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Atividade Física – Importância e dificuldades na sua promoção

Autor: Paulo Santos, médico interno no 4º ano de formação específica em MGF (Unidade de Saúde Familiar Aldoar)

 

Em 2016 a Direcção Geral de Saúde (DGS) criou o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física  (PNPAF), com o intuito de aumentar a sensibilização dos profissionais de saúde, bem como da população portuguesa, para os benefícios que uma vida mais activa pode produzir na saúde física e mental da nossa sociedade. Nesse momento foi criado um documento orientador (a Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, Saúde e Bem-Estar”), onde um dos objectivos é “Promover a atividade física através do profissional de saúde1.

Dentro dos benefícios já estudados e comprovados da atividade física, pode-se destacar a diminuição do risco de doença cardiovascular em cerca de 30-40%2, e sabemos que a maior causa de mortalidade em Portugal, é a doença cardiovascular. Causa essa, responsável por cerca de 30% de todas as mortes em 20163. Mas podemos ainda afirmar que a inatividade física é responsável por outras causas de morte, como por exemplo, a diabetes tipo 2, o cancro da mama ou o cancro do cólon4. Relembro ainda um tipo de patologias, que por vezes são o parente pobre da saúde, mas que por motivos sociais têm ganho uma atenção especial, e que na opinião do autor já há muito merecida, que são as patologias do foro psicológico, onde mesmo nestas já existe evidência científica que demonstra, por exemplo, a diminuição do risco de depressão entre 20-33%5.

Existem contudo contraindicações à atividade física. Estas são no entanto situações extremas, onde o risco de vida é eminente e não a grande maioria das patologias crónicas que como profissionais de saúde observamos diariamente.

Com todos os dados acima descritos e com o crescimento da evidência, que aponta para um benefício ainda mais elevado, quais as grandes dificuldades em aumentar a atividade física na nossa população?

Como primeiro ponto, e talvez um dos mais importantes, está o facto de não ser economicamente apelativo para os grandes grupos farmacêuticos ou outras entidades ligadas ao “negócio” da saúde, pois estes sobrevivem com a doença e não com a saúde dos utentes, daí que as únicas entidades que realmente podem beneficiar economicamente com a atividade física são os utentes e o governo. Estes terão de gastar menos dinheiro em fármacos e em tratamentos, diminuindo os custos das despesas na saúde das famílias portuguesas e na verba do Estado com a Saúde. Mas o grande poder das outras entidades e a forte pressão publicitária que têm, torna difícil a atividade física sobrepor-se a esta publicidade caso não haja uma forte pressão das entidades governamentais nesse sentido. O autor pensa que com o desenvolvimento nos próximos danos do PNPAF isso possa ser cada vez mais uma realidade do que um sonho.

Outro ponto, que torna a aderência, uma das maiores barreiras deste potencial “fármaco”, é o facto de o utente ter de estar comprometido e com força de vontade para alterar o estilo de vida. Verificámos por vezes a dificuldade do utente em aderir a terapêuticas quando, a única dificuldade, é ir à farmácia comprar, abrir uma embalagem e tomar o medicamento. Agora imaginar um utente ter de mudar os seus hábitos, em que há necessidade de sair da sua zona de conforto para ir fazer algo que causa desconforto e que pode por vezes até aumentar a sua dor, podemos perceber a grande dificuldade de aderência. Isto torna ainda mais importante a correcta educação para a saúde dos utentes, seja em forma publicitária, seja no contacto com os profissionais de saúde, pois o benefício deste “fármaco” ocorrerá com a manutenção dos comportamentos e o resultado não é imediato. Mais uma vez a pressão governamental deve ser exercida de forma correcta nas entidades de informação, bem como pressão (reforço) positiva nos profissionais de saúde para questionarem os utentes sobre a atividade física. Também é fundamental fornecer aos profissionais, meios organizacionais, para facilitar a referenciação e a aderência dos utentes, e por outro lado realizar cada vez mais formações para cimentar a importância da atividade física.

Quando o autor refere meios organizacionais para os profissionais de saúde, uma barreira verificada diariamente por estes, não só em relação à atividade física mas a todos os outros componentes implícitos numa consulta, é o tempo que os profissionais têm para esta. Como o autor já referiu antes, este tipo de “fármaco” necessita de uma alteração no estilo de vida, por isso é imperativo haver uma discussão sobre estratégias para que essa alteração ocorra, e estratégias para ultrapassar dificuldades. Percebe-se o porquê da necessidade de tempo para podermos realizar correctamente esta promoção de alterações de estilo de vida.

Com as novas consultas específicas de promoção de atividade física, verifica-se a tentativa de melhorar este último ponto referido pelo autor. Embora ainda não se tenha conseguido cobrir todo o território nacional, na opinião do autor é um ponto de partida positivo de um longo caminho que temos de percorrer, até termos uma comunidade mais activa e assim podermos fornecer este “fármaco” a toda a população.

 

Bibliografia:

  1. Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, da Saúde e do Bem-Estar. Lisboa: DGS, 2016, 17p.
  2. Physical Activity Guidelines Committee. Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report. Washington, DC: Dept of Health and Human Services; 2008
  3. Instituto Nacional de Estatística – Causas de Morte 2016
  4. Lee I, Shiroma EJ, Lobelo F, Puska P, Blair SN, Katzmarzyk PT. Effect of physical inactivity on major non-communicable diseases worldwide: an analysis of burden of disease and life expectancy. 2012;380:219-29
  5. Dishman RK, Heath GW, Lee I‐Physical activity epidemiology, 2nd ed Champaign: Human Kinetics, 2013.