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Consulta de cessação tabágica nos Cuidados de Saúde Primários

Autor: Rute Neves Marques, Médica Interna de 3º ano de MGF, USF Ars medica (ACES Loures-Odivelas)

O artigo é sobre o papel do médico na sensibilização dos utentes fumadores para a cessação tabágica e pretende destacar a importância de incentivar a formação dos profissionais de saúde neste âmbito.

 

A promoção da cessação tabágica deverá ser uma tarefa de todos os médicos, assim como de todas as especialidades. Este papel que lhes é solicitado, torna-se ainda mais relevante ao nível dos cuidados primários, tendo em conta a proximidade utente-médico e o facto do centro de saúde ser, em geral, o primeiro contacto do utente com a cadeia dos cuidados em saúde.

Com o conhecimento atual dos malefícios do tabagismo, cada vez mais o pessoal médico deverá incentivar os colegas para obterem formação nesta área e iniciarem Consultas de Cessação Tabágica, se possível com o apoio da equipa de enfermagem e/ou psicologia.

Sou médica interna de Medicina Geral e Familiar e há cerca de 2 anos realizo a Consulta de Cessação Tabágica na minha Unidade, tendo conseguido atingir resultados muito satisfatórios. As razões para deixar de fumar são diversas, sendo as mais comuns a preocupação com o estado de saúde e com os problemas económicos. A população que frequenta a consulta pertence a todos os grupos etários, a todas as camadas socioeconómicas e culturais e a todas as condições, incluindo grávidas.

Considero que se trata de uma consulta desafiante, uma vez que todos os utentes são diferentes, e é desta forma diferenciada, personalizada e contextualizada que deverá ser feita a sua abordagem. Assim, realizar esta consulta requer uma preocupação do médico na atualização de conhecimentos e em, de forma flexível e empática, no estabelecimento de planos a longo/curto prazo válidos e adaptados a cada utente.

Um dos maiores desafios com que me tenho deparado na Consulta de Cessação Tabágica baseia-se nas diversas referenciações oriundas do médico de família de utentes que ainda não se encontram motivados para deixar de fumar. Deste modo, considero relevante a formação de todos os médicos para que, ao efetuarem uma intervenção breve junto dos utentes fumadores, poderem identificar e avaliar quais os que estarão motivados para iniciar o processo, ou seja, caminhar, com apoio, no sentido da cessação tabágica.

Outro grande desafio que enfrento tem a ver com os elevados preços de alguns dos medicamentos usados na Consulta de Cessação Tabágica, pelo que devemos ter a capacidade de fornecer, ao utente que não os possa obter, estratégias comportamentais e cognitivas que ajudem neste processo. De acordo com a minha experiência, esta deverá ser a primeira abordagem do problema, antes da terapêutica farmacológica, sendo essencial para o sucesso.

Um outro aspeto a ter em conta é o conhecimento que todos os médicos deverão ter acerca das consultas intensivas existentes no distrito, no sentido de conseguirem aconselhar adequadamente os utentes que se mostrem motivados.

A meu ver, devem-se abordar todos os utentes fumadores sob a forma de uma intervenção breve e precoce nas consultas de rotina, sempre que oportuno, mas também procurar incentivar os serviços de saúde para a celebração das datas comemorativas alusivas ao mundo sem tabaco através de, por exemplo, distribuição de folhetos ou afixação de cartazes nas salas de espera, entre outros. Sugiro que, nas unidades de saúde ainda sem possibilidade de realização de consulta intensiva, se disponibilizem aos utentes os locais onde podem recorrer para a realização dessa consulta, de modo a abarcar um maior número de utentes.

Em suma, destaco a importância que o papel do médico tem na promoção da saúde e o quão relevante este seu papel pode ser na melhoria da qualidade de vida dos seus utentes, especialmente através do contributo para a cessação tabágica. Se todos caminharmos juntos e de forma progressiva contribuiremos para a alteração dos hábitos de vida dos nossos utentes, assim com para um Sistema Nacional de Saúde mais sustentável.