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A vulnerabilidade e a COVID-19

Autora: Rita Oliveira, Assistente de Medicina Geral e Familiar

 

A presente pandemia pelo novo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, tem soado pelo mundo uma verdadeira preocupação, nomeadamente na comunidade científica e na população.

À data da conclusão deste artigo, no seu total, contabilizam-se 146 847 casos em Portugal e um total de 2590 óbitos. O maior número de óbitos concentra-se nas pessoas com mais de 80 anos, seguindo-se as faixas entre os 70 e os 79 anos.

Apesar deste vírus ter um comportamento semelhante à de uma infeção viral comum, a sua disseminação é bastante mais rápida e, em alguns casos e principalmente nos idosos, pode-se manifestar de forma grave e até mesmo fatal. A explicação para estes dados está no processo biológico chamado envelhecimento, em que com o aumento da esperança média de vida, o número de co-morbilidades tem vindo a aumentar, traduzindo-se numa fase de maior vulnerabilidade. O sistema imunológico sofre modificações que deixam o corpo mais suscetível a infeções, assim como a função cardíaca, capacidade respiratória, função renal e sistema osteoarticular são alterados, conduzindo a que os idosos tenham mais fragilidade.

A insegurança atual face ao comportamento da COVID-19 em idosos poderá levar ao diagnóstico tardio e elevada morbi-mortalidade nesta faixa etária. A abordagem de qualquer patologia no idoso alerta-nos, inerentemente, para os sinais clínicos atípicos desta população. Esta doença não é exceção. A evidência científica tem descrito que estas infeções tipicamente diagnosticadas por sintomas como febre, tosse e dispneia, não são a apresentação padrão nos idosos. A maioria dos casos de infeção pode ser assintomática na fase inicial, sem febre e até mesmo sem anormalidades radiológicas e laboratoriais, ou com sintomas atípicos como declínio funcional, instabilidade postural, delirium, fraqueza, anorexia, cefaleias, hemoptise, diarreia, náuseas/vómitos, dor abdominal, conjuntivite.

Como médica de família, assumo um importante papel no acompanhamento destes utentes ao longo desta fase, nomeadamente numa atitude preventiva e promotora de saúde, envolvendo não apenas o próprio utente, mas também a família e sociedade em que se insere, com o objetivo de promover o bem-estar e prevenir a dependência, as limitações e os problemas decorrentes da doença. No que toca a esta pandemia, a prevenção foca-se primordialmente em 5 aspetos: a hidratação com um aporte adequado de líquidos; a higienização frequente das mãos com água e sabão ou solução alcoólica; a limpeza/desinfeção dos objetos e superfícies bem como o arejamento do ambiente; adesão à vacinação; e restrição de visitas e contatos físicos.

Devemos estar particularmente atentos para o diagnostico precoce face a qualquer alteração do estado geral do utente, alguma mudança repentina pode ser um sinal de alerta para a doença, merecendo uma investigação e avaliação minuciosa. Um ponto a reter nesta população vulnerável é a vigilância clínica após uma alta hospitalar, nomeadamente após a cura, pois a idade associada a infeção é um incidente debilitante, que pode gerar ou agravar a vulnerabilidade do idoso.