A Ordem dos Médicos, o Colégio da Especialidade de Medicina Interna e a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) assinaram um protocolo que visa a criação de um grupo de trabalho para analisar o futuro da especialidade de Medicina Interna.
A Medicina Interna tem vindo a assumir uma função preponderante na organização hospitalar nacional e viu crescer a sua área de influência, tornando-se a especialidade médica do Hospital. No entanto, no concurso de acesso ao Internato Médico de 2023, a Medicina Interna foi a especialidade com mais vagas por preencher, 58,1% das vagas disponíveis (144). Em 7 Hospitais nenhuma vaga foi ocupada e ficaram por ocupar 24 vagas no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (atual ULS Santa Maria) e no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Centro (atual ULS São José).
O objetivo deste grupo de trabalho será elaborar uma proposta para enquadramento e valorização da Medicina Interna no sistema de saúde português, nomeadamente através de uma redefinição do perfil do médico internista, da atualização do Programa de formação da especialidade de Medicina Interna, que aguarda aprovação da ACSS desde 2018, e da definição das necessidades globais dos serviços de Medicina, inclusive em termos de recursos humanos.
“A situação vivida atualmente em muitos hospitais do país exige uma reflexão urgente para encontrar soluções que permitam dignificar a especialidade de Medicina Interna e torná-la mais atrativa para os jovens médicos. Há vários hospitais que não recebem nenhum interno desta especialidade há 3 anos, uma situação muito preocupante,” refere Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos.
“A excessiva centralização dos cuidados de saúde nas urgências hospitalares coloca uma pressão sobre os médicos que está a afastar muitos profissionais do SNS e em particular de várias especialidades. Importa analisar estas opções e apresentar propostas que contribuam para resolver esta situação,” conclui o Bastonário.
Manuel Teixeira Veríssimo, coordenador do grupo de trabalho para o enquadramento da Medicina Interna no futuro do sistema de Saúde e do Serviço Nacional de Saúde, assinala a premência desta iniciativa: “A Medicina Interna é uma especialidade fundamental, e cada vez mais importante, para o bom funcionamento dos hospitais. O facto de não estar a ser uma especialidade pretendida pelos jovens médicos preocupa a Ordem dos Médicos que tomou a iniciativa, em conjunto com o Colégio da Especialidade de Medicina Interna e com a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, de fazer uma análise e tentar encontrar soluções para esta situação”.
O presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos considera, aliás, que o facto dos jovens médicos não considerarem a Medicina Interna como escolha da sua formação especializada é, por si só, um alerta. “A Medicina Interna é fulcral nos hospitais, cada vez mais. Se os jovens não escolhem a Medicina Interna, tal facto preocupa-nos porque vai criar entropias no sistema de saúde”. Esta comissão, que agora lidera, “é para tentar encontrar soluções”, afirma Manuel Teixeira Veríssimo.
“A redução da atratividade da Medicina Interna tem sido uma preocupação da SPMI. Paradoxalmente, esta talvez seja a especialidade mais atrativa de todas as especialidades médicas, mas a grande sobrecarga de trabalho influencia os projetos profissionais e pessoais dos jovens internistas e acaba por afastá-los”, refere a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Lélita Santos.
“Todos conhecemos as causas do problema e a tarefa deste Grupo de Trabalho é sugerir as soluções. O grupo tem várias gerações de internistas com experiências diferentes, o que vai seguramente enriquecer a discussão e permitir encontrar soluções realistas que possam motivar os jovens, de novo, para a medicina interna”, conclui.
Na assinatura do protocolo que formalizou este importante trabalho conjunto, as duas instituições foram representadas ao mais alto nível: Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, Manuel Teixeira Veríssimo, Presidente do Conselho Regional do Centro, Faustino Ferreira, Presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Interna, e Lèlita Santos, Presidente da SPMI.
Este trabalho culminará com a apresentação de documentos estruturantes para o futuro da especialidade, que serão posteriormente partilhadas com o Ministério da Saúde, o que acontecerá no prazo de 3 meses, conforme estabelecido no protocolo que pode ser lido aqui: Protocolo OM SPMI fev 2024