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Algarve: Falta de médicos é “gravíssima”

Nos Hospitais de Faro e Portimão (Centro Hospitalar Universitário do Algarve) a comitiva da Ordem dos Médicos, liderada pelo bastonário, reuniu com médicos, conselho de administração e visitou vários serviços para continuar o seu périplo a várias unidades de saúde onde regista os pontos negativos e positivos que encontra. A falta de camas para operar doentes oncológicos, a escassez de recursos humanos em diversas especialidades como por exemplo Pediatria, Ortopedia, Ginecologia/Obstetrícia e Anestesiologia, instalações de Psiquiatria que não correspondem às boas práticas estando isoladas do resto do hospital e ainda a falta de capacidade de resposta no transporte de doentes urgentes são algumas das principais preocupações. Como pontos positivos foi destacada a vontade que a maioria dos internos tem em ficar a trabalhar na região, se lhes forem fornecidas condições para tal, e o constante empenho de todos os profissionais em prol dos seus doentes.

Miguel Guimarães definiu como “gravíssima” a falta de médicos nos hospitais da região, carência que provoca limitações à segurança clínica dos doentes e à segurança de trabalho dos profissionais. “A falta de médicos é grave e causa fortes limitações a uma resposta adequada e de qualidade aos utentes, limitando a sua segurança”, alertou.

Exemplo disso é a Obstetrícia, em Faro, onde existem apenas 6 médicos com menos de 55 anos. Os colegas fizeram chegar ao bastonário de que seria impossível “ter capacidade de resposta nas escalas caso os médicos” mais velhos “optassem por não fazer urgência noturna”. A Ortopedia conta apenas com 11 especialistas quando devia ter 33, vivenciando uma situação crítica. A Psiquiatria de Faro vive condicionamentos tão simples como a falta de pessoal administrativo entre as 17h e as 21h, o isolamento físico em relação às outras áreas do hospital e a necessidade de se ligar dos telemóveis pessoais para conseguir chamar o INEM. A Radiologia, em Portimão, perdeu 5 especialistas só no último ano e meio e tem falta de, pelo menos, mais 15 médicos. Também em Portimão, a Anestesiologia tem 6 profissionais, dos quais 4 têm mais de 60 anos e a médica mais nova tem 53. A própria presidente do conselho de administração, Ana Paula Gonçalves, considerou faltarem entre 150 a 200 médicos.

Segundo Miguel Guimarães, o facto de os serviços não estarem com a capacidade de resposta adequada pode ter implicações e enalteceu o grande empenho dos profissionais, nomeadamente médicos.

No caso do encerramento temporário do serviço de Pediatria em Portimão, o bastonário lamenta que “se Faro não tiver internamento, elas vão ter de ir para outro sítio. Isto pode sobrecarregar a urgência na Pediatria de Faro e isso pode ter consequências negativas para os doentes”. Mesmo no transporte de doentes há constrangimentos, “para transportar um doente para uma unidade mais diferenciada chega a demorar várias horas e, nalgumas situações de urgência, isto é particularmente complicado. Estamos a falar dos bombeiros, do transporte de doentes ou eventualmente até da ativação do próprio Instituto Nacional de Emergência Médica”, alertou, apelando a que a situação seja “resolvida rapidamente entre todos os envolvidos e, até mesmo, subir a um nível superior, nomeadamente com o Ministério da Saúde”.

“Tem de existir uma capacidade de resposta, porque os doentes é que não podem ficar várias horas à espera de uma ambulância para serem transferidos de Portimão para Faro”, frisou.

À falta de recursos humanos somam-se as deficiências ao nível dos equipamentos. Em Faro existe um único TAC. Mesmo a hipótese de conseguir obter um segundo aparelho fica condicionada por falta de espaço para o colocar. Talvez por isso seja “necessário” a construção de um novo hospital central na região.

Na comitiva da Ordem dos Médicos estiveram ainda presentes João de Deus, membro do Conselho Nacional, Filipa Lança, vogal do Conselho Regional do Sul e Ulisses Brito, presidente da sub-região de Faro. Estiveram também presentes representantes sindicais da FNAM e do SIM, bem como a Associação Oncológica do Algarve.