+351 21 151 71 00

A verdade sobre a DCI na Madeira

Devido ao imenso ruído que tem impedido uma discussão serena sobre a problemática das trocas de marcas de Genéricos nas farmácias e ao facto de estarmos a assistir a mais outra de uma já longa e complexa campanha de desinformação, a Ordem dos Médicos não podia deixar de chamar a atenção para o comunicado do CEFAR (ANF), em anexo, sobre os resultados da DCI na Madeira, cujo impacto alguns Deputados procuram amplificar no Parlamento.

É um excelente exemplo de como se pode manipular deliberadamente a informação, com dados “verdadeiros” mas misturando diferentes resultados e referências e confundindo conceitos, com o objectivo claro de levar as pessoas menos informadas a acreditar numa ideia que é contrária à verdadeira realidade dos factos e dos números! O objectivo claro é o de tentar levar o Parlamento a adoptar medidas com base em premissas falsas, medidas essas que, a serem tomadas, prejudicariam o País e os Doentes em benefício dos interesses comerciais de alguns.

Por exemplo, repare-se como a taxa de genéricos na Madeira, sendo muito inferior à do Continente e a mais baixa de todos os Distritos, é apresentada como atingindo 43%, mas no mercado concorrencial de genéricos! Quando a Associação Nacional de Farmácias (ANF) e a Ordem dos Farmacêuticos (OF) falam da taxa de genéricos no Continente têm sempre como referência o mercado total do medicamento! Além disso, sintomaticamente, o CEFAR não especifica se a quota a que se refere é em custo, em embalagens, ou em unidades (comprimidos), impossibilitando uma comparação directa com a quota do Continente!

Ainda mais curioso, é que quando o CEFAR compara a redução de custos fá-lo de Setembro 2010 a Setembro 2011, mas quando analisa a evolução da quota de genéricos já compara Agosto 2010 com Setembro 2011… E porquê?! A explicação é simples e demonstra, mais uma vez, a vontade de confundir os mais distraídos! Setembro 2010 foi um mês completamente atípico, porque em Outubro 2010 desceram as comparticipações dos medicamentos, o que levou a que muitos doentes comprassem mais medicamentos em Setembro 2010, para “armazenagem”, visto que iam ficar mais caros em Outubro 2010. Na verdade, comparando com os meses anteriores, na Madeira, o mercado do medicamento em Setembro 2010 foi cerca de 30% superior ao mercado dos meses anteriores!

Daí que, comparando o mês atípico de Setembro 2010 com o mês normal de Setembro 2011, a “descida” da despesa tenha sido, artificialmente, muito acentuada, porque teve como referência um valor 30% acima da média!!!! Algo de semelhante também aconteceu no Continente, aliás.

Todavia, como se venderam mais medicamentos em Setembro 2010, o CEFAR fugiu de usar esse mês como referência para apresentar os dados relativamente à evolução em volume da quota de genéricos, que ficaria negativamente afectada pela atipia de Setembro, pelo que usou o Agosto 2010 como comparação, maximizando o aumento, como se o ano tivesse 13 meses! É uma grosseira, óbvia e indesculpável manipulação de dados e  informação…

Foram estes dados que o Bastonário da OF apresentou no programa Prós e Contras para, maliciosamente e sem possibilidade de contraditório imediato, tentar induzir no público um conceito oposto daquele que os factos demonstram! A DCI na Madeira provou que não aumenta a taxa de genéricos, como poderá facilmente verificar-se no powerpoint em anexo, disponível também no Portal da Ordem dos Médicos, com base nos dados da HMR (ANF)!

Ao contrário do que afirmou o Bastonário da OF no programa Prós e Contras, a experiência da aplicação da DCI na Madeira prova a sua ineficácia em aumentar a quota de genéricos em percentagem absoluta, confirmando as teses da Ordem dos Médicos. A alteração legislativa da Madeira, num território onde a quota de genéricos era a mais baixa do país, não fomentou um crescimento apreciável, mantendo-se ao nível do crescimento nacional. Apesar de partir de valores basais significativamente inferiores, a Madeira nem sequer é o território nacional que mais cresceu, bem pelo contrário. Mais uma vez, os factos confirmam, conforme a Ordem dos Médicos tem afirmado, que a prescrição e a confiança dos Médicos são determinantes para elevar a quota de genéricos.

Tem sido produzida uma inaudita e insuportável campanha de desinformação que apenas visa defender de forma intolerável os imensos interesses comerciais na venda de medicamentos nas farmácias, que são contrários aos interesses do Estado e dos Doentes e à estabilidade clínica e qualidade da saúde destes.

É fundamental manter uma reserva muito crítica relativamente a informações veiculadas por organizações que têm óbvios e brutais conflitos de interesses na política do medicamento. A Ordem dos Médicos reitera a sua total disponibilidade para colaborar com o Governo de Portugal na redução da despesa com a Saúde e no aumento da prescrição de Genéricos, cuja taxa é já de 80% nos trinta princípios activos com genéricos mais vendidos em Portugal.

Em função dos relatos de muitos Colegas, que agora começaram a estar atentos a este pormenor, estamos convictos que a maioria das alterações na Farmácia são para marcas mais caras do que as prescritas pelos Médicos, pois proporcionam um maior lucro ao farmacêutico. Colocámos exactamente essa questão ao Centro de Conferência de Facturas e, passadas três semanas, ainda estamos à espera da resposta…

Quem precisa de recorrer a uma manipulação rústica e primária para tentar provar a sua razão é porque, como é evidente, não tem razão rigorosamente nenhuma!

A Ordem dos Médicos continuará incansável na defesa da verdade, do rigor científico e dos Doentes.

Novembro de 2011

DOWNLOAD
DCI_na_Madeira___Comunicado_CEFAR
Quota_de_mercado_na_Madeira