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Cenário preocupante nos hospitais portugueses: crise nas urgências

Serviços de urgência fechados e outros a funcionar forma precária. Depois de vários dias em que se registaram tempos de espera acima do recomendado em vários hospitais do país, a situação não parece ter solução estrutural à vista.

O Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi um dos mais pressionados, tendo atingido no fim de semana tempos médios de espera para as pulseiras amarelas (urgentes) superiores a dez horas. Em entrevista à CNN Portugal, Miguel Guimarães alertou para os perigos inerentes a estes períodos de espera.

“Os doentes triados com pulseira amarela, ou seja, doentes urgentes, estarem 8 horas ou mais à espera é bastante preocupante. Isto porque a situação dos doentes pode evoluir, tornando-se muito mais grave, influenciado o tratamento”, alertou o bastonário da Ordem dos Médicos.

A proposta do Governo para a resolução do problema prende-se com o alargamento dos horários dos cuidados de saúde primários. Porém, com um quarto da população de Lisboa e Vale do Tejo sem médico de família, o cenário não se coaduna com um alargamento generalizado dos horários de funcionamento. No total, há já no país mais de 1.4 milhões de utentes sem médico de família atribuído.

“Não existindo médicos suficientes nos centros de saúde, vamos continuar a ter doentes com um quadro clínico não-urgente a dirigirem-se aos serviços de urgência, entupindo-os cada vez mais”, explicou Miguel Guimarães. “Isto não se faz de um dia para o outro, já devia estar programado há muito tempo”, adicionou.

A “falta de organização” de algumas administrações hospitalares desempenha também um papel central na crise que se vive, atualmente, nos serviços de urgência.

“Os doentes triados com pulseira verde, ou seja, doentes não-urgentes, podem efetivamente dirigir-se a outros hospitais ou centros de saúde. A cooperação entre os hospitais não está a ser devidamente feita, um funcionamento em rede que depende das administrações hospitalares.”

O bastonário concorda com o novo modelo de gestão referido por Manuel Pizarro, ministro da Saúde, defendendo a inclusão de “algumas das regras [de gestão] que se aplicam no setor privado, para sermos mais eficientes e darmos uma resposta mais rápida às necessidades da população.”

Porém, o problema de fundo não está resolvido. “Este é um problema estrutural e que tem muito a ver com a capacidade de fixar os médicos e outros profissionais de saúde no SNS. Este problema passa pela revisão da carreira médica e dos outros profissionais de saúde. Enquanto esta situação não for resolvida, nós vamos continuar a ter problemas”, concluiu.