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Caldas da Rainha: 16% da população não tem médico de família

 

Uma delegação da Ordem dos Médicos, liderada pelo bastonário Miguel Guimarães, deslocou-se na manhã de dia 16 de janeiro às Caldas da Rainha, nomeadamente à USF Rainha D. Leonor e ao hospital da cidade para se inteirar das principais dificuldades sentidas pelos médicos e pelos doentes.

 

Na USF os profissionais alertaram para a inexistência de médicos de família para cerca de 16% das mais de 177 mil pessoas abrangidas pela área de cobertura do serviço. Consequentemente, os médicos de família estão sobrecarregados com uma lista de utentes muito maior do que a desejável. De acordo com Ana Pisco – diretora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Oeste Norte – seriam necessários cerca de 20 médicos adicionais para garantir uma melhor e maior prestação de cuidados àquela população. A falta de assistentes operacionais (que levam por vezes os médicos a terem de limpar o chão ou a realizarem outras tarefas que não as suas) e as falhas constantes dos sistemas informáticos foram outros dos constrangimentos mencionados pelos profissionais. Por vezes são coisas tão simples como falhas na rede e mesmo nos telefones. “Maior celeridade nos concursos para os recém-especialistas e “mais formas de fixar médicos” foram os principais desejos enunciados pela diretora executiva do ACeS Oeste Norte para fazer face à escassez de recursos humanos.

No hospital das Caldas da Rainha o panorama é o de um Serviço de Urgência garantido quase exclusivamente por recurso a prestadores de serviço. Joana Louro, membro da Assembleia de Representantes da OM e especialista em Medicina Interna, garante que, por vezes, chega a ser a única médica da casa a trabalhar numa escala. Em todos os serviços visitados (especialmente urgência, cirurgia, ginecologia/obstetrícia) o bastonário foi tomando nota de falta de recursos humanos e materiais obsoletos.

Margarida Brito e Melo – diretora de serviço de Cirurgia geral – alertou para a falta de anestesiologistas que já levou ao adiamento de cirurgias. Apesar de ter sido contratado um especialista em dezembro, como garantiu o diretor clínico Francisco San Martín y Sánchez, subsiste uma carência que precisa de ser mitigada porque “sem médicos não se faz nada”, salientou Miguel Guimarães. No serviço de ginecologia/obstetrícia, o médico especialista Eduardo Baptista considerou que o grande problema é a falta de equipamentos: “temos um ecógrafo em que o disco rígido avaria constantemente”, alertou. Jorge Ribeiro, diretor do serviço, corrobora os problemas e acrescenta que existiram 9 vagas protocoladas que não se materializaram em novos recursos humanos. Algo que, conclui, “potencia o recurso à contratação externa”.

Preocupado com todas estas questões, Miguel Guimarães reforçou a disponibilidade da Ordem dos Médicos para colaborar e ajudar na resolução de alguns dos problemas. Nomeadamente a falta de capacidade formativa na região e a necessidade de melhores condições que permitirão maior capacidade de fixação de jovens médicos. Aos internos, o bastonário deixou uma mensagem de esperança. “A Ordem trabalha para vos ajudar, assumindo as vossas preocupações perante a tutela e os governantes”.

A visita terminou com uma reunião com o conselho de administração. Miguel Guimarães mostrou-se preocupado com o facto do Centro Hospitalar do Oeste ser a terceira entidade do país com maior volume de horas contratadas a médicos em regime de prestação de serviços e deixa como principais objetivos “aumentar a capacidade de resposta e motivar as pessoas no serviço público”. Isto porque, explica, com o aumento do número de médicos especialistas a trabalhar exclusivamente em regime privado (cerca de 13 mil), adicionalmente ao número de médicos que trabalham nos dois regimes, “estamos a atingir uma linha vermelha”. “Temos de proteger o SNS”, acautela.

Na visita e na reunião estiveram também presentes Alexandre Valentim Lourenço, presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Nuno Santa Clara, presidente da Sub-Região do Oeste e Joana Louro, membro da Assembleia de Representantes.

 

Veja aqui a Nota de Imprensa da Ordem dos Médicos sobre a visita.