Carlos Cortes iniciou o seu primeiro dia de trabalho como bastonário da OM com uma audiência simbólica, ao receber uma delegação de representantes da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP). No encontro foram debatidas as dificuldades relacionadas com a formação pré e pós-graduada, tema de grande relevância para todas as ordens aqui representadas: Brasil, Angola, Cabo Verde e, naturalmente, Portugal.
O bastonário agradeceu primeiro de forma institucional mas rapidamente realçou o aspeto emocional e a felicidade por ter sido agraciado na sua cerimónia de tomada de posse como bastonário por uma das maiores delegações de representantes da Comunidade Médica de Língua Portuguesa neste tipo de evento.
Presentes estiveram: Elisa Gaspar, primeira mulher e a quinta pessoa a assumir os destinos da Ordem dos Médicos de Angola, cargo que assumiu em 2019. Elisa Gaspar explicou o percurso complexo mas muito gratificante que tem feito, realçando com natural orgulho a importância de garantir que só exerce medicina quem está legalmente tutelado para tal (graças ao seu trabalho nessa área, com o seu mandato, o número de médicos inscritos na Ordem angolana mais que duplicou). Entre as muitas atividades que desenvolve não esconde quais lhe trazem maior orgulho: “Hoje coordeno o banco de leite humano em Angola e os bancos de leite da CPLP”.
Jeancarlo Fernandes Cavalcante, presidente da CMLP por indicação do Conselho Federal de Medicina do Brasil e ex- presidente da Confemel. Que contextualizou o trabalho da Comunidade de Médicos de Língua Portuguesa lembrando como a língua portuguesa tem tido um papel fundamental também em termos sociais ao referir como a Guiné-Equatorial adotou o português como língua oficial mas como também teve que proceder à extinção da pena de morte para poder entrar para a CPLP. Neste enquadramento procurou não esquecer nenhum dos países que com quem a CMLP tem tido contactos: da Venezuela, onde há uma comunidade significativa de médicos de língua portuguesa, a Macau, Taiwan, etc. Para este ano o planeamento das atividades, enquadrou o presidente da CMLP, inclui trabalho na área da educação e literacia para a saúde, nomeadamente com a programação de um evento em São Tomé e Príncipe já no dia 5 maio, dia internacional da língua portuguesa, onde se irá realizar que um congresso da CMLP. Será nesse encontro que se irá proceder à entrega do prémio literário criado o ano passado por iniciativa do anterior bastonário da OM portuguesa, Miguel Guimarães. Esta foi uma iniciativa que mereceu especial realce do bastonário Carlos Cortes que vê na cultura um veículo de aproximação e diálogo.
Do Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil estiveram presentes Carlos Magno Pretti Dalapicola, tesoureiro, e Hiran Gallo presidente do CFM, o qual explicou, dirigindo-se a Carlos Cortes, que “para poder estar aqui na sua tomada de posse cancelei todos os eventos que tinha na minha agenda”. “Com certeza se irá aprofundar esta amizade, fortificar raízes e laços. Fiquei muito atento ao seu discurso”, garantiu falando de como “jamais permitiremos que se aceitem médicos sem qualidade” e assegurando o papel do Conselho Federal de Medicina, à semelhança da OM portuguesa e restantes instituições presentes, como uma defensora de medicina de qualidade para todos: “não aceitarei médicos para ricos e para pobres; teremos que ter muita coragem, tal como o senhor disse no seu discurso, para enfrentar” o que possa afrontar esse desígnio. “Quem está com a verdade não vai perder causa nenhuma”, concluiu ao mencionar a importância dos princípios e valores.
Danielson Veiga, Bastonário de Cabo Verde, enquadrou as circunstâncias do seu país, em que “a riqueza está assente no turismo e na formação do homem cabo verdiano”, enaltecendo o papel dos pais que investem o fruto do seu trabalho para que os seus filhos possam ter acesso ao ensino que lhes traga um futuro mais estruturado. Num país com 500 mil habitantes, onde existe 1 milhão de pessoas que optaram por sair do país (fora há “meio milhão nos EUA e meio milhão na Europa”), falta muito apoio à formação e “70% dos médicos ainda não tem especialidade”, razão pela qual neste trabalho da CMLP vê a importância de aproveitar cooperação para potenciar mais e melhor formação de quadros qualificados.
José Manuel Pavão, presidente da Assembleia-Geral da CMLP, definiu como muito “simbólico” que “esta seja a primeira audiência oficial do novo bastonário da Ordem dos Médicos, Dr. Carlos Cortes”. Em termos de enquadramento histórico referiu como “foi através da OM de Portugal que a OM da Guiné Bissau se começou a organizar apesar de todas as dificuldades”, e como foi também a OM portuguesa quem tem pugnado pela tentativa de criação de uma ordem profissional de médicos em Timor. Dirigindo-se a Elisa Gaspar, felicitou-a, enaltecendo o seu trabalho, à semelhança de outros intervenientes desta reunião: “Sou testemunha do trabalho que tens feito, sobretudo um trabalho de muita coragem com as dificuldades imensas que tens enfrentado”, mencionou, garantindo que a CMLP é solidária com os seus membros.
A mobilidade e a facilidade (ou dificuldade) com que se processa foi referida como uma questão fundamental no contexto da formação. Temos que ter um “caminho para permitir aos nossos países irmãos que se autogovernem e que posaam ser autossuficientes no contexto da formação médica”, defendeu José Manuel Pavão que é cônsul honorário da Guiné-Bissau no Porto.
Foram apresentadas algumas propostas para melhorar o apoio que é dado aos países da CMLP para facilitar o acesso à formação especializada de quadros, as quais virão a ser formalizadas pormenorizadamente, a pedido do bastonário da OM portuguesa, para que “no quadro legal, se verifique o melhor caminho”, frisou Carlos Cortes, manifestando o seu apreço por verificar o tom elevado desta reflexão partilhada, elogiando o ambiente saudável que se sente dentro da CMLP. “Identifico-me muito com a importância de uma formação médica de qualidade; estamos todos aqui a trabalhar como amigos e irmãos para aumentar precisamente essa qualidade da formação em todos os nossos países”. “Registem sobretudo a minha boa vontade em colaborar e ajudar – apelou – estou disposto a reforçar estes laços tão importantes para todos nós. (…) Partilhamos a missão de minimizar sofrimento e salvar vidas. Tenho muito orgulho na profissão que exerço. (…) Na medicina encontrei um espaço de solidariedade e humanismo, valores que a profissão médica pode e deve comportar. Nas vossas palavras encontro este sentido humanista hipocrático, que partilho e que nos liga e aproxima”, conclui Carlos Cortes.
Todos os presentes manifestaram de forma unânime otimismo de que se possa vir a encontrar solução para problemas tantas vezes comuns como sejam a perda de quadros qualificados em medicina ou a necessidade de aumentar a base de médicos formadores e capacidades formativas em cada um desses países. Transmitiram igualmente “respeito pela OM de Portugal na pessoa do Senhor Bastonário Carlos Cortes com quem esperamos estreitar estes laços de amizade baseados [tanto na história como] na língua portuguesa”.