A pandemia de Covid-19 obrigou a várias mudanças no Serviço Nacional de Saúde, entre elas, o grande aumento do número de consultas não presenciais. Principalmente, através de chamadas telefónicas, mas também através de mensagens, email e videochamadas, foram usados todos os meios disponíveis para consultar, prescrever medicação, pedir e analisar exames. Um estudo publicado pela revista científica da Ordem dos Médicos, a Acta Médica Portuguesa, indica que, dos mais de 2 mil médicos inquiridos, 85,2% não efetuavam consultas não presenciais antes da pandemia, no entanto, de uma forma geral, os profissionais gostariam de continuar a utilizar este método no pós-pandemia.
Entre todos os métodos disponíveis, a chamada telefónica foi, de longe, a opção mais utilizada, tendo sido empregue por 99% dos médicos inquiridos, enquanto a chamada com recurso a vídeo foi a menos utilizada, com apenas 6% dos médicos a afirmarem terem recorrido a este meio. Segundo o estudo da Acta Médica Portuguesa, a videochamada foi mais usada nos hospitais e menos nos centros de saúde, devido à falta de meios existentes nos cuidados de saúde primários. O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, já tinha alertado anteriormente para o “caminho muito grande” que o setor ainda tem por percorrer em termos de digitalização. “Neste momento, não conseguimos fazer, em segurança, aquilo que se chama a telemedicina. Não há condições estruturais em termos de equipamentos ou do desenvolvimento da inteligência artificial que já existe, mas que não está aplicada nos nossos hospitais, nem nos nossos centros de saúde”.
No que toca ao impacto deste avanço no acompanhamento dos doentes, parte da população valoriza a possibilidade de poder ter uma teleconsulta e, assim sendo, defendem que a opção deve manter-se acessível. Contudo, no lado dos utentes é urgente ter em conta a sua dificuldade de adaptação – ou do seu cuidador – às tecnologias de comunicação ou a inexistência dos equipamentos necessários; e no lado clínico, importa enfatizar as dificuldades inerentes à impossibilidade de realizar o exame físico, bem como na transmissão e compreensão de informação clínica do utente ou cuidador. Ambas as situações poderiam ser colmatadas com a existência de investimento que permitisse um maior, e mais eficaz, recurso ao vídeo durante a consulta.
Mesmo com a pandemia a entrar numa fase diferente, tendencialmente menos grave, 70,4% dos inquiridos afirmam que gostariam de continuar a realizar consultas subsequentes através de meios telemáticos. Contudo, mais de metade admite que o suporte de vídeo deveria estar sempre ou quase sempre presente nas consultas não presenciais. No entanto, para que estas consultas possam continuar a existir e, mais importante, a evoluir, é crucial que venham acompanhadas de uma estrutura mais segura e formal. “Os hospitais e os centros de saúde já deviam estar preparados [para a transformação digital], para se conseguir uma resposta mais abrangente, seguindo sempre os princípios fundamentais daquilo que é a relação médico-doente”, reiterou Miguel Guimarães.