um bastonário em exercício tem de fazer. Um bastonário não pode virar as costas aos problemas, tem de os enfrentar e solucionar da melhor forma possível. Se as pessoas estão satisfeitas com esta atitude e com esta atividade eu fico também satisfeito. Significa que estou a fazer alguma coisa de positivo pelas pessoas e isso deixa-me honrado, mas as pessoas não têm de agradecer ou fazer homenagens.

Que mensagem final deixa aos médicos?

Quero deixar os meus parabéns a todos os profissionais, concretamente e em especial aos médicos que eu represento e que tiveram um papel absolutamente brilhante. Não foram só os médicos de medicina intensiva, foram todos os médicos. Deram o seu contributo para ajudar a combater a pandemia, seja na linha da frente seja na retaguarda. Enquanto uns estavam a fazer diagnósticos de doentes Covid, outros estavam a tratar doentes com doenças tão ou mais graves do que a Covid, no bloco operatório, nas consultas, etc. O conjunto do trabalho destes médicos foi muito importante para o país e por isso todos estão de parabéns. Esse trabalho tem sido destacado por várias pessoas e instituições e, evidentemente, tenho um enorme orgulho nestes médicos que honram e dignificam a própria Ordem dos Médicos, a profissão e cumprem aquilo que é a nossa missão principal, que é proteger e cuidar das pessoas.