Uma comitiva da Ordem dos Médicos, liderada pelo bastonário, reuniu com a ministra da Saúde na passada segunda-feira, interrompendo um ciclo de quatro anos em que a tutela optou por não manter um diálogo aberto com os médicos.
Miguel Guimarães considerou positiva a reunião com Marta Temido, afirmando que o “diálogo é fundamental” e reiterou que a Ordem dos Médicos esteve desde sempre disponível para colaborar porque, defende, que “só falando, conversando e fazendo reflexões sobre aquilo que é importante para saúde em Portugal” é que se alcançam os objetivos e se encontram “potenciais soluções” para os problemas existentes.
Em declarações à comunicação social, o bastonário referiu que “questão prioritária” do Governo para a saúde deve ser a transformação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de forma a desenvolver-se “uma capacidade de resposta mais eficaz” e uma nova linha de ação que permita “responder a novos desafios emergentes”. Contudo, o principal foco desta transformação deve ser “conseguir atrair mais médicos e os outros profissionais de saúde. “Não haver um conjunto de médicos e de outros profissionais de saúde” que permitam que o SNS funcione em pleno é uma “questão crítica”, alertou, exemplificando com as 1,2 milhões de pessoas que não têm médico de família atribuído. Miguel Guimarães apontou ainda que um dos principais obstáculos é a forma como se procedem os concursos para contratações no SNS, lamentando que a administração pública seja “uma área muito burocrática, muito pesada e que não permite, por exemplo, autonomia e flexibilidade na gestão, uma governação clínica mais sustentada àquilo que são as nossas unidades de saúde, sejam hospitais, sejam agrupamentos de centros de saúde e os próprios centros de saúde.”
No que toca a questões relacionadas com o Orçamento, o bastonário da Ordem dos Médicos considera que muitas das intenções expressas no programa do Governo para a Saúde exigem “orçamentos adequados”, considerando que “este é o momento-chave para que muitas, ou pelo menos uma parte”, dessas intenções se possam realizar. Revelou que o tema foi falado “ao de leve” uma vez que “a reunião não era para falar do orçamento propriamente dito”, contudo sugere que se considere a hipótese de existirem “orçamentos plurianuais na saúde e até uma lei de meios” que permita responder de “forma mais adequada” às necessidades da população. O representante dos médicos defende também que o orçamento deve permitir que se façam as alterações mais urgentes, que devem ser implantadas o mais rápido possível no Serviço Nacional de Saúde, “porque cada minuto que perdemos é um minuto em que não estamos a dar o melhor de nós para melhorar o acesso dos doentes aos cuidados de saúde”, alertou.
Além do bastonário, na comitiva da Ordem dos Médicos estiveram presentes Alexandre Valentim Lourenço (presidente do Conselho Regional do Sul), Carlos Cortes (presidente do Conselho Regional do Centro), Lurdes Gandra (secretária do Conselho Regional do Norte) e Jorge Penedo (vice-presidente do Conselho Regional do Sul).
Veja também o artigo de opinião publicado por Miguel Guimarães sobre a reunião aqui.