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Bastonário lamenta propaganda e injustiça no “prémio” anunciado para alguns profissionais de saúde

Todos sabemos e concordamos que o SNS precisa de mais investimento e de condições de trabalho e de carreira que incentivem mais médicos, e outros profissionais, a ficar a trabalhar no serviço público ou mesmo a regressar – em tempos de pandemia ou fora dela. Ainda assim, recebemos com agrado a notícia, em julho, de que o Parlamento tinha aprovado uma proposta do PSD para dar um prémio pontual aos profissionais de saúde, nesta época de Covid-19. Foi um sinal positivo, mesmo sem resolver os problemas de forma estratégica.

Contudo, o Bastonário da Ordem dos Médicos tomou conhecimento das regras que serão aplicadas ao “prémio” para os profissionais de saúde que estiveram na chamada linha da frente no combate à Covid-19 e não pode deixar de lamentar publicamente a propaganda, injustiça e aproveitamento político que a tutela está a fazer com esta suposta recompensa.

De acordo com as informações vindas a público, o “prémio”, na prática, coloca uma série de entraves e condicionantes que limitarão ainda mais o número de médicos e de outros profissionais de saúde abrangidos. Uma ilusão desonesta que não dignifica nem respeita a responsabilidade, competência e qualidade dos nossos médicos.

A título de exemplo, só são elegíveis para o “prémio” os profissionais que tenham trabalhado pelo menos 30 dias com doentes Covid-19, dos 45 dias do estado de emergência, nada importando se estiveram a contribuir noutras áreas vitais para o sistema de saúde incluindo doentes com Covid-19 ou até se ficaram infetados antes do prazo referido. Na prática estamos perante uma ação de propaganda exercida de forma injusta e que não honra o esforço que tem sido feito pelos médicos nesta pandemia. Recorde-se que, só até ao final de agosto, os médicos já tinham feito 6 milhões de horas extraordinárias, num valor superior a todo o ano de 2019, e que nesta segunda vaga crescerá ainda mais.

Aquando do anúncio do “prémio”, a Ordem dos Médicos manifestou publicamente o seu desacordo com esta forma arbitrária de recompensa, não só por criar uma divisão artificial entre a chamada primeira linha e a retaguarda, mas por deixar de lado o que verdadeiramente falta ao Serviço Nacional de Saúde: investir nas carreiras médicas, reconhecer a profissão como sendo de risco e desgaste rápido e dar condições de trabalho dignas para que os médicos possam tratar os seus doentes.

 

Lisboa, 24 de novembro de 2020