+351 21 151 71 00

Bem-vindos à mais bela e mais complexa profissão do mundo!

Janeiro é o mês em que mais de 2 mil médicos iniciam o seu internato do ano comum, momento que este ano foi assinalado numa sessão virtual que teve uma comissão de boas vindas aos internos constituída por António Lacerda Sales, médico ortopedista e secretário de Estado Adjunto e da Saúde, João Carlos Ribeiro, médico otorrinolaringologista, presidente do Conselho Nacional do Internato Médico, o especialista em Urologia e bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães e o médico intensivista, Gustavo Carona.

João Carlos Ribeiro, demonstrou a sua empatia com estes jovens, frisando que “tiveram um ano terrível e também fantástico com enormes limitações no tratamento dos doentes e no ensino pré e pós-graduado”. Referindo-se aos colegas recém-chegados à profissão como “os pilares do SNS”, explicou a estrutura do Conselho Nacional do Internato Médico, pedindo que vejam nele “um colega que passou pelo mesmo” pois, tendo feito o internato há 20 anos, continua a ser “um médico em formação todos os dias”. Referindo-se a muitas dificuldades que o internato médico enfrenta, alertou que a “aposta no internato é a aposta no futuro do SNS”, expressando o desejo de que as soluções que têm sido propostas possam ser implementadas para que a qualidade da formação médica continue a ser uma realidade em Portugal. Entre as muitas propostas do CNIM, referiu três áreas essenciais: informatização do sistema, recursos humanos na formação médica e médicos na liderança. João Carlos Ribeiro instou os colegas a procurar as melhores formações e a que sejam proativos para conquistar o conhecimento, o mérito e o reconhecimento. “Bem vindos à mais bela e complexa profissão do mundo”, concluiu.

O bastonário da Ordem dos Médicos salientou pontos fundamentais que o presidente do CNIM referiu, nomeadamente a importância da liderança médica que, salientou, tem sido fulcral na resposta à pandemia. Referiu-se igualmente à importância de manter os mais novos no SNS, pois trazem um forte contributo para a inovação, setor essencial para que o SNS tenha melhor capacidade de resposta. Transmitindo uma palavra de profunda gratidão a todos os colegas que assistiam à sessão pelo aporte que cada um dá na sua área específica, e salientando não só o trabalho dos médicos altamente diferenciados como Gustavo Carona (“que tem feito um trabalho magnífico”, enalteceu o bastonário), mas também de todos os outros que dão “os seus contributos que são absolutamente essenciais num momento como este de pandemia”. Neste contexto pandémico, “podermos contar com a ajuda de todos os médicos tem servido para darmos uma resposta positiva e que é melhor que o que tem acontecido na maior parte dos países europeus”. O bastonário agradeceu o facto dos jovens colegas que iniciam agora o seu percurso “terem aceite o enorme desafio de abraçarem a profissão mais complexa, mais humana, mais solidária, mais escrutinada (…) de maior exposição mediática e responsabilidade, mas a mais bela de todas as profissões”.

“Ser médico é uma profissão que tem acima de tudo um nível de responsabilidade, conhecimento e competência sem paralelo na sociedade civil”, uma profissão que tem como pilar fundamental a relação médico/doente, tema central da intervenção de Miguel Guimarães durante o Juramento de Hipócrates, essência da própria medicina. “Mas hoje é melhor centrarmo-nos na importância do SNS: o Serviço Nacional de Saúde é a segunda maior conquista do 25 de Abril, logo a seguir à liberdade, e é uma conquista que tem sido realçada em várias circunstâncias por diferentes políticos, mas sempre esquecendo que a pedra basilar do SNS são as pessoas”, considera Miguel Guimarães.

Recordando que o SNS foi construído com base no documento feito por médicos, o relatório das carreiras médicas, que tornou possível construir o serviço que hoje conhecemos, Miguel Guimarães frisou que “a forma como fazemos formação [pré e pós-graduada], desde o momento em que nos tornamos estudantes de medicina, passando depois pelos vários internatos, criamos um fluxo de trabalho em equipa em que os mais experientes vão ensinando os mais novos e estes vão ensinando muito os mais velhos”, nomeadamente ao colocar questões “que nos obrigam a estar permanentemente atualizados, num sistema que tem assim forma de se autorregenerar que é absolutamente essencial para a nossa finalidade: (…) fazer o melhor que pudermos pelos nossos doentes”.

A concluir a sua intervenção, o bastonário referiu alguns pontos adicionais pedindo aos colegas que saibam defender a relação médico/doente, honrar a profissão de médico e ser médico sem medo, nomeadamente em situações em que estejam em causa as condições de trabalho e a qualidade dos cuidados prestados, frisando o dever do médico denunciar publicamente essas situações.

Gustavo Carona, sem querer dar conselhos aos colegas, optou por um discurso emotivo em que transmitiu o que é a sua experiência como médico: “olho para trás e vejo na minha formação enquanto internista – e depois enquanto intensivista – pessoas cujo conhecimento cientifico mas, acima de tudo, cujo o conteúdo humano que me deixaram palavras que ouço sempre que tenho um caso difícil, quando tenho um dilema ético, quando estou triste, quando não me apetece mais”. Memórias de pessoas às quais vai buscar ânimo: “o que é que elas fariam nesta altura, o que é que eu posso fazer de melhor? Que pessoa é que eu quero ser? Que médico é que eu quero ser?”, questiona-se nesses momentos. “É este juntar da ciência com a humanidade que, na minha opinião, e que deve ser associado a uma enormíssima dose de humildade, que nos faz gostar daquilo que fazemos, que nos faz (…) sentir que estamos numa profissão sem dúvida especial, das poucas profissões que nos identifica enquanto seres pois, quando nos perguntam quem somos, imediatamente as palavras ‘sou médico’ vêm ao nosso discurso mais do que aquilo que gostamos de fazer na vida, mais do que a nossa relação pessoal de filho, de irmão, de pai. Aquilo que nós somos como profissão identifica-nos como poucas outras, isso é um enorme privilégio”.

A encerrar a sessão, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde deixou uma mensagem de humildade e humanismo, reconhecendo os constrangimentos que os jovens tiveram no último ano de formação, nomeadamente em termos da realização dos estágios e alertando para o que ainda os espera pois “a formação que hoje iniciam terá que ser acomodada à atual situação em que vivemos”, mas garantiu que a pandemia não irá pôr em causa a qualidade da formação. “A vacina é a nossa luz ao fundo do túnel; é a vacina e são vocês porque constituem a nossa esperança e certeza de um futuro melhor”, concluiu, pedindo aos colegas que “abracem esta profissão com humildade e humanismo” para que, quando chegarem à sua idade, possam se sentir “tranquilos que fizeram o que podiam pelos vossos doentes”.