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Realizou-se no sábado dia 7 o Juramento de Hipócrates na cidade de Coimbra, última cerimónia de acolhimento aos novos médicos deste ano, com toda a sua “carga simbólica e emocional” bem frisada por todos os intervenientes. Nas palavras que dirigiu aos jovens colegas, o Bastonário Carlos Cortes refletiu sobre o poder da autorregulação da profissão, que, frisou, mais do que externa, “tem que estar em nós, todos os dias, em todos os atos que fazemos”. “Esta nova etapa da vossa vida é muito diferente de tudo aquilo que conheceram, porque em vós estará depositada outra responsabilidade: o peso dos atos que realizam com os vossos doentes”, atos que encontram a sua base “nas palavras que irão pronunciar neste Juramento e que terão hoje um extenso significado para vós, palavras que irão ter um significado ainda muito mais profundo ao longo dos próximos anos”, garantiu.

Além de recordar o papel de liderança dos médicos em diversos momentos da história começando pelo “insurgimento dos médicos contra a insuficiência de condições de formação e de prática médica que tinham”, num tempo em que se vivia uma ditadura, estes profissionais “souberam levantar a sua voz e produzir um documento que viria a ser essencial para o que aconteceu 15 anos mais tarde, ao apresentar o relatório das carreiras médicas”. “Mais que um documento laboral”, este relatório explicava que “só fazia sentido fazer medicina se fosse para ajudar todos, em condições de igualdade para todas as pessoas do país”. Noutro momento chave, no “final dos anos 70, os médicos resolveram dispersar pelo país e torná-lo mais justo, mais igual”, através do serviço médico à periferia, “colocando o Serviço Nacional de Saúde (SNS) entre os melhores do mundo, fazendo muito com pouco”, lembrou Carlos Cortes.

Além de enaltecer vários momentos de “força, luta, coragem, entrega e dedicação dos médicos e médicas deste país”, e de instar os colegas a não esquecer que também é preciso que cuidem de si próprios e dos colegas, o Bastonário recordou as palavras de António Arnaut em como “os médicos são o maior valor do SNS”, valor que tem sido negligenciado pelo poder político. “Hoje temos uma crónica de um desastre anunciado no SNS, (…) apesar do grande esforço da Ordem dos Médicos, todos os anos, a identificar capacidades formativas em todos os hospitais e centros de saúde. (…) É preciso fazer mais para atrair e fixar os médicos que são necessários no SNS”. Mas, infelizmente, o trabalho que a instituição tem feito para propor caminhos que possibilitem recuperar a qualidade do SNS tem sido esquecido e ignorado.

Carlos Cortes garantiu aos médicos que, sob a sua liderança, a Ordem não irá desistir de dar o seu contributo, exemplificando com o trabalho que está a fazer, nomeadamente o documento já entregue à tutela para melhorar a atratividade do SNS mas que ficou na gaveta e, mais recentemente, a preocupação com mais um concurso em que muitas vagas ficaram por preencher, com prejuízo potencial para a formação dos colegas e para o futuro e sustentabilidade do SNS. O desafio da humanização, do inconformismo, mas também da esperança, consubstanciaram as palavras finais de Carlos Cortes: “Não se distraiam ou deslumbrem com as novas tecnologias. O fundamental da nossa profissão é o contacto humano”, nessa “relação desigual entre uma pessoa frágil que procura ajuda” e aqueles que têm conhecimento técnico científico para prestar essa ajuda.

“Convido-os a voltarem a estes valores do humanismo, (…) o nosso contacto com o doente nunca poderá ser substituído pela Inteligência Artificial”, declarou, fazendo eco da mensagem profundamente humanista transmitida por Manuel Teixeira Veríssimo, Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, na sua intervenção. Sobre o inconformismo e a esperança, o apelo do Bastonário Carlos Cortes foi para que os colegas não cedam e que “não se conformem com as insuficiências, com as desigualdades, com a falta de formação, com o sofrimento dos outros”, mas antes que “cumpram o papel de defesa acima de tudo dos doentes e da qualidade dos cuidados de saúde que lhes são prestados, mantendo-se reduto “portador de esperança” pois, parafraseando Barack Obama, “nós somos a mudança que procurávamos”.

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