+351 21 151 71 00

Dia Mundial da Radiologia: valorização dos atos médicos

Num webinar que se realizou a 7 de novembro de 2020 e que contou com a participação de diversos representantes da Ordem dos Médicos, nomeadamente o bastonário Miguel Guimarães, o presidente do Colégio de Radiologia e o presidente Conselho Nacional do Exercício da Medicina Privada e Convencionada, e que foi moderado por Ricardo Sampaio, presidente da direção da APRANEMN – Associação Portuguesa de Radiologia, Neurorradiologia e Medicina Nuclear, entidade organizadora deste encontro, assinalou-se o Dia Mundial da Radiologia (que se realiza a 8 de novembro), referenciando a importância e papel da Radiologia. Para assinalar o Dia Mundial da Radiologia, a APRANEMN lançou ainda uma campanha de divulgação da Radiologia, dirigida à população.

Filipe Caseiro Alves, professor da Universidade de Coimbra, falou sobre a Radiologia atual e desafios futuros nos quais este orador inclui a importância de aumentar visibilidade clínica da especialidade, reduzir barreiras à comunicação, aumentar proximidade com os doentes, implementar um método de comunicar exames diretamente aos doentes mas tendo atenção ao que se comunica e como se comunica, criar oportunidades de receber feedback e trabalhar em rede com os médicos prescritores. O orador deixou um apelo ao corpo académico para promover a Radiologia no ensino pré-graduado e referiu que a investigação clinica também é fundamental mas que “há muito poucos radiologistas como investigadores principais”. Explicando a sua visão do radiologista como garante da qualidade dos exames, defendeu que é preciso passar do volume para o valor, estar conectado com os sistemas de informação e conhecer e aproveitar as oportunidades dos bancos de dados, do data mining, assim como de contribuir para o desenvolvimento de biomarcadores para uma medicina cada vez mais personalizada.

Numa intervenção sobre a nomenclatura dos atos médicos em Radiologia, o presidente do Colégio da Especialidade de Radiologia da Ordem dos Médicos, Hugo Marques, enalteceu o trabalho do médico Leopoldo Matos que preside ao Conselho Nacional do Exercício da Medicina Privada e Convencionada da OM na construção de uma nova tabela de nomenclatura, com três anos de trabalho mas que “muda o paradigma da tabela de nomenclatura”, congratulou. Hugo Marques explicou que a tabela existente é de 1997 e que as atualizações foram sendo avulsas, persistindo atos que se tornaram obsoletos e faltando novos atos, resultado da evolução da medicina. Explicando que antes cada especialidade tinha a sua tabela o que gerava situações em que um mesmo ato podia ter vários códigos e várias designações e valores relativos diferentes, Hugo Marques juntou-se recentemente aos trabalhos de reforma para uma tabela única, com valores relativos dos atos que serão iguais independentemente de quem os esteja a praticar, “de forma a que seja o menos enviesada possível”, eliminando atos repetidos com valorizações diferentes, permitindo uma atualização anual. Parte do conhecimento que Hugo Marques trouxe para o grupo que está a concluir a nova tabela de nomenclatura resultou do trabalho realizado no âmbito da APRANEMN pelo radiologista Sérgio Duarte que falou em seguida, explicando a forma encontrada para valorização unitária do ato médico (RVU). Sérgio Duarte explicou o sistema que se aplica nos EUA, comparando-o com outros sistemas e sublinhou que a aplicação do RVU tem que ser acompanhada pela implementação de programas de qualidade, auditáveis, nomeadamente pela OM, sugeriu

A visão da Ordem dos Médicos para a nova tabela foi trazida por Leopoldo Matos que explicou em que fase está este trabalho realizado em ligação com os Colégios da Especialidade da OM – e que passa pela depuração de lapsos e omissões e eliminação de repetições da listagem de atos -, referindo que se pretende uma tabela dinâmica e que pode ser atualizada a qualquer momento sem alterar a numeração pré-definida. No trabalho para conseguir essa solução, Leopoldo Matos enalteceu a intervenção e desenvolvimento técnico de uma solução informática, agradecendo a Luís Mateus responsável pelo departamento de tecnologias de informação da Ordem dos Médicos. “Sempre que se pretender alterar um ato, modificar a sua valorização, ou retirar um ato que se tornou obsoleto, tal poderá ser feito desde que o CN aprove”, passando o processo necessariamente por um administrador da tabela designado pela OM. O presidente do Conselho Nacional do Exercício da Medicina Privada e Convencionada da Ordem dos Médicos considera que este é o momento certo para a OM liderar o processo de criação da nova tabela e deixou um agradecimento a todos os colegas que colaboraram durante estes últimos três anos para essa tarefa, mas também aos novos contribuidores. “O que pretendemos é dignificar o nosso trabalho e que sintam orgulho em ser médicos”, concluiu.

O bastonário da Ordem dos Médicos, que assistiu atentamente a todo o webinar, foi a última intervenção do dia, deixando uma nota de agradecimento e responsabilização: Miguel Guimarães agradeceu aos médicos radiologistas o seu papel fundamental para a qualidade da medicina e desafiou-os a assumirem a responsabilidade pela qualidade dos atos médicos mas também pelo envolvimento na gestão e no funcionamento dos serviços. Convidando os colegas a “transformar as ameaças em desafios e liderar”, o bastonário alertou: “têm que ser os radiologistas a exigir ter tempo com os seus doentes e a exigir que os exames cumpram as regras definidas pela OM”. “Independentemente da pressão que o sistema exerça sobre nós, valorizem cada vez mais as métricas da qualidade dos exames e menos as métricas numéricas” e “passem do volume para o valor!”, algo que, defendeu, só pode acontecer se se implementar uma cultura de publicidade de resultados. Tendo em conta o atual contexto e o recurso crescente à telerradiologia, o bastonário fez mais um apelo à qualidade e a que os especialistas exijam condições para o verdadeiro exercício da telemedicina, e que interrompam o caminho da desumanização: “parece que tudo se pode fazer à distância e que é a mesma coisa; mas não é igual fazer atos médicos e consultas presenciais!”

Miguel Guimarães reforçou a mensagem de agradecimento “a todos os radiologistas pelo trabalho notável que têm desenvolvido pela profissão e pela medicina” assim como ao grupo de trabalho que está a rever a tabela de nomenclatura e à APRANEMN pelo contributo para a discussão de temas essenciais.