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Consulta de Apoio Pediátrico a refugiados ucranianos: a experiência do Hospital de Dona Estefânia

O Hospital Dona Estefânia criou a Consulta de Apoio Pediátrico a Refugiados Ucranianos, com a missão de acolher – focando a perspetiva sanitária – crianças provenientes da zona de guerra da Ucrânia. Esta iniciativa foi estabelecida com a ajuda do Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos que interveio ao nível da tradução, com a participação ativa de médicos ucranianos que exercem medicina em Portugal.

A consulta deu início no passado dia 21 de março e funciona de segunda a sexta-feira, durante o período da tarde. São realizadas 3 a 4 consultas por dia, por 2 médicos (um assistente hospitalar e um interno de Pediatria) em regime de rotatividade e voluntariado. As marcações são realizadas através de uma linha telefónica de apoio e após triagem médica.

No primeiro mês, foram atendidas cerca de 250 chamadas telefónicas e realizadas 60 consultas. Foram observadas crianças de todas as idades, desde 1 mês até 17 anos de idade, sendo 20% lactentes.

Os motivos das consultas foram: vigilância de saúde infantil (54%); doença crónica (40%); e doença aguda (5%). As doenças crónicas mais frequentes foram: patologia neurológica e do neuro-desenvolvimento (14); cardiopatia (3) e diabetes mellitus tipo 1 (3). Foi realizada referenciação a consultas de sub-especialidade em 56% dos casos; e dada alta para os Cuidados de Saúde Primários em 33% dos casos.

Relativamente à vacinação, verificou-se que somente 45% dos doentes apresentavam boletim de vacinação (ou registo equivalente), dos quais apenas 34,6% apresentava as imunizações atualizadas de acordo com o Programa da Vacinação Ucraniano. A vacinação foi promovida em quase todas as consultas, de acordo com a recente Norma da DGS. Foi possível a administração de vacinas em 37,9% das consultas realizadas.

O Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos (GAHOM) foi constituído pelo bastonário para planear, organizar e concretizar as iniciativas e respostas necessárias, em articulação com outras instituições oficiais e com o Governo, num momento difícil devido à guerra na Ucrânia.

Coordenado por Vítor Almeida, o GAHOM inclui, numa primeira fase, o contributo de todos aqueles que estão disponíveis para prestar assistência médica aos refugiados que cheguem a Portugal, bem como os que estão desde já disponíveis para incorporar equipas de evacuação de doentes e/ou feridos de guerra, cujo transporte deve ser acompanhado por médicos. Antevemos que, numa segunda fase, e assim que a prestação de auxílio humanitário em território ucraniano oferecer garantias mínimas de segurança para as equipas que possam ser constituídas ao abrigo do Direito Internacional Humanitário, possamos vir a indicar médicos que também já nos manifestaram o seu desejo de integrarem essas equipas.

Em breve o GAHOM irá organizar um webinar para divulgar a todos os médicos o trabalho já realizado.