Homenagem
O António, dos colegas mais geniais do meu curso, partiu pondo fim ao seu sofrimento.
Era um homem de grande cultura, não como os que habitualmente se julgam por serem coleccionadores de informações, não: era um homem que articulava os conhecimentos e a variedade deles, com crítica. O centro da sua vida era a inteligência, à volta do que faziam sentido a música, o desenho, a escrita, a medicina como arte.
A doença foi-o perseguindo desde jovem e tal facilitou-lhe a leitura nos períodos de isolamento. O seu sentido de grande humor, a crítica acutilante da mediocridade, fez dele um grande amigo, que só as contingências da vida nos separaram mais tarde. Recordo com muita saudade, mas também com a felicidade do grande convívio durante a Faculdade.
Raramente encontramos um homem tão arguto e sensível, que foi um intranquilo criador de modernidades, para estímulo gratuito dos jovens. Assim criou a Arte Contempo, para exposição sem encargos, dos jovens artistas plásticos, com cerca de 70 associados e a que esteve ligado Bartolomeu Cid. Conviveu muito com Almada Negreiros.
Ele foi o principal autor dos textos da revista da nossa récita de curso, dos textos adaptados para músicas hilariantes, entre as quais extractos de óperas que o Fernando Rosa cantou também com a sua excelente voz.
Foi um exemplo de juventude permanente, de desassossegado criador de novidades. A sua humanidade com os doentes era associada a uma grande maturidade clínica.
Aqui fica o meu testemunho sobre um dos homens que mais me sensibilizou e de quem fui grande amigo.
Francisco Crespo
Datas
Nome completo: António Eduardo Mourão de Oliveira Soares
Nome clínico: Oliveira Soares
Cédula profissional: 11949
Especialidade: Medicina Interna
Data de nascimento: 9 de Fevereiro de 1944
Natural de Évora
Data de Inscrição na OM: 13/01/1970
Data de Formatura: 31/12/1969
Faculdade: Universidade de Lisboa
Data de falecimento: 3 de Dezembro de 2017.
Nota: a OM assegura aos herdeiros os direitos de acesso, retificação e apagamento destes dados pessoais.