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Bastonário considera “grave e preocupante” 161 vagas por ocupar na escolha de especialidades médicas

Ficaram por preencher 161 vagas para a formação de médicos especialistas. É mais do triplo em relação ao ano passado – 161 em 2022 contra 50 em 2021. A esmagadora maioria das vagas por preencher localizam-se em unidades da Grande Lisboa.

O bastonário da Ordem dos Médicos diz que são dados preocupantes e graves e devem constituir “um alerta para todos”. Miguel Guimarães afirma que é preciso perceber porque é que, do maior concurso de sempre em número de vagas, 161 ficaram em aberto”. Tal como também é preciso analisar “porque é que, dos 2321 candidatos, segundo números da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), 438 recusaram qualquer uma destas vagas, sobretudo no que toca a duas especialidades fundamentais, Medicina Interna e Medicina Geral e Familiar. Ou por que é que a esmagadora maioria das vagas deixadas em aberto pertencem a unidades da Região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), algumas em hospitais centrais?”.
A Região de Lisboa e Vale do Tejo, a par da do Alentejo, foram as mais preteridas pelos jovens médicos de entre as seis especialidades que ficaram com vagas em aberto. O mapa de vagas revela que em Farmacologia Clínica, das 5 vagas nacionais, as duas do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte ficaram por preencher. Em Imunohemoterapia, das 20 vagas nacionais, 9 ficaram por preencher, e todas na região LVT, em centros hospitalares como Lisboa Norte, Lisboa Ocidental e Lisboa Central.O mesmo aconteceu em Medicina Interna, que das 235 vagas nacionais ficou com 67 em aberto, sendo 42 na região LVT – basta referir que os centros hospitalares Lisboa Norte e Lisboa Central tinham, respetivamente, 13 e 14 vagas disponíveis e cada um ficou com 8 vagas por ocupar. Na área da Grande Lisboa, o Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) só conseguiu preencher duas das 8 vagas disponíveis.Ainda em Medicina Interna há a destacar as regiões do Centro, que das 41 vagas disponíveis ficou com 8 por preencher, a do Alentejo, que das 11 vagas só preencheu três, ficando com 8 em aberto, e a do Algarve, que tinha nove para o Centro Hospitalar Universitário e ficou com duas por ocupar.

Miguel Guimarães, em declarações ao Diário de Notícias,  assumiu que se estivesse no lugar do ministro ou do presidente da ACSS e “olhasse para o interior [do país] ficaria em pânico, com as vagas deixadas em aberto e com o número de médicos que se está a reformar ou se vai reformar nos próximos três anos nessas regiões. Nesta altura, já estaria a estudar o problema e a procurar soluções”.

E estas não podem ficar apenas por se tentar pagar mais alguma coisa aos médicos, “há que encontrar outros incentivos para zonas carenciadas, que, hoje, como se vê, não estão só em zonas periféricas, a 200 ou 300 km dos grandes centros, mas também já nestas regiões. Basta olhar para Lisboa. Por isto tenho vindo a defender que é preciso encontrar uma linha especial de apoio, quer na saúde, na habitação e na educação. É preciso haver condições concorrenciais para estas regiões para conseguirmos assegurar e fixar médicos”, argumentou.
O representante máximo da Ordem dos Médicos reforça ser urgente que se “vá ao encontro da expetativa dos médicos e dos portugueses, que pedem um SNS mais forte, com efetivas condições técnicas e humanas para uma medicina de qualidade”.
Recorde-se que, este ano, foram lançadas 2057 vagas para a formação em especialidades médicas, a iniciar em janeiro de 2023. Foi o maior número de sempre, tendo-se ultrapassado a barreira das duas mil. O bastonário assume o feito, até porque foi “a partir dos meus mandatos que este número veio sempre a aumentar”, mas diz não saber até quando vai ser possível manter esta capacidade formativa, porque “os hospitais estão cada vez mais à míngua”, comentou ao DN.
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