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Despedidas que jamais esquecerei

No dia 22 de dezembro de 2023, foi apresentado o livro “Despedidas que jamais esquecerei”, da autoria de José Poças. Presente na sessão, o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, fez questão de agradecer ao autor pela imagem que transmite “de uma classe médica humanista”, por ser um verdadeiro “embaixador de uma Medicina Hipocrática”, um médico para o qual a “dedicação ao doente” faz com que “não haja feriados”. “José Poças está sempre disponível, mesmo quando é preciso ver o doente de um colega”. Além desse humanismo inegável, que por todos fi realçado ao longo desta noite, Carlos Cortes mencionou a “ligação à arte” mas também a “vontade sobre-humana como abraça as causas em que acredita. Incansavelmente, mesmo quando tudo parece perdido, José Poças continua a extravasar uma vontade inabalável, especialmente se o que está em causa é a defesa do SNS”.

O reconhecimento da estima que o autor merece, foi enaltecido por Ana Albuquerque da editora Bythebook, que explicou como esta é uma obra escrita por “um médico, pai, filho. Cidadão”. Uma pessoa com um apurado “sentido estético”, sempre associado “ao homem que cuida e trata”. “O título da obra remete para a despedida”, sinónimo de “perda e oportunidade”, recordou Ana Albuquerque. “Que este livro vos traga a oportunidade, se não do aprofundamento do conhecimento da vida, pelo menos do autor”, concluiu.
Leonor Campos da Casa Ermelinda Freitas que acolheu o evento, fez questão de mencionar o “o encontro de saberes que se cruzam com a ruralidade” e o “orgulho” por poder ser nesta casa – “que tem uma história de família, de mulheres”, “eixo comum” com a obra apresentada neste fim de tarde, “em que há a mulher-mãe” e o testemunho dos afetos, do reconhecimento, da união – que esses saberes se juntam, enaltecendo o profissionalismo e o humanismo do autor, e o muito que tem dado a Setúbal. Desse humanismo, exemplificou com “a importância de um telefonema, que o Dr. Poças não se esquece de fazer no momento certo”
Além das palavras de uma doente, que definiu o autor como “um verdadeiro democrata e humanista”, para quem “todos os doentes são igualmente merecedores”, pudemos ainda ouvir as palavras de Eugénio Fonseca, Presidente da Caritas, o prefaciador, que mencionou o “homem sempre pronto a ajudar”, “que responde a todas as solicitações”, “um homem de causas”, por quem não se sente “um amor à primeira vista”, mas que, à medida que se conhece e se aprofunda esse conhecimento, esse amor nasce, fruto do respeito e admiração que desperta nas pessoas que com ele se cruzam. “É preciso viver uma experiência relacional para o conhecer. Não é uma pessoa morna. Ou se ama ou se odeia. … É uma pessoa muito íntegra, com uma qualidade que faz avançar o mundo: não desiste. É um virtuoso teimoso. …Um lutador determinado e persistente”. “Eu sou um cristão. Ele vive como um cristão. Quem dera a muitos que se intitulam como tal, que cumprissem o que o Dr. Poças cumpre”, afirmou deste médico que irá agora ser “aposentado mas não aquietado”, para quem “a família está em primeiro lugar. Mulher e filhos. E depois os seus doentes”. “Continuaremos a contar com o Dr. Poças para o desenvolvimento do SNS”, concluiu Eugénio Fonseca.
Já António Domingos explicitou que despedidas se percorrem no livro, uma obra onde o autor “reflete sobre o ato médico, a relação médico/doente” e “realça valores, a importância da ética e da equidade”, mas também dos “desafios que se colocam à nova Medicina, mencionando temas relevantes como a Inteligência Artificial”. Um livro onde José Poças realça a importância da formação ética dos mais jovens. “Escrevemos porque a memória é curta e o trânsito de uma vida é breve”, parafraseou António Domingos.
A encerrar a sessão, que teve um momento musical com um breve concerto de harpa protagonizado por Helena Madeira, José Poças mencionou os ciclos da vida, a importância da mãe e a ligação que um filho tem a tudo o que é símbolo de maternidade, explicando como “da minha Mãe, herdei alguns traços de caracter, tais como a sensibilidade para com a criação artística, o gosto pela escrita, a queda para o improviso comunicacional, a generosidade para com o nosso semelhante. Do meu Pai, o sentido de família, o culto da amizade verdadeira, a coerência no raciocínio e a importância suprema dos valores civilizacionais. Não sei, sinceramente, qual deles terá sido mais importante. Possivelmente, todos em simultâneo, e, sobretudo, a sua mistura em proporções que desconheço e dependente das circunstâncias”. Numa intervenção pejada de emoção, que pode ser lida integralmente aqui, José Poças lembrou “um longo calvário”, no qual se foi despedindo da mãe, nos seus últimos meses de vida, os quais “só não foram completamente insuportáveis para ambos, pela escrita e pela presença”.
De agradecimento, em agradecimento, o autor não escondeu a sua maior dedicação: “à Ana, que partilha os mesmos valores na prática médica”. “À Ana, minha esposa e colega, por tudo. Sem a sua companhia e compreensão de quase meio século, eu não seria o que sou, não faria o que tenho feito, e não teria força anímica para as iniciativas que pretendo ainda vir a desenvolver. Aos meus filhos e netos, porque estou certo que saberão transportar estes valores aqui expressos aos vindouros, dado serem a melhor herança que nós lhes deixamos”. E concluiu com um convite a “brindar à vida e à fraternidade”.