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A Ordem dos Médicos tem estatutariamente o dever de contribuir para a defesa da saúde dos cidadãos e dos direitos dos doentes, assim como divulgar informação relevante e de boa qualidade; Neste espaço divulgamos informação para a saúde baseada em evidência científica, em colaboração com a rede global e independente Cochrane, que trabalha para produzir informação sobre saúde confiável e acessível, sem patrocínio comercial ou outros conflitos de interesse. Pretendemos com estas informações apoiar os Médicos mas também aumentar a literacia e a informação para a saúde dos pacientes por considerarmos que essa é uma das formas de melhor garantir a defesa da saúde e dos direitos dos cidadãos.

15 Perguntas sobre o VIH


A assinalar Dia Mundial de luta contra a SIDA que se assinalada todos os anos a 1 de dezembro, a Ordem dos Médicos lançou nas suas redes sociais esta campanha do Gabinete de Literacia em Saúde da Ordem dos Médicos em colaboração com o Colégio de Doenças Infeciosas.

 

1. Qual a diferença entre VIH 1 e VIH 2?

O VIH-1 e VIH-2 são ambos Lentivírus e fazem parte da família Retroviridae, mas são subtipos diferentes. O VIH-1 tem a origem no chimpanzé-comum (Pan troglodytes) da África Central. O VIH-2 tem origem no sooty mangabey (Cercocebus atys), um tipo de macaco encontrado na África Ocidental. O VIH-1 tende a progredir mais rapidamente para o estádio de SIDA quando não é tratado enquanto o VIH-2 geralmente evolui de forma mais lenta. O VIH-1 é mais facilmente transmissível e está disseminado por todo o mundo e é responsável por 99% dos casos enquanto o VIH2 se encontra sobretudo na Africa Ocidental.

2. O que faz o VIH ao nosso organismo?

O VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) afeta diretamente o nosso sistema imunológico. Ele ataca e destrói as células os linfócitos T CD4, que são fundamentais na defesa do corpo contra infeções. Uma vez dentro da célula T CD4+, o vírus começa a produzir novas cópias e as células vão sendo destruídas. Com o tempo, o sistema imunológico enfraquece tornando-o vulnerável às infeções. O VIH pode também infetar outras células, por exemplo, as células da pele, do cérebro, do trato genital, do coração e dos rins, causando doença nesses órgãos.

3. Quais os sintomas relacionados com a infeção por VIH?

Os sintomas da infeção apresentam-se em duas fases principais: a fase aguda (logo após a infeção) e a fase crónica (em que o vírus pode não causar sintomas evidentes por vários anos). Na fase inicial os sintomas são semelhantes aos de uma gripe e começam geralmente entre 2a a 4a semanas após a exposição e podem ser febre, dor de garganta, dores de cabeça, cansaço extremo, gânglios linfáticos aumentados, manchas na pele, dores musculares e articulares. Após a fase aguda, o VIH entra na fase crónica e a pessoa pode estar durante anos assintomática, mas se não iniciar tratamentovaievoluirparaoestádiodeSIDA(SíndromedaImunodeficiênciaAdquirida). Entre os sintomas mais comuns nesta fase destacam-se: emagrecimento extremo (caquexia), diarreia crónica, febre prolongada, suores noturnos intensos, fadiga extrema, lesões na pele e boca, gânglios linfáticos aumentados e doloridos, dificuldade respiratória, problemas neurológicos.

4. Qual é a incidência do VIH em Portugal e na União Europeia?

De acordo com o último relatório da Direção-Geral da Saúde, em Portugal, durante o ano de 2022 ocorreram 804 novos casos o que dá uma taxa de novos diagnósticos 7,7 casos por 100.000 habitantes. Existem 3 distritos com taxas mais elevadas com 10,9; 10,3; e 9 /100.000 para Lisboa, Viana do Castelo e Setúbal respetivamente. De acordo com último relatório do ECDC ocorreram 110.486 na EU globalmente no ano de 2022 o que dá uma taxa global de 12,4/100 000 habitantes. A taxa foi mais elevada no Leste 30,7 /100 000 do que no Ocidente e Centro com valores de 5,1 e 4,5/100 000 habitantes respetivamente.

5. Porque é que se fala tão pouco de VIH na comunicação social?

Embora o VIH continue a ser um problema de saúde pública importante em muitas partes do mundo, incluindo em Portugal e na União Europeia, no entanto recebe menos atenção dos meios de comunicação social comparado com outros problemas de saúde. A resposta a esta questão é complexa porque envolve vários fatores:
1-Com a evolução do tratamento e a redução da mortalidade, o VIH passou a ser uma doença crónica e perdeu o sentido de urgência mediática que teve nas suas fases iniciais.
2-O financiamento para as campanhas de Informação e prevenção foi reduzido em muitos países.
3-O estigma social e tabus em torno do VIH fazem dele um assunto «incómodo» para falar o que ajuda a criar ou perpetuar preconceitos, tanto por parte da sociedade como das próprias pessoas afetadas, que evitam falar abertamente sobre o VIH. Isso resulta numa baixa visibilidade do tema, apesar da importância de manter a consciencialização da população.

6. Quando é que devo fazer um teste de VIH?

Fazer um teste de VIH é fundamental para detetar precocemente a infeção e iniciar o tratamento adequado o quanto antes. As 3 principais indicações para fazer o teste são: como parte de exames de rotina, após uma possível exposição ao VIH, se tiver sintomas relacionados com a infeção.

7. Sou jovem e quero iniciar a vida sexual tenho algum risco de apanhar VIH?

Sim, como qualquer outra pessoa, os jovens também podem estar em risco de contrair o VIH ao iniciar a vida sexual, pois por desconhecimento, pensando que é uma doença de mais velhos, assumem comportamentos de risco, acabando por ficar infetados. As relações sexuais sem preservativo tanto vaginais, anais como orais, aumentam o risco de infeção por VIH. O preservativo é a única forma de prevenção que protege contra o VIH e outras infeções sexualmente transmissíveis. Usá-lo corretamente em todas as relações sexuais é uma das maneiras mais eficazes para se proteger. Para jovens com risco aumentado de infeção, com parceiros múltiplos ou homens que tem relações com homens existe também uma medida adicional que consiste na toma de um medicamento preventivo, PREP (profilaxia pré-exposição).

8. O VIH transmite-se através da saliva, lágrimas ou suor?

Não,oVIHnãosetransmiteatravésdasaliva,daslágrimasnemdosuor. ParaqueoVIHseja transmitido, é necessário um volume significativo de fluidos infetados (como sémen, fluidos vaginais ou sangue), que contenham carga viral alta o suficiente para superar as defesas naturais do corpo humano. A saliva, as lágrimas e o suor contêm quantidades de VIH muito pequenas para que ocorra a transmissão.

9. Ainda é importante falar de VIH e modos de transmissão nas escolas?

Sim, ainda é muito importante falar sobre o VIH e os modos de transmissão nas escolas, especialmente para jovens que estão a começar a explorar sua sexualidade e a tomar decisões sobre saúde sexual. A educação continua a ser uma ferramenta essencial na prevenção, diagnóstico precoce e redução do estigma em torno do VIH.
As novas infeções continuam a ocorrer entre os jovens. Ensinar os jovens a usar preservativos de maneira correta e consistente durante as relações sexuais é uma das formas mais eficazes de prevenção. A educação nas escolas também pode incluir informações sobre a Profilaxia pré- exposição PrEP, um medicamento preventivo eficaz para pessoas em risco elevado de contrair VIH. AS informações sobre os testes de diagnóstico e os momentos em que devem ser feitos é muito importante paraa os diagnósticos precoces.
O estigma em torno do VIH ainda é um grande problema, e muitas vezes os jovens têm ideias erradas sobre a transmissão e sobre o modo como conviver com pessoas que vivem com VIH. A educação nas escolas ajuda a combater mitos e preconceitos.
Falar sobre VIH nas escolas pode salvar vidas, e também contribui para uma sociedade mais informada, empática e respeitosa.

10. Há alguma diferença entre infeção por VIH e SIDA? Quem está infetado por VIH, tem SIDA?

Ter a infeção pode apenas corresponder a um estádio inicial em que o vírus está presente no corpo, mas a pessoa ainda está saudável e não apresenta sintomas relacionáveis com este vírus. A SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é o estágio mais avançado da infeção pelo VIH, quando o sistema imunológico já foi gravemente comprometido e a pessoa apresenta um conjunto de sintomas e infeções graves ou tumores. Nem todas as pessoas com VIH desenvolvem SIDA. Com os tratamentos antirretrovíricos disponíveis atualmente, uma pessoa que vive com VIH pode viver uma vida longa e saudável sem nunca desenvolver SIDA.

11. Eu sou positiva para VIH o que preciso fazer para não transmitir a infeção ao meu bebé?

Se é seropositiva e está grávida, é perfeitamente possível evitar a transmissão do VIH ao seu bebé. A medida mais importante para prevenir a transmissão ao bebé é a introdução do tratamento antirretrovírico logo no início da gestação que vai controlar a replicação do vírus, deixando a carga viral indetetável no organismo. Quando a carga viral não está indetetável está recomendado um parto por cesariana em vez de um parto vaginal. Após o parto deve evitar-se a amamentação pois esta pode transmitir o VIH.

12. Sou positivo. Como posso estar seguro de que não transmito a minha infeção a outros?

A forma mais eficaz de evitar a transmissão do VIH é tomar medicamentos antirretrovíricos corretamente. O tratamento mantém a carga viral no sangue em níveis indetetáveis. Indetetável = Intransmissível (I = I) está cientificamente comprovado e é uma das mensagens mais importantes
no tratamento do VIH hoje. O uso de preservativos (masculinos ou femininos) durante qualquer relação sexual (vaginal, anal ou oral) é uma das formas mais eficazes de prevenir a transmissão de VIH e outras infeções sexualmente transmissíveis (IST). Se não estiver com a carga viral indetetável o seu parceiro pode tomar profilaxia (PrEP) até já não haver risco de transmissão.

13. Existe alguma vacina para o VIH?

Atualmente, ainda não existe uma vacina para o VIH. O VIH continua a ser um grande desafio para a ciência em grande parte devido à sua capacidade de mutação rápida e à forma como ele ataca e se esconde no sistema imunológico, dificultando o desenvolvimento de uma vacina eficaz. No entanto, as pesquisas para uma vacina contra o VIH continuam a ser uma prioridade científica, e há avanços promissores.

14. Em Portugal já se podem fazer tratamentos injetáveis para o VIH? Quais os benefícios?

Sim, em Portugal, já estão disponíveis tratamentos injetáveis para o VIH que apresentam uma eficácia semelhante aos outros tratamentos orais de toma diária. Os tratamentos injetáveis têm alguns benefícios: melhoram a adesão ao tratamento, evitam que se tenham de transportar os comprimidos quando as pessoas se deslocam (em trabalho, de fim-de-semana, férias etc), oferecendo um modo mais discreto e conveniente de tratamento, evitam os efeitos secundários gastrointestinais (sentidos por algumas na toma de medicação oral).

15. Qual é a diferença entre PREP e PPE para o VIH ?

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e a PPE (Profiaxia Pós-Exposição) são duas estratégias de prevenção altamente eficazes contra a infeção por VIH. O principal objetivo da PrEP é prevenir a infeção por VIH antes da exposição de risco. É altamente eficaz quando tomada corretamente, com uma taxa de proteção de cerca de 99% quando usada de forma consistente. A PPE é um tratamento de emergência que se faz após a exposição ao risco e pretende impedir que o VIH se replique no corpo e estabeleça a infeção. Deve ser iniciada o mais rápido possível após a exposição, até um máximo de 72 horas (quanto mais cedo, melhor a eficácia). O tratamento é tomado durante 28 dias. Tem uma eficácia inferior à PrEP (80-85% se iniciada dentro de 72 horas).

A acupuntura e terapias relacionadas ajudam os fumadores que estão a tentar parar de fumar?

Analisámos a evidência que a acupuntura, a acupressão, terapia a laser ou estimulação elétrica ajuda as pessoas que estão tentando parar de fumar.

Contexto

A acupuntura é uma terapia tradicional chinesa, geralmente usando agulhas finas, inseridas através da pele em pontos específicos no corpo. As agulhas podem ser estimuladas manualmente ou usando uma corrente elétrica (eletroacupuntura). Terapias relacionadas, em que os pontos são estimulados sem o uso de agulhas, incluem acupuntura, terapia com laser e estimulação elétrica. Agulhas e acupuntura podem ser usados apenas durante as sessões de tratamento, ou estimulação contínua pode ser fornecida usando permanência agulhas ou esferas ou sementes grudadas para pontos de acupressão. O objectivo destas terapias é reduzir os sintomas de abstinência que pessoas sentem quando tentam parar de fumar. A revisão olhou para ensaios comparando tratamentos activos com tratamentos falsos ou outras condições de controlo, incluindo aconselhamento ou um tratamento eficaz como a terapia de reposição de nicotina (NRT). O tratamento falso envolve a inserção de agulhas ou aplicar pressão em pontos do corpo onde não se acredita que têm um efeito ativo, ou usando agulhas fictícias que não passam pela pele, ou laser inativo ou os aparelhos de eletroestimulação. Usando este tipo de controlo significa que os pacientes não devem saber se eles estão a receber tratamento ativo ou não.

De modo a avaliar se houve um benefício sustentado em ajudar as pessoas a parar de fumar, nós olhamos para a proporção de pessoas que estavam sem fumar pelo menos seis meses após a data de parar. Também analisámos os resultados a curto prazo, até a seis semanas após a data de parar. É necessário haver evidência de benefício após seis meses para aceitar que um tratamento pode ajudar as pessoas a parar de fumar permanentemente.

Características dos estudos

Incluímos 38 ensaios aleatorizados publicados até outubro de 2013. Os ensaios testaram uma variedade de diferentes intervenções e controlos. Os pontos específicos utilizados, o número de sessões e se houve estimulação contínua variou de acordo com o estudo. Três estudos (393 pessoas) compararam a acupuntura com um controlo de lista de espera. Dezanove estudos (1.588 pessoas) comparam a acupuntura ativa com a acupuntura falsa, mas apenas 11 desses estudos incluíram o acompanhamento a longo prazo de pelo menos seis meses. Três estudos (253 pessoas) compararam a acupressão a acupressão falsa, mas nenhum tinha acompanhamento a longo prazo. Dois ensaios usaram estimulação com laser e seis (634 pessoas) usaram eletroestimulação. A qualidade geral da evidência foi moderada.

Principais conclusões

Três estudos compararam a acupuntura com um controlo de ficar numa lista de espera. Reportaram a abstinência a longo prazo e não mostraram evidência de benefício. Para acupuntura comparada com acupuntura falsa, houve fraca evidência de um pequeno benefício a curto prazo, mas não de qualquer benefício a longo prazo. A acupuntura foi menos eficaz do que a terapia de reposição de nicotina (NRT) e não demonstrou ser melhor que o aconselhamento. Havia evidência limitada que a acupuntura é superior à acupuntura falsa na curto prazo, mas nenhuma evidência sobre efeitos a longo prazo. Numa análise do subgrupo de ensaios onde o tratamento incluiu a estimulação contínua, os estudos que usaram formas contínuas de acupressão para pontos na orelha tinham o maior efeito de curto prazo. A evidência de dois ensaios usando estimulação do laser foi inconsistente. Os sete ensaios de eletroestimulação não sugerem haver evidência de benefício em comparação comparada a falsa eletroestimulação.

A revisão não encontrou evidência consistente que a acupuntura ativa ou técnicas relacionadas aumentaram o número de pessoas que com êxito em parar de fumar. No entanto, algumas técnicas podem ser melhores do que não fazer nada, pelo menos a curto prazo, e não há evidência suficiente para descartar a possibilidade de que poderiam ter um efeito maior do que o placebo. São propensos a ser menos eficaz do que atuais intervenções baseadas em evidência. São seguros quando aplicado corretamente.

Notas de tradução: Tradução de Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina de Lisboa

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Tobacco Addiction Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD000009.pub4/full

Serão os agentes antiagregantes plaquetários benéficos para os doentes com doença renal crónica?

Os doentes com doença renal crónica (DRC) apresentam um risco aumentado de doença cardíaca que pode impedir o fornecimento de sangue ao coração ou cérebro causando enfarte agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Os fármacos destinados a prevenir a formação de coágulos de sangue (agentes antiplaquetários) podem prevenir mortes causadas por coágulos nas artérias da população adulta em geral. No entanto, poderão existir menos benefícios para doentes com DRC dado que a ocorrência de coágulos nas artérias é uma causa menos frequente de morte ou de internamento comparativamente à ocorrência de insuficiência cardíaca ou morte súbita nestes doentes. Os doentes com DRC também apresentam uma tendência aumentada para hemorragia devido a alterações nos mecanismos de formação de coágulos. Os agentes antiplaquetários podem apresentar risco acrescido em doentes com DRC. Esta revisão avaliou os benefícios e riscos da utilização de agentes antiplaquetários para prevenir doença cardiovascular e morte e melhorar a função do acesso vascular para hemodiálise em doentes com DRC. Foram identificados 44 estudos comparando agentes antiplaquetários com placebo ou ausência de tratamento e seis estudos comparando diretamente um agente antiplaquetário com outro.

Agentes antiplaquetários previnem enfarte agudo do miocárdio, mas não previnem morte ou acidente vascular cerebral e aumentam as hemorragias ligeiras e graves em doentes com DRC. O acesso vascular (fístula ou enxerto de Gore-Tex) é mantido com terapêutica antiplaquetária, mas a utilização de fármacos antiplaquetários não melhora a maturação da fístula ou a sua adequação para realização de hemodiálise. Os benefícios (menor número de morte e de enfartes) e riscos (hemorragia) ocorrem independentemente do estádio de DRC ou do tipo de antiplaquetário utilizado. Mais estudos sobre fármacos antiagregantes plaquetários são necessários em doentes com DRC, particularmente nos doentes transplantados renais. São também necessários estudos que comparem fármacos antiagregantes plaquetários entre si, particularmente novos fármacos e que determinem qual o melhor tratamento para doentes simultaneamente com DRC e doença cardiovascular aguda e que avaliem também o tratamento para melhorar a maturação do acesso vascular para hemodiálise.

Notas de tradução: Tradução de Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD008834.pub3/full

Tratamento antibiótico para bacteriúria assintomática

O crescimento de bactérias na urina sem quaisquer queixas associadas (bacteriúria assintomática) é comummente detetada em mulheres com idade superior a 60 anos, pessoas com diabetes e em idosos. Não é claro se o tratamento antibiótico para esta doença é benéfico em mulheres adultas não-grávidas.

Foram incluídos nesta revisão nove estudos de qualidade média a alta, envolvendo 1614 participantes institucionalizados ou em ambulatório, os quais receberam antibiótico ou placebo/ausência de tratamento, destinado ao tratamento de bacteriúria assintomática. Foram incluídos nesta revisão ensaios com diferentes durações de tratamento e de seguimento. A evidência incluiu dados atuais, até Fevereiro de 2015. Não foi detetado benefício clínico do tratamento com antibióticos. Os antibióticos eliminaram o crescimento de bactérias num número mais elevado de participantes, mas à custa de um número mais elevado de efeitos adversos do que nos grupos sem tratamento.

Notas de tradução: Tradução de Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD009534.pub2/full

Os anti-inflamatórios e opióides podem aliviar significativamente a dor na cólica renal aguda, mas os opiáceos (especialmente petidina) causam mais efeitos adversos

A cólica renal aguda ocorre quando minerais ou orgânicos sólidos passam o trato urinário e obstruem o fluxo urinário. Isso causa uma dor severa de início súbito, que irradia de flanco para a virilha e requer tratamento imediato com analgésicos. Também pode causar náuseas, vómitos, hipertensão e sangue na urina. Os opióides e os anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs) são comummente usados para reduzir a dor. A revisão concluiu que os AINEs e os opióides reduzem significativamente a dor. As pessoas experimentaram mais efeitos adversos, tais como vómitos, quando usaram os opióides (particularmente petidina) do que quando usaram anti-inflamatórios não-esteróides.

Notas de tradução: Tradução por Mariana Morgado, Serviço de Cirurgia Pediátrica, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD004137.pub3/full

Contexto

Os adolescentes podem precisar de apoio adicional na gestão da asma, pois correm maior risco de não tomar seus inaladores adequadamente e de se participarem em atividades que podem tornar sua asma pior (como fumar). Queríamos saber se as sessões lideradas por pares ou por líderes leigos (isto é, não profissionais de saúde) ajudam a reduzir estes riscos e levam a uma asma melhor controlada. Incluímos estudos que compararam este apoio com os cuidados habituais ou com um tipo diferente de ajuda. Realizamos as pesquisas mais recentes em 25 de novembro de 2016.

Características dos estudos

Encontramos cinco estudos, incluindo 1146 adolescentes com asma. Os estudos variaram no desenho, duração (2,5 a 9 meses), ambiente (escola, acampamento de dia, cuidados primários) e a forma como o apoio dos pares ou sessões conduzidas por leigos foram dadas. A gravidade da asma variou, assim como o número de fumadores. Três estudos utilizaram um programa chamado Triple A (Adolescente Asthma Action), pelo qual adolescentes mais velhos são treinados para oferecer sessões para os alunos mais jovens. Um dos estudos testou a adição de uma promessa de parar de fumar enquanto outro entregou sessões de grupo de apoio de pares, incluindo mensagens jogadas através de um leitor de mp3 para incentivar a adesão. O terceiro comparou um acampamento de dia de asma liderado por pares contra um liderado por enfermeiras e médicos.

Principais resultados

Adolescentes que receberam apoio de pares tiveram melhor qualidade de vida do que aqueles no grupo controlo, embora isso variasse com a forma como os resultados foram analisados, explicando assim a incerteza à volta do resultado. A maioria dos outros resultados não mostrou que a intervenção tivesse um benefício importante. Os estudos forneceram pouca informação sobre crises de asma ou visitas não programadas durante o estudo, e não se pode ter certeza se a intervenção foi benéfica em termos de controlo da asma. Os resultados de dois estudos em que muitos dos adolescentes eram fumadores mostraram alguma promessa de que os adolescentes tinham a confiança necessária para parar, mas a dependência global de nicotina e o conhecimento relacionado ao fumo não foram muito melhores do que nos controlos. Os estudos não forneceram relatos de eventos adversos.

Qualidade da evidência

Não podemos ter certezas em relação aos resultados porque a maioria destes foi avaliada por pessoas que conheciam o grupo a que os adolescentes foram atribuídos, o que pode afetar a forma como se responde às perguntas. Alguns estudos não publicaram toda a informação que tinham dito que iriam publicar, ou relataram informações que não foi possível analisar. Por vezes, os resultados dos estudos não concordavam com os resultados de outros estudos, e muitas vezes não se podia dizer com certeza se os adolescentes receberam benefício. Por estas razões, temos baixa confiança em todos os achados do estudo.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 19 Abril 2017

 

Autores: Kew KM, Carr R, Crossingham I

 

Grupo de Revisão Principal: Airways Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD012331.pub2/abstract

A questão
O cancro pode resultar num grande sofrimento emocional, físico e social. O tratamento atual do cancro incorpora cada vez mais intervenções psicossociais para melhorar a qualidade de vida. Musicoterapia e música medicina intervenções têm sido utilizadas para aliviar os sintomas e efeitos colaterais do tratamento e precisa de endereço psicossocial em pessoas com câncer. Nas intervenções da músicas na medicina, a pessoa simplesmente ouve música pré-gravada que é oferecida por um profissional da saúde. Musicoterapia requer a implementação de uma intervenção de música por uma musicoterapeuta treinado, a presença de um processo terapêutico e o uso de experiências de música pessoalmente sob medida.

O objectivo da revisão
O objectivo da revisão é de atualizar uma revisão de Cochrane de 2011, que incluiu 30 estudos e encontrou apoio para um efeito de intervenções de música em vários resultados físicos e psicológicos. Para esta atualização procuramos ensaios adicionais, estudando o efeito das intervenções de música sobre os resultados físicos e psicológicos em pessoas com cancro. Procuramos por estudos publicados e em curso até janeiro de 2016. Consideramos que todos os estudos em que a musicoterapia ou música médica foi comparada com o tratamento padrão sozinho ou combinado com outros tratamentos ou placebo.

Quais são as principais conclusões?
Identificámos 22 novos estudos, e assim esta revisão atualizada agora incide sobre 52 estudos com 3.731 participantes. Os achados sugerem que a musicoterapia e as intervenções de música médica podem ter um efeito benéfico sobre a ansiedade, dor, fadiga, frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial em pessoas com cancro. Por causa da muito baixa qualidade da evidência para a depressão, é pouco claro o possível impacto das intervenções de música. Musicoterapia, mas não as intervenções da música médica podem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não encontramos evidência que as intervenções de música melhoram o humor, mau-estar ou funcionamento físico, mas poucos estudos investigaram estes efeitos. Não podemos tirar quaisquer conclusões sobre o efeito das intervenções de música sobre funcionamento imunológico, coping, resiliência ou resultados sobre a comunicação porque não havia estudos suficiente a investigar estas questões. Portanto, é necessária mais investigação.

Nenhum efeitos adverso das intervenções de música foi reportado.

Qualidade da evidência
maioria dos julgamentos foram de alto risco de viés, assim que estes resultados devem ser interpretados com cautela. Nós não identificámos qualquer conflito de interesses nos estudos incluídos.

Quais são as conclusões?
Podemos concluir que as intervenções de música podem ter efeitos benéficos sobre a ansiedade, dor, fadiga e qualidade de vida em pessoas com cancro. Para além disso, a música pode ter um pequeno efeito positivo na frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial. Redução da ansiedade, fadiga e dor são resultados importantes para as pessoas com cancro, uma vez que têm um impacto sobre a saúde e a qualidade de vida em geral. Portanto, recomendamos que se considere a inclusão de musicoterapia e intervenções de música médica no tratamento psicossocial do cancro.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada:15 Agosto 2016

 

Autores: Bradt J, Dileo C, Magill L, Teague A

 

Grupo de Revisão Principal: Gynaecological, Neuro-oncology and Orphan Cancer Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

https://doi.org/10.1002/14651858.CD006911.pub3

Pergunta de revisão: Analisámos os benefícios e os riscos do celecoxib, um fármaco usado no tratamento da osteoartrose, com vista a avaliar o seu efeito na melhoria da dor, mobilidade, qualidade de vida e perfil de segurança.

Contextualização: A osteoartrose, uma doença articular que afeta sobretudo os joelhos e as ancas, surge quando existe desgaste da cartilagem articular, causando dor, rigidez e inflamação. Estas alterações são responsáveis por uma limitação da mobilidade e redução da qualidade de vida. O celecoxib é comercializado como sendo tão eficaz como os anti-inflamatórios tradicionais (AINEs como o naproxeno e o diclofenac) mas com um menor risco para o sistema gastrointestinal, entre outros problemas.

Características dos estudos: Efetuámos a pesquisa até Abril de 2017 e incluímos 36 ensaios clínicos, num total de 17,206 adultos envolvidos, que receberam 200mg de celecoxibe diariamente (9402 participantes), outro fármaco (naproxeno – 6 ensaios clínicos, ou diclofenac – 3 ensaios clínicos, num total de 1869 participantes) ou um tratamento falso (placebo – 32 ensaios clínicos, 5935 participantes).

Em média, os participantes tinham 62 anos e sofriam de osteoartrose há 7,9 anos. Os participantes tinham osteoartrose dos joelhos, ancas, ou ambas as articulações; a maioria eram mulheres, de raça caucasiana.

Fontes de financiamento dos estudos: A maioria dos estudos (34/36) foi financiada pelas farmacêuticas responsáveis pela produção dos fármacos estudados e (34/36) incluiu autores que trabalhavam para as mesmas empresas.

Resultados chave: Comparado com placebo, o celecoxib demonstrou uma redução ligeira da dor, melhoria da função física e provavelmente não foi responsável por um aumento do número de participantes que desistiram dos ensaios clínicos por problemas relacionados com o tratamento. No entanto, é pouco provável que estes resultados sejam clinicamente significativos. Devido à muito baixa qualidade da evidência científica, estamos incertos sobre se o tratamento com celecoxib resultou em eventos adversos, tais como gastrointestinais ou cardíacos, quando em comparação com o placebo. No entanto, existem várias advertências por parte de agências reguladoras de medicamentos, quanto ao risco aumentado de problemas cardíacos com o tratamento com celecoxib.

O celecoxib e os AINEs tradicionais demonstraram igual eficácia na redução da dor; o celecoxib demonstrou um efeito ligeiramente superior na melhoria da função física. A evidência científica que comparou o celecoxib aos AINEs tradicionais foi de baixa ou muito baixa qualidade, pelo que não é possível afirmar se os efeitos adversos ocorridos (como os cardíacos e gastrointestinais) resultaram do tratamento com estes fármacos.

Nenhum estudo de elevada qualidade metodológica avaliou o efeito sobre a qualidade de vida.

Qualidade da evidência: A qualidade da evidência científica foi baixa, pelo que os resultados devem ser interpretados com prudência. Uma vez que o patrocínio por parte de companhias farmacêuticas pode levar a resultados e conclusões mais favoráveis do que o patrocínio por parte de outras fontes, temos bastantes dúvidas quanto aos resultados, em virtude do forte envolvimento da indústria farmacêutica nos ensaios clínicos e da baixa quantidade de informação disponível.

Não conseguimos obter informação sobre três ensaios clínicos que incluíram um total de 15.539 participantes (a aguardar avaliação); A Pfizer não concordou em disponibilizar os dados sobre dois relatórios que envolveram 14.042 participantes.

É necessário ter acesso aos resultados de todos os ensaios clínicos, de forma a poder compreender melhor os benefícios e riscos do celecoxib e outros tratamentos. São necessários novos ensaios clínicos que investiguem os benefícios e os riscos do celecoxib em comparação com os AINEs tradicionais, em pessoas com osteoartrose, com períodos de seguimentos mais longos, mais comparações diretas com outros AINEs tradicionais, e com fontes de financiamento sem interesses comerciais.

Notas de tradução: Tradução de Guilherme Ferreira Dos Santos, Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central; Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência; com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Musculoskeletal Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD009865.pub2/full

Contexto: Os corticóides (glucocorticosteróides) são amplamente utilizados para tratar inflamação. A perda óssea (osteoporose) e as fraturas da coluna vertebral são efeitos colaterais graves desta terapia. Os bisfosfonatos são considerados um tratamento de primeira linha para a osteoporose e têm sido usados desde a década de 1990.

Métodos: Examinámos os estudos publicadas até abril de 2016 e encontrámos um total de 27 ensaios elegíveis, que incluíram 3075 adultos com doenças inflamatórias com necessidade de tratamento com corticoesteróides por, pelo menos, um ano. Os participantes foram aleatoriamente designados para receber qualquer tratamento com bifosfonatos (isoladamente, associado a cálcio ou vitamina D ou ambos) ou ‘nenhum tratamento’ ( cálcio, vitamina D ou um placebo). Os nossos objetivos foram determinar os benefícios e malefícios do tratamento com bisfosfonatos em adultos submetidos a terapêutica com corticoesteróides a longo prazo.

Resultados principais

Fraturas da coluna vertebral de novo (12 a 24 meses)

Encontraram-se 12 ensaios que incluíam um total de 1343 pessoas para esta análise. Observou-se que 77 em cada 1000 pessoas sem tratamento sofreram uma nova fratura vertebral em comparação com 44 em cada 1000 (intervalo 27-70) pessoas sob tratamento com bifosfonatos. Trata-se de um benefício absoluto de 2% menos participantes (5% a menos para 1% mais) a sofrer uma nova fratura da coluna vertebral quando sob tratamento com bifosfonatos.

Cerca de 31 pessoas (intervalo 20-145) precisam de ser tratadas com bisfosfonatos para evitar fraturas da coluna vertebral em uma pessoa.

Fraturas não-vertebrais de novo (12 a 24 meses)

Encontraram-se nove ensaios com 1245 pessoas para esta análise. Observou-se que 55 em 1000 pessoas sem tratamento sofreram novas fraturas não-vertebrais, em comparação com 42 por 1000 (intervalo 25-69) pessoas a tomar bifosfonatos. Trata-se de um benefício absoluto de 1% menos pessoas (4% a menos para 1% mais) a sofrer fraturas não-vertebrais quando se encontram a tomar bifosfonatos.

Densidade mineral óssea (DMO) da coluna lombar aos 12 meses

Encontraram-se 23 ensaios que incluíam um total de 2042 pessoas para estudar este desfecho. Observou-se que a DMO da coluna lombar de pessoas sob tratamento com bifosfonatos era 3,5 % mais elevada (2,90% a 4,10%) do que em pessoas que não foram submetidas a nenhum tratamento

Aproximadamente três pessoas (intervalo 2-3) precisam de ser tratadas com bifosfonatos durante 12 meses para uma pessoa ver uma diferença minimamente significativa na DMO na coluna lombar.

DMO do colo do fêmur (parte superior do osso da coxa) em 12 meses

Encontraram-se 18 ensaios com um total de 1665 pessoas para estudar este desfecho. Identificou-se que a DMO do colo do fêmur foi 2,06% mais elevada no grupo a fazer tratamento com bifosfonatos (1.45 a 2.68% mais) do que no grupo sem tratamento.

Aproximadamente cinco pessoas (intervalo 4-7) precisam de ser tratadas com bifosfonatos durante 12 meses para uma pessoa ver uma diferença minimamente significativa da DMO no colo do fêmur.

Eventos adversos graves (exigindo hospitalizações ou situações ameaçadoras de vida ou fatais)

Encontraram-se 15 ensaios com um total de 1703 pessoas para estudar este desfecho. Identificámos que 162 em cada 1000 pessoas sem tratamento experimentaram efeitos adversos graves em comparação com 147 em cada 1000 (intervalo 120-181) pessoas que estavam a tomar bifosfonatos. Trata-se de um aumento absoluto do risco de efeitos adversos de 0% (2% a menos para mais 2%) no tratamento com bifosfonatos.

Exclusão do estudo devido a eventos adversos

Encontraram-se 15 ensaios com um total de 1790 pessoas para estudar este desfecho. . Identificámos que 73 em cada 1000 participantes do grupo ‘sem tratamento’ foram retirados do estudo em comparação com 77 em cada 1000 (intervalo 56-107) participantes no grupo dos bifosfonatos. Trata-se de um aumento absoluto de 1% do risco de ser retirado de um estudo devido aos efeitos adversos (1% a menos para 3% mais) no grupo dos bifosfonatos.

Conclusões dos autores: Baseados em evidências de moderada a alta qualidade, concluímos que os bifosfonatos são benéficos na prevenção de novas fraturas da coluna vertebral e a prevenir e tratar a perda óssea induzida por corticoesteróides na coluna lombar e colo do fêmur. Para a prevenção de fraturas não-vertebrais, considerámos que se encontrou pouca ou nenhuma diferença entre os participantes que utilizaram os bifosfonatos ou não, embora esta evidência seja de baixa qualidade porque os métodos usados para avaliar fraturas não-vertebrais foram enviesados.

Concluímos que havia pouca ou nenhuma diferença no número de eventos adversos graves ou exclusão do estudo devido a eventos adversos quando comparando os bifosfonatos com nenhum tratamento. As evidências para estes desfechos foram de baixa qualidade e somos cuidadosos nas conclusões sobre os malefícios dos bifosfonatos, baseadas apenas nestes indicadores.

Em geral, a nossa revisão suporta o uso de bifosfonatos para reduzir o risco de fraturas da coluna vertebral e na prevenção e tratamento da perda óssea induzida por corticoesteróides.

Notas de tradução: Tradução de Catarina Reis de Carvalho, Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Musculoskeletal Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD001347.pub2/full

O teste de papilomavírus humano (HPV) em comparação com o teste de Papanicolau (Pap) para rastrear o cancro do colo do útero.

Questão de revisão
Foram avaliados estudos que comparavam dois testes para detetar o cancro do colo do útero: o teste HPV (teste do papilomavírus humano) e o teste de Papanicolau, também conhecido como esfregaço cervical ou teste de Papanicolau. O objetivo era descobrir qual é o teste que deteta alterações pré-cancerosas do colo do útero com mais precisão.

Background
O HPV e os testes de Papanicolau são testes que o médico realiza para verificar o desenvolvimento de cancro cervical ou alterações pré-cancerosas das células do colo do útero (chamadas de lesões). Estas lesões podem desenvolver-se para cancro do colo do útero dentro de cerca de 10 a 20 anos. O teste HPV verifica se uma mulher tem uma infeção de HPV que pode levar ao cancro do colo do útero. Se o teste HPV for positivo, pode significar que há alterações pré-cancerosas no colo do útero. Existem muitos tipos de testes HPV. Um deles chama-se o teste HC2. O teste de Papanicolau verifica se as células no colo do útero são anormais. As células cervicais anormais que são testadas como “grau baixa para grau alto” podem significar que há alterações pré-cancerosas, no colo do útero, que podem levar ao cancro cervical. Um tipo de teste de Papanicolau é a “citologia convencional” e outro é a”citologia em meio líquido”. Dependendo do teste, se for positivo, uma mulher pode precisar de ter o colo do útero examinado ou ser submetida a cirurgia para ter a lesão pré-cancerosa removida.

Características dos estudos: Esta revisão inclui todos os estudo relevantes até Novembro de 2015. Quarenta estudos compararam o teste de HPV para o teste de Papanicolau em mais de 140.000 mulheres, com idades entre 20 a 70 anos, que compareceram no rastreio do colo do útero. Os estudos analisados qual o teste que pode detetar alterações cervicais pré-cancerosas, chamadas de neoplasias intraepiteliais cervicais (CIN 2 e 3 de CIN).

Qualidade da evidência
Existem estudos suficientes com um número de mulheres suficiente, que permitem tirar conclusões. No entanto, alguns dos resultados dos estudos foram diferentes uns dos outros. Por exemplo, os testes foram mais precisos em estudos na Europa do que na Ásia ou Central ou América do Sul. No geral, a qualidade da evidência foi moderada a alta.

Resultados-chave
Um teste perfeito iria indicar corretamente se uma mulher tem ou não tem alterações pré-cancerosas. No entanto, a maioria dos testes não é perfeita.

Esta revisão encontrou que em cada 1000 mulheres selecionadas, cerca de 20 mulheres terão alterações pré-cancerosas. O teste HPV identificará corretamente 16 destas mulheres (mas não identifica 4 mulheres). O teste de Papanicolau irá identificar 12 das mulheres (mas não identifica 8 mulheres). As mulheres que não são identificadas podem desenvolver cancro cervical.

Em cada 1000 mulheres selecionadas, haverá 980 mulheres que não terão alterações pré-cancerosas. O teste HPV identificará corretamente 879 mulheres (mas identificará uma lesão, incorretamente, em 101 mulheres). O teste de Papanicolau identificará corretamente 951 mulheres (mas identificará incorretamente em 29). As mulheres, em quem a lesão é identificada incorretamente, podem ter um exame ao colo do útero ou serem submetidas a cirurgia desnecessariamente.

Notas de tradução: Tradução de Catarina Reis de Carvalho, Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Gynaecological, Neuro-oncology and Orphan Cancer Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD008587.pub2/full

A fimose é uma doença na qual não é possível retrair totalmente o prepúcio sobre o pénis. A fimose é normal ao nascimento e frequentemente resolve espontaneamente sem necessidade de tratamento durante os primeiros três a quatro anos de vida. Apenas 10% dos rapazes com três anos de idade apresentam fimose. Esta condição clínica denomina-se fimose congénita. A fimose pode também ser causada pela cicatrização da pele que protege a glande em consequência da impossibilidade de retrair o prepúcio. A fimose causada por esta cicatrização ocorre em 0.6% a 1.5% dos rapazes com idade inferior a 18 anos de idade, mas este tipo de fimose raramente ocorre em rapazes com idade inferior a cinco anos. Distinguir o tipo de fimose é por vezes difícil.

O tratamento de rapazes com fimose tornou-se controverso. Cirurgias para remover ou alargar o prepúcio (circuncisão e plastia do prepúcio) foram amplamente utilizadas no passado para tratar a fimose. Mais recentemente, cremes e pomadas contendo corticóides (fármacos que reduzem a inflamação, limitando ou reduzindo a atividade do sistema imunitário) aplicados durante quatro a oito semanas têm mostrado resultado promissores. O objetivo do tratamento com corticóides tópicos é reduzir o aperto da pele em redor da extremidade do pénis. Tal permite um método de tratamento muito menos invasivo e pode limitar a necessidade de cirurgia em alguns rapazes.

Foram avaliados os efeitos da utilização de corticóides tópicos para tratar a fimose em rapazes até 18 anos de idade, comparativamente com tratamento não ativo (placebo) ou ausência de tratamento. Foram analisados 12 estudos que incluíram 1395 rapazes com idade entre 18 dias e 17 anos e, apesar de se ter detetado que os corticóides tópicos podem aumentar a probabilidade de resolução parcial ou total da fimose sem efeitos adversos significativos, muitos estudos não reportaram efeitos adversos.

Corticóides tópicos podem constituir uma alternativa segura no tratamento da fimose em rapazes antes de realizar intervenção cirúrgica.

Notas de tradução: Tradução por Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD008973.pub2/full

O síndrome nefrótico é uma doença na qual os rins não impedem a passagem de proteínas do sangue para a urina. As crianças não tratadas morrem frequentemente devido a infeções. A maioria das crianças com síndrome nefrótico apresenta resposta aos corticóides (ex: prednisona, prednisolona) com consequente diminuição do risco de infeção grave. No entanto, os doentes apresentam frequentemente recidivas da doença, as quais são frequentemente despoletadas por infeções virais. Os corticóides podem ter efeitos adversos graves.

Avaliámos a evidência de 34 estudos incluindo 3033 crianças. Catorze de 21 estudos, incluindo crianças com o primeiro episódio de síndrome nefrótico, avaliaram o efeito da administração de prednisona durante dois a três meses, em comparação com períodos mais longos. Treze estudos avaliaram diferentes regimes de terapêutica com corticóides em doentes com síndrome nefrótico recidivante. Os estudos incluídos tinham qualidade metodológica variável e apenas cerca de metade dos estudos apresentavam risco de viés baixo.

Considerando os estudos que compararam o tratamento de longa duração com o de curta duração, estudos mais antigos com risco de viés elevado ou incerto tenderam a sobrestimar o efeito da terapêutica de longo duração em comparação com estudos recentes com risco de viés baixo. Estudos com risco de viés baixo não encontraram diferenças significativas no risco de recaída ou de desenvolvimento de síndrome nefrótico recidivante entre a administração de prednisona durante três a seis meses e durante dois a três meses. Neste sentido, não há benefício de aumentar a duração de prednisona além de dois a três meses, em doentes com episódio inicial de síndrome nefrótico sensível aos corticóides.

Os dados de quatro estudos mostraram que, em crianças com síndrome nefrótico recidivante, a prednisona durante cinco a sete dias no início de uma infeção viral reduz o risco de recidiva.

Esta revisão atualiza a informação previamente publicada em 2000, 2003, 2005 e 2007. Os dados de três novos estudos que avaliaram o efeito de diferentes durações de prednisona no primeiro episódio de síndrome nefrótico alteraram as conclusões apresentadas nas versões anteriores desta revisão.

Notas de tradução: Tradução de Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD001533.pub5/full

Um acesso vascular arteriovenoso consiste na ligação direta entre uma artéria e uma veia no braço (fístula) ou na utilização de uma prótese de plástico que une uma artéria e uma veia (enxerto). Se o acesso vascular se tornar disfuncional, a dose de diálise realizada é inferior à desejada. A causa mais comum de disfunção do acesso é o desenvolvimento de uma restrição ou estreitamento à passagem de sangue, denominada “estenose”. Dada a correção precoce de estenoses ser considerada fundamental para a manutenção da patência (abertura) do acesso vascular e prolongar a sua utilização, as guidelines recomendam a vigilância regular do acesso vascular (i.e. rastreio com base em testes de diagnóstico) em adição ou substituição do exame físico (monitorização clínica) para identificar e tratar lesões precoces.

Nesta revisão foram incluídos 14 estudos, os quais aleatorizaram 1390 participantes para correção profilática de estenose do acesso (i.e. antes do acesso se tornar disfuncional) ou correção tardia de estenose do acesso (i.e. se e quando o acesso se tornasse disfuncional). Esta revisão mostra que a correção profilática de uma estenose de acesso vascular arteriovenoso não aumenta a longevidade do acesso vascular. Em doentes com enxertos, a correção profilática não reduz o risco de trombose ou de perda do acesso vascular. Em doentes com fístulas, a correção profilática da estenose reduz o risco de trombose e pode prolongar a longevidade do acesso. No entanto, esta estratégia de vigilância e correção profilática pode aumentar o número de procedimentos relacionados com o acesso vascular e de eventos adversos relacionados com o procedimento.

Esta revisão sistemática, destinada a médicos e doentes, apresenta dados baseados na evidência que não apoiam a utilização de vigilância de acesso vascular nem a correção profilática de estenose em enxertos. Apesar da vigilância e correção profilática de estenoses reduzir o risco de trombose e poder reduzir o risco de perda de acesso vascular em fístulas, esta estratégia pode também aumentar o risco de efeitos adversos relacionados com o procedimento bem como os custos em saúde. Ensaios clínicos multicêntricos e de grandes dimensões são necessários nesta população de doentes para clarificar melhor os potenciais danos e os benefícios esperados da vigilância de rotina e da correção profilática de estenoses de fístulas.

Notas de tradução: Tradução de Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD010709.pub2/full

Pergunta de revisão

Nesta revisão queríamos ver se os cuidados paliativos beneficiam as pessoas com demência avançada ou a sua família ou cuidadores. Também queríamos descrever como os investigadores tentaram medir o efeito de cuidados paliativos.

Contexto

As pessoas com demência avançada têm graves problemas de memória e têm problemas em tomar decisões simples. Nesta fase geralmente não são capazes de comunicar pela fala. Precisam de muita ajuda por parte dos seus cuidadores. As pessoas com demência avançada podem viver durante muito tempo. É muito difícil dizer exatamente quanto tempo viverá uma pessoa com demência avançada.

Os cuidados paliativos (ou cuidados de fim-de-vida) são uma forma de cuidar de pessoas que têm doenças que não podem ser curadas. Os principais objetivos dos cuidados paliativos são reduzir a dor e manter a melhor qualidade de vida possível. As pessoas com cancro recorrem frequentemente aos cuidados paliativos, mas as pessoas com demência avançada nem tanto.

Características dos estudos

Revimos a investigação publicada até janeiro de 2016. Encontrámos apenas dois estudos adequados (189 pessoas), ambos dos Estados Unidos. Também encontrámos seis estudos que estavam em curso, mas cujos resultados ainda não foram publicados.

Principais resultados

Um estudo constatou que ter uma pequena equipa médica e de enfermagem treinada em cuidados paliativos fez pouca diferença em relação a como as pessoas com demência avançada foram tratadas enquanto hospitalizadas. Contudo, receber acompanhamento por parte desta equipa significa que mais pessoas tinham um plano de cuidados paliativos aquando da alta hospitalar. O outro estudo avaliou se dar informação escrita aos familiares, explicando os métodos diferentes que podem ser usados para alimentar as pessoas com demência avançada, ajudou os familiares ou a pessoa em questão. Este estudo verificou que dar aos familiares esta informação facilitou as decisões acerca de que métodos seriam utilizados para alimentar a pessoa com demência.

Qualidade da evidência

Encontrámos apenas dois estudos, e os dois métodos de cuidados paliativos nestes estudos eram muito diferentes. Não podemos ter muita certeza sobre a precisão de qualquer um destes resultados, em parte porque apenas um pequeno número de pessoas participou nos estudos. Assim, com base nestes estudos, é difícil afirmar com certeza se os cuidados paliativos têm impacto em pessoas com demência avançada.

Considerações finais

Pouca investigação tem sido feita com pessoas com demência avançada, muitas vezes por preocupações éticas. No entanto, embora seja difícil de fazer investigação com pessoas com demência, são necessários mais estudos bem desenhados para perceber como os cuidados paliativos podem ser otimizados nesta população particular.

Notas de tradução: Tradução por Margarida Rebolo, Neuroser, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 2 Dezembro 2016

 

Autores: Murphy E, Froggatt K, Connolly S, O’Shea E, Sampson EL, Casey D, Devane D

 

Grupo de Revisão Principal: Dementia and Cognitive Improvement Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011513.pub2/abstract

Pergunta de revisão

Avaliamos o efeito dos produtos de cacau sobre a pressão arterial em adultos quando consumidos diariamente por pelo menos duas semanas. Foram encontrados 35 estudos, abrangendo 40 comparações de tratamento.

Contexto

O chocolate negro e produtos de cacau são ricos em compostos químicos chamados flavanóides. Flavanoides têm atraído interesse como eles podem ajudar a reduzir a pressão arterial, um conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares (distúrbios do coração e vasos sanguíneos). Pensa-se que as propriedades de redução da pressão sanguínea dos flavanóides estão relacionadas com o alargamento dos vasos sanguíneos, causado pelo óxido nítrico.

Características dos estudos

Os estudos foram de curta duração, maioritariamente entre duas e 12 semanas, com apenas um estudo de 18 semanas. Os estudos envolveram 1804 adultos maioritariamente saudáveis. Nos estudos forneceram participantes 30 a 1218 mg de flavanol (média de 670 mg) em 1,4 a 105 gramas de produtos de cacau por dia no grupo de intervenção ativa. Sete dos estudos foram financiados por empresas com interesse comercial em seus resultados, e o efeito relatado foi ligeiramente maior nesses estudos, indicando viés possível. A evidência é atualizada até novembro de 2016.

Principais resultados

Uma meta-análise de 40 comparações de tratamento revelou uma diminuição pequena mas estatisticamente significativa da pressão arterial (sistólica e diastólica) de 1,8 mmHg. Esta pequena redução da pressão arterial pode complementar outras opções de tratamento e pode contribuir para reduzir o risco de doença cardiovascular.

Investigamos se a pressão arterial dos participantes no início do estudo, sua idade, a perceção da alocação de grupo (ativa ou controle), o teor de flavanol usado no grupo controle ou quanto tempo o estudo durou pode explicar as variações entre os ensaios. Embora o nível de pressão arterial (elevada ou normal) seja um fator provável no tamanho do efeito do cacau na pressão arterial, o impacto de outros fatores precisa ser confirmado ou rejeitado em outros ensaios.

Os efeitos adversos, incluindo queixas digestivas e aversão ao produto experimental, foram relatados por apenas 1% das pessoas no grupo de intervenção do cacau ativo e 0,4% das pessoas nos grupos de controle.

São necessários estudos a longo prazo para determinar se a ingestão regular de produtos de cacau ricos em flavanol tem um efeito benéfico na pressão sanguínea e na saúde cardiovascular ao longo do tempo e se existem efeitos secundários do uso a longo prazo de produtos de cacau numa base diária.

Qualidade da evidência

A evidência é de qualidade moderada. Não foi possível identificar quaisquer ensaios aleatorizados que testassem o efeito do uso diário de produtos de cacau a longo prazo na pressão arterial e não houve estudos que medissem as consequências para a saúde da pressão arterial elevada, como enfartes ou acidentes vasculares cerebrais.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina de Lisboa, com o apoio de Cochrane Portugal

 

Publicada: 25 Abril 2017

 

Autores: Ried K, Fakler P, Stocks NP

 

Grupo de Revisão Principal: Hypertension Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD008893.pub3/abstract

Pergunta de revisão

Qual é a eficácia e a segurança dos medicamentos usados para prevenir coágulos (tratamentos antitrombóticos) tanto na fase inicial e a longo prazo em pessoas que tiveram uma hemorragia dentro do cérebro (hemorragia intracerebral)?

Contexto

As pessoas com acidente vascular cerebral devido a sangramento no cérebro (também conhecido como hemorragia intracerebral: HIC) são mais propensas a desenvolver coágulos nos seus vasos sanguíneos devido à imobilidade (na fase inicial) e outras condições médicas (a longo prazo). Coágulos de sangue no cérebro, pulmões ou outros órgãos podem causar doença grave ou até morte. Fármacos que impedem a formação de coágulos (também conhecido como ‘anti-coagulantes’) podem ser úteis em pessoas com HIC. No entanto, esses fármacos também podem causar sérias complicações hemorrágicas.

Características dos estudos

Após uma pesquisa extensa, realizada em 8 de março de 2017, identificamos dois ensaios aleatorizados. Havia 121 participantes nestes dois ensaios, que comparou fármacos ‘anticoagulantes’ (heparina num dos estudos, enoxaparina no outro) administradas por injeções sob a pele contra nenhuma droga anticoagulante logo após ICH.

Principais resultados

O principal resultado desta revisão foi o risco combinado de vários eventos importantes (tais como outra hemorragia intracerebral, acidente vascular cerebral isquémico ou morte de causa cardiovascular). Não fomos capazes de calcular este resultado para estudos incluídos. Nenhum dos estudos relatou informação sobre a recuperação da independência ou capacidades mentais. Um estudo com 46 participantes relatou que em fatalidade caso associado com o tratamento antitrombótico a curto prazo e não encontrou um efeito estatisticamente significativo. Para as consequências do tratamento que puderam ser analisadas, as estimativas de risco eram imprecisas e incertas. Assim, os potenciais benefícios e prejuízos de fármacos anti-trombóticos, após um acidente vascular cerebral devido a hemorragias cerebrais permanecem incertos. Novas estudos de alta qualidade que estudem o uso de tratamento antitrombótico após um acidente vascular cerebral devido a HIC parecem ser justificados e necessários.

Qualidade da evidência

A qualidade da evidência como um todo era baixa. Isto é devido à maneira como os estudos incluídos foram conduzidos e relatados, bem como o pequeno número de participantes, que não pode ter sido alto o suficiente para identificar pequenas diferenças entre os grupos em estudo.

Notas de tradução: Tradução por: Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 25 Mai 2017

 

Autores: Perry LA, Berge E, Bowditch J, Forfang E, Rønning OM, Hankey GJ, Villanueva E, Al-Shahi Salman R

 

Grupo de Revisão Principal: Stroke Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD012144.pub2/abstract

Cirurgia versus observação para pessoas com lesão abdominal

A lesão no abdómen é comum e pode ser sem corte, de acidentes de trânsito ou quedas, ou penetrante, de tiros ou facadas. Estas lesões estão normalmente associadas a lesões nos órgãos abdominais, tais como o fígado, baço, rins, intestino e o seu revestimento, e grandes vasos sanguíneos. Pode ocorrer um sangramento ou corrimento do conteúdo abdominal para a cavidade abdominal, que pode ameaçar a vida de uma pessoa. O exame do paciente pelo médico (exame físico), embora seja o método mais preciso para avaliar as pessoas, é insuficiente para determinar a extensão dos danos. Por outro lado, uma pessoa não deveria ser submetida a um procedimento cirúrgico, a menos que seja necessário. Há relatórios de que as lesões podem não ser encontradas, mesmo após uma cirurgia.

A observação de um paciente, esperando que a lesão tenha cicatrizado naturalmente e intervir cirurgicamente, caso exista essa necessidade, é conhecida como gestão seletiva não-operatória (SNOM) ou observação. Um protocolo de observação é usado quando a pessoa não apresenta qualquer sinal de hemorragia interna ou infeção abdominal (peritonite). Recorre-se à cirurgia se, durante a observação, forem observados sinais de hemorragia ou infeção.

Os autores desta revisão procuraram identificar os estudos, onde as pessoas com uma lesão abdominal foram aleatorizados para cirurgia ou para a observação. Os autores analisaram várias bases de dados médicas, mas identificaram apenas 2 estudos, envolvendo 51 e 63 pessoas respetivamente, ambos tiveram lugar na Finlândia e foram conduzidos pelos mesmos investigadores. Os estudos incluíam portadores de lesões abdominais penetrantes, provocadas por esfaqueamento. Os autores da revisão consideraram ambos os estudos como tendo um risco de viés moderado, uma vez que apenas uma parte do processo de aleatorização foi descrita e os protocolos do estudo não estavam disponíveis para permitir a avaliação completa da qualidade global.

Num estudo (1992-1994), as pessoas receberam o tratamento segundo um protocolo de observação ou de cirurgia obrigatória. Nenhuma das pessoas no estudo morreu, e não houve diferença no número de pessoas com complicações médicas entre os grupos estudados. Um dos danos mencionados pelos autores do estudo foi a realização da cirurgia nalgumas pessoas que, na realidade, nem precisava disso. A cirurgia desnecessária pode submeter as pessoas a potenciais complicações.

Noutro estudo (1997-2002), as pessoas receberam um protocolo de observação ou de laparoscopia de diagnóstico (cirurgia mínima). Ninguém morreu, em ambos os grupos, e não houve diferenças entre os grupos, no número de cirurgias necessárias. Não existiram cirurgias desnecessárias, em ambos os grupos.

Com base nas conclusões destes dois estudos pequenos, não há evidências para apoiar o uso do tratamento cirúrgico em detrimento de um protocolo de observação para pessoas com trauma abdominal, que não mostram sinais de hemorragia ou infeção.

Os autores recomendam que os futuros estudos controlados aleatorizados relatem claramente o tipo de lesão, número de órgãos danificados, extensão da lesão dos órgãos internos e complicações nas pessoas incluídas no estudos.

Notas de tradução: Tradução de Mariana Morgado, Serviço de Cirurgia Pediátrica, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD007383.pub3/full

Pergunta de revisão

Qual a eficácia e segurança da combinação de hormona luteínica recombinante (rLH) e hormona folículo – estimulante recombinante (rFSH) quando comparada com rFSH isolada na estimulação ovárica em mulheres submetidas a fertilização in vitro (FIV) ou injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI)?

Contexto

Nos ciclos fisiológicos do ovário, a hormona luteínica (LH) e a hormona folículo – estimulante (FSH) são necessárias para a maturação dos folículos ováricos. Um dos vários protocolos de estimulação ovárica possíveis, em ciclos de FIV ou ICSI, inclui a estimulação ovárica com rFSH em combinação com um análogo de hormona libertadora de gonadotropina (GnRH). Os análogos da GnRH permitem evitar que ocorram picos prematuros de hormona luteínica. Desta forma, os folículos ováricos em desenvolvimento são privados da ação da hormona luteínica (LH), pelo que surgiu a hipótese de a suplementação com esta hormona recombinante (rLH) aumentar as taxas de natalidade.

Características dos estudos

Durante a nossa pesquisa encontrámos 36 ensaios controlados e aleatorizados que comparam rLH combinada com rFSH e rFSH isolada em 8125 mulheres submetidas a FIV/ICSI. Esta é uma atualização de uma revisão anterior da Cochrane, publicada pela primeira vez em 2007. A evidência é relativa a Junho de 2016. Apenas sete em cada 36 estudos claramente referem que foram financiados pelo governo ou institutos de pesquisa. Seis foram financiados por empresas farmacêuticas e o resto não indicou nenhuma fonte de financiamento.

Principais resultados

Não encontrámos nenhuma evidência de diferença entre o grupo de rLH combinada com rFSH e o grupo de controlo (rFSH isolada) quando verificadas as taxas de nados vivos e de síndrome de hiperestimulação ovárica (SHO). A evidência para estas comparações é de muito baixa qualidade em relação à taxa de nados vivos e de baixa qualidade em relação ao SHO. Encontrámos evidência de moderada qualidade de que o uso de rLH combinada com rFSH pode levar mais gravidezes com sucesso que rFSH isolada. Existiam também provas de moderada qualidade que sugeriam pouca ou nenhuma diferença entre os grupos na taxa de aborto. Não havia nenhuma evidência clara de diferenças entre os grupos nas taxas de cancelamento do ciclo por baixa resposta ou SHO iminente, mas a evidência para estes desfechos eram de baixa ou muito baixa qualidade.

Podemos concluir que a evidência é demasiado limitada para encorajar ou desencorajar os regimes de estimulação que incluem rLH combinada com rFSH em ciclos de FIV/ICSI.

Qualidade da evidência

A qualidade da evidência variou de muito baixa a moderada. As principais limitações foram risco de viés (associado com a pobre descrição metodológica) e imprecisão.

Notas de tradução: Tradução por Catarina Reis Carvalho, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 24 Mai 2017

 

Autores: Mochtar MH, Danhof NA, Ayeleke RO, Van der Veen F, van Wely M

Grupo de Revisão Principal: Gynaecology and Fertility Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD005070.pub3/abstract

Qual é a questão?

A diabetes gestacional é uma intolerância à glicose, levando a altos níveis de glicose que primeiro é reconhecida durante a gravidez e que geralmente se normaliza após o parto. Diabetes durante a gravidez tem sido associada a muitos problemas de saúde a curto e a longo prazo para a mãe e seu bebé. A principal maneira de tratar a diabetes gestacional é através de mudanças de estilo de vida como dieta, exercício e a monitorização dos níveis de glicose no sangue.

Por que é importante?

Mulheres com diabetes gestacional têm um risco aumentado de desenvolver hipertensão arterial durante a gravidez (pré-eclâmpsia) e são mais propensas a ter um trabalho de parto induzido. Os bebés de mulheres com diabetes gestacional são mais propensos a serem grandes, e isto pode estar ligado a bebés com trauma no parto (ossos partidos ou nervos danificados durante o parto) e a necessidade de partos por cesariana. Intervenções de estilo de vida que incluem dois ou mais componentes de aconselhamento dietético, atividade física, educação e auto-monitorização de glicose no sangue são a primeira linha de tratamento para a maioria das mulheres diagnosticadas com diabetes gestacional. Intervenções como alimentação saudável e atividade física pretendem ajudar as mulheres a manter os níveis de glicose do sangue dentro de um intervalo considerado mais seguro, de modo a melhorar os resultados de saúde para a mãe e o bebé.

Que evidência encontrámos?

Procuramos na literatura (em maio de 2016) ensaios aleatorizados que comparassem uma intervenção no estilo de vida com um grupo controlo de mulheres recebendo tratamento habitual ou outra intervenção. Quinze ensaios aleatorizados (45 publicações) estão incluídos nesta revisão, envolvendo 4501 mulheres e 3768 crianças. Nenhum dos ensaios foram financiados por uma concessão condicional de uma empresa farmacêutica.

Para o bebé, intervenções no estilo de vida foram associadas com uma redução no risco de nascer grande para a idade gestacional (seis estudos, 2994 crianças). O número de bebés com um peso ao nascer de mais de 4000 g (macrosomia) foi menor com a intervenção no estilo de vida, sem diferença clara do número de bebés recém-nascidos com baixos níveis de glicose (seis estudos, 3000 crianças). A evidência é de qualidade moderada para estes achados. O peso ao nascer também foi menor no grupo de intervenção no estilo de vida.

Para as mães a introdução de intervenções no estilo de vida não fez um diferença clara no número de mulheres com hipertensão arterial induzida pela gravidez (quatro estudos, 2796 mulheres) ou a ter uma cesariana (10 estudos, 3545 mulheres) com base em evidências de baixa qualidade ou na indução do trabalho de parto (quatro ensaios, mulheres 2699, evidência de alta qualidade). Um número semelhante de mulheres teve trauma perineal ou rasgar (um estudos, 1000 mulheres) ou desenvolveu diabetes tipo 2, até 10 anos depois de dar à luz (dois estudos, 486 mulheres). Estes achados foram apoiadas por evidência de baixa a moderada qualidade.

Mais mulheres no grupo de intervenção no estilo de vida atingiram os seus objetivos de peso um ano após o parto, e as intervenções no estilo de vida foram associadas com uma diminuição do risco de depressão após o nascimento, a partir de informação de estudos individuais. Estes achados foram apoiadas por evidência de baixa qualidade.

O que quer isto dizer?

Intervenções no estilo de vida são benéficos no tratamento de mulheres com diabetes gestacional As intervenções são úteis como a principal estratégia terapêutica e geralmente incluem, no mínimo, uma alimentação saudável, atividade física e uma monitorização dos níveis de açúcar no sangue.

Investigação futura poderá incidir sobre os componentes eficazes das intervenções de estilo de vida e o uso de intervenções de estilo de vida como a única intervenção sem tratamento farmacológico. Estudos futuros também precisam considerar os resultados a longo prazo para a mãe o bebé.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 4 Mai 2017

 

Autores: Brown J, Alwan NA, West J, Brown S, McKinlay CJD, Farrar D, Crowther CA

 

Grupo de Revisão Principal: Pregnancy and Childbirth Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011970.pub2/abstract

Qual o problema?

A síndrome nefrótica é uma doença na qual os rins não impedem a passagem de proteínas do sangue para a urina. Os corticóides são utilizados primariamente para atingir a remissão da doença. Algumas crianças não respondem a este tratamento (síndrome nefrótica resistente aos corticóides) e outros agentes como a ciclofosfamida, inibidores da calcineurina (ciclosporina, tacrolimus) ou inibidores da enzima de conversão da angiotensina podem ser utilizados.

O que foi feito?

Foi realizada pesquisa na Cochrane Kidney and Transplant’s Specialised Register (até 2 de Março de 2016) através de contacto com os especialistas na área, utilizando termos de pesquisa relevantes para esta pesquisa. Foram incluídos ensaios aleatorizados controlados que comparassem diferentes agentes imunossupressores ou agentes não imunossupressores com placebo, prednisolona ou outro agente administrado oralmente ou parentericamente em crianças com idade entre três meses e 18 anos com síndrome nefrótica resistente aos corticóides.

O que foi detetado?

Esta revisão detetou que quando foi utilizada ciclosporina em comparação com placebo ou ausência de tratamento ocorreu um aumento significativo do número de crianças que atingiram a remissão completa. Os inibidores da calcineurina aumentaram significativamente o número de crianças que atingiram a remissão completa ou parcial comparativamente com ciclofosfamida IV. Não houve melhoria com outros agentes imunossupressores. Os inibidores da enzima de conversão da angiotensiva reduziram significativamente o grau de proteinúria. No entanto, o número de estudos foi pequeno com pequeno número de filhos por estudo.

Notas de tradução: Tradução de Miguel Bigotte Vieira, Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Kidney and Transplant Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD003594.pub5/full

Contexto:

A “transição” descreve o processo de planeamento e transferência de serviços pediátricos para serviços de adultos. Se este processo não for bem gerido, os adolescentes com patologia crónica podem enfrentar uma lacuna nos cuidados, o que pode levar a uma deterioração do seu estado de saúde.

Pergunta de investigação:

Esta revisão avaliou a eficácia das intervenções para melhorar a transição dos cuidados de saúde a adolescentes com condições crónicas quando são transferidos de serviços de saúde pediátricos para serviços de adultos.

Características dos estudos:

Pesquisámos a literatura até 19 de junho de 2015 e encontrámos quatro estudos (N = 238 participantes) para esta revisão. Os estudos avaliaram quatro tipos de intervenções educacionais dirigidas a adolescentes com condições clínicas diferentes. Todas as intervenções tinham como objetivo melhorar os conhecimentos e as capacidades de autogestão da doença por parte dos adolescentes em preparação para a transição para os serviços de saúde de adultos.

Resultados principais:

Três dos programas de transição de cuidados mostraram melhorar ligeiramente a preparação dos jovens para a transferência de cuidados, conferindo-lhes maior autonomia e adaptação à utilização de serviços de saúde para adultos. Um dos programas de transição de cuidados, que consistia num workshop de dois dias para jovens com espinha bífida, encontrou pouca ou nenhuma diferença nas medidas que avaliaram o nível de preparação dos jovens para a transição de cuidados. Os programas de preparação da transição podem melhorar ligeiramente o conhecimento dos jovens sobre suas patologias e a capacidade de utilização adequada dos serviços de saúde. Estes programas proporcionam pouca ou nenhuma diferença no estado da saúde, qualidade de vida ou bem-estar e taxas de transferência de serviços de saúde pediátricos para serviços de adultos.

Qualidade da evidência:

Embora exista uma ampla gama de programas de transição em desenvolvimento em diferentes países, frequentemente dirigidos especificamente a uma determinada especialidade clínica, esta revisão identificou apenas quatro estudos pequenos que forneceram evidência de baixa qualidade sobre a eficácia das intervenções educacionais focadas nos adolescentes e nenhum estudo de intervenções focadas nas organizações prestadoras de cuidados (por exemplo, consultas multidisciplinares ou um profissional-chave). Outras limitações são: o número reduzido de adolescentes recrutados, o número limitado de condições clínicas estudadas, o tempo de seguimento curto (12 meses ou menos) e o facto de que apenas dois dos estudos incluídos relatarem os resultados de acordo com o desfecho primário (isto é, os resultados clínicos relacionados com uma patologia específica). Apesar dos desafios inerentes a conceber estudos que possam testar este tipo de intervenções, como a avaliação de uma intervenção complexa, é necessário melhorar a evidência para orientar o desenvolvimento destes serviços.

Notas de tradução

Tradução por: Rute Baeta Baptista. Área de Pediatria Médica do Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central. Departamento de Fisiopatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Effective Practice and Organisation of Care Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD009794.pub2/full

Contexto

A patologia da coifa dos rotadores é a causa mais frequente de dor no ombro (omalgia). As pessoas com patologia da coifa dos rotadores frequentemente descrevem a dor como sendo pior durante a noite e que melhora com movimentos em direções específicas, incluindo movimentos acima da cabeça. Esta patologia está muitas vezes associada a uma diminuição da capacidade funcional, com algumas pessoas a descreverem também diminuição da força muscular.

As modalidades de eletroterapia (também conhecidas como parte das técnicas que envolvem agentes físicos) são modalidades de tratamento físico, cujo objetivo é a redução da dor e a melhoria da capacidade funcional, através da transmissão de energia (elétrica, sonora, luminosa ou térmica) ao corpo humano. Exemplos destas modalidades incluem os ultrassons terapêuticos, o tratamento com LASER de baixa intensidade (LLLT, em inglês), a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS, em inglês) e o tratamento por estimulação com campos eletromagnéticos pulsados (PEMF, em inglês). As modalidades de eletroterapia são administradas por vários profissionais de saúde, incluindo fisioterapeutas, quiropráticos e osteopatas. Na prática clínica as pessoas com patologia da coifa dos rotadores raramente são tratadas isoladamente com uma modalidade de eletroterapia, sendo estas associadas a outras modalidades de tratamento físico na generalidade dos casos (por exemplo terapia manual, exercício físico, ou ambos).

Características dos estudos

Este resumo desta revisão Cochrane apresenta o estado atual do nosso conhecimento em relação aos benefícios e malefícios das modalidades de eletroterapia, em pessoas com patologia da coifa dos rotadores. Depois de procurarmos todos os estudos relevantes publicados até Março de 2015, incluímos 47 ensaios clínicos nesta revisão (num total de 2388 participantes). Entre os participantes incluídos, 67% eram mulheres, a idade média dos participantes foi de 53 anos e a duração média da dor foi de oito meses. Os tratamentos de eletroterapia foram administrados, em média, durante três semanas.

Resultados chave

Ultrassons terapêuticos em modo pulsátil versus placebo (equipamento de ultrassons inativo) durante seis semanas, em pessoas com tendinite calcificante (baseado num ensaio clínico)

Dor (pontuação mais baixa equivale a uma maior redução da dor)

Pessoas submetidas a tratamento com ultrassons terapêuticos obtiveram maior redução da dor do que pessoas submetidas ao tratamento com placebo. A redução na dor foi superior em cerca de 8,60 pontos (variando entre mais 3,72 e mais 13,48 pontos) às seis semanas (melhoria absoluta de cerca de 17%). Numa escala de 0 a 52 pontos, as pessoas submetidas a tratamento com ultrassons terapêuticos avaliaram a redução da dor em -14,9 pontos, enquanto as pessoas submetidas a tratamento com placebo avaliaram a redução da dor em -6,3 pontos.

Capacidade funcional (uma pontuação mais elevada equivale a uma melhoria superior na capacidade funcional)

Pessoas submetidas a tratamento com ultrassons terapêuticos apresentaram uma melhoria superior, em comparação com pessoas submetidas a tratamento com placebo. A melhoria na capacidade funcional revelou-se superior em cerca de 14,10 pontos (variando entre mais 5,39 e mais 22,81 pontos) às seis semanas (melhoria absoluta de cerca de 14%). Numa escala de 0 a 100 pontos, as pessoas submetidas a tratamento com ultrassons terapêuticos avaliaram a melhoria na capacidade funcional em 17,8 pontos, enquanto as pessoas submetidas a tratamento com placebo avaliaram a mudança na capacidade funcional em 3,7 pontos.

Sucesso do tratamento

Quando em comparação com o placebo, mais trinta e nove em cada 100 pessoas avaliaram o seu tratamento com ultrassons terapêuticos como de sucesso, uma melhoria absoluta de cerca de 39% (variando entre mais 18% e mais 60%). Noventa e uma em cada 100 pessoas reportaram sucesso do tratamento com ultrassons terapêuticos e 52 em cada 100 pessoas reportaram sucesso do tratamento com o placebo.

Eventos adversos

Nenhum dos participantes submetidos a tratamento com ultrassons terapêuticos ou com o placebo reportou eventos adversos.

Qualidade da evidência

Evidência científica de baixa qualidade sugere que a curto prazo (seis semanas), o tratamento com ultrassons terapêuticos pode melhorar mais a dor, a capacidade funcional, o sucesso global do tratamento e a qualidade de vida do que o placebo, em pessoas com tendinite calcificante; que a curto prazo (três semanas) os ultrassons terapêuticos e o LLLT podem melhorar mais a dor e a capacidade funcional do que o placebo; que os ultrassons terapêuticos e o LLLT não produzem benefícios adicionais clinicamente importantes na dor e capaciade funcional, quando combinados isoladamente com outras intervenções de tratamento físico e que os PEMF não produzem benefícios adicionais clinicamente importantes na dor e na capacidade funcional, quando em comparação com o placebo. É provável que nova evidência científica de elevada qualidade altere o nosso nível de confiança nas estimativas de efeito.

Não temos a certeza sobre se os efeitos do TENS sobre a dor e a capacidade funcional são superiores ao placebo, se os ultrassons terapêuticos têm maior efeito sobre a dor e a capacidade funcional do que outras intervenções ativas (terapia manual, acupuntura, exercício físico, injeções com glucocorticóides ou injeções de glucocorticóides em associação a tolmetina sódica por via oral), ou se o LLLT tem maior efeito sobre a dor e a capacidade funcional do que os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) e as injeções de glucocorticóides, em virtude da evidência científica disponível ser de muito baixa qualidade.

Notas de tradução: Tradução de Guilherme Ferreira Dos Santos, Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central; Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência; com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Musculoskeletal Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD012225/full

Contexto

O consumo de tabaco mata mais pessoas em todo o mundo do que qualquer outra causa evitável de morte. A melhor maneira de reduzir o consumo de tabaco é impedir que as pessoas comecem a usar tabaco e encorajar e ajudar os usuários existentes a parar. Isso pode ser feito através da introdução de políticas que podem atingir um grande número de pessoas em um país, juntamente com a oferta de tratamento individual e apoio às pessoas que já estão usando o tabaco para ajudá-los a parar. Muitos países introduziram proibições sobre a publicidade ao tabaco, mas não controlaram a aparência da própria embalagem de tabaco. As embalagens de tabaco podem ser coloridas e atraentes, com formas e tamanhos novos e excitantes. A embalagem padronizada do tabaco é uma política governamental que remove esses desenhos, por exemplo, permitindo apenas que as embalagens de tabaco sejam de uma cor, forma ou tamanho. Embalagens padronizadas geralmente envolve o uso da mesma cor uniforme em todas as embalagens de tabaco, sem imagens de marca, e a marca registrada em uma fonte, cor e tamanho especificados. Os avisos de saúde e outras informações que os governos desejam colocar nas embalagens podem permanecer. A Austrália foi o primeiro país a introduzir embalagens padronizadas de tabaco em dezembro de 2012. A França foi o segundo em janeiro de 2017. Vários outros países estão no processo de introduzir embalagens padronizadas e ainda mais têm planos de o fazer. Examinamos se embalagens padronizadas reduzem o uso do tabaco.

Características do estudo

Pesquisamos nove bases de dados para artigos que avaliassem embalagens padronizadas que já haviam sido revisadas por acadêmicos e publicadas antes de janeiro de 2016. Também verificamos referências nesses artigos a outros estudos e contactamos os autores quando necessário.

Principais resultados

Encontramos 51 estudos envolvendo aproximadamente 800.000 participantes. Estes estudos variaram consideravelmente. Alguns estudos forcaram-se no efeito da embalagem padronizada na Austrália e olharam para os níveis globais de tabagismo, se os fumadores alteraram o seu comportamento, como reduzir o número de cigarros que fumavam e se os fumadores estavam a realizar mais tentativas de parar. Também incluímos experiências em que as pessoas usavam ou visualizavam pacotes de tabaco padronizados e examinavam suas respostas, em comparação com quando eles viam embalagens de marca. Também incluímos estudos que avaliaram os movimentos dos olhos das pessoas quando olhavam pacotes diferentes e como as pessoas estavam dispostas a comprar e quanto estavam dispostas a pagar, padronizadas em comparação com as embalagens de marca.

Apenas cinco estudos analisaram os nossos principais resultados. Um estudo na Austrália analisou os dados de 700.000 pessoas antes e depois de embalagens padronizadas serem introduzidas. Este estudo constatou que houve uma queda de meio ponto percentual na proporção de pessoas que usaram tabaco após a introdução de embalagens padronizadas, em comparação com antes, após ajustar por outros fatores. Quatro outros estudos analisaram se os fumadores alteraram o número de cigarros que fumavam. Dois estudos Austrálianos analisaram isto, um usando inquéritos a 8811 fumadores, e não encontrou nenhuma alteração no número de cigarros fumados. Os três estudos mais pequenos encontraram resultados inconclusivos. Dois outros estudos observaram um aumento nas tentativas de cessão tabágica na Austrália após introdução de embalagens padronizadas. Os restantes estudos analisaram outros resultados e a conclusão mais consistente foi que embalagens padronizadas reduziram o quão atraentes as pessoas encontraram as embalagens comparadas com as embalagens de marca. Nenhum estudo relatou o número de pessoas que deixaram de usar tabaco, o número de pessoas que começaram a usar tabaco, ou o número de pessoas que voltaram a usar tabaco depois de parar.

Qualidade da evidência

A certeza nestas constatações é limitada por várias razões, incluindo as dificuldades envolvidas no estudo de políticas nacionais como a embalagem padronizada. No entanto, achados sugerindo embalagens padronizadas podem diminuir o uso do tabaco são suportados por dados de rotina do governo australiano e estudos que analisam outros resultados. Por exemplo, nos estudos incluídos, as pessoas encontraram consistentemente pacotes padronizados menos atraentes do que os pacotes de marca. Não encontramos nenhuma evidência sugerindo que embalagens padronizadas possam aumentar o uso do tabaco.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculadade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 27 Abril 2017

 

Autores: McNeill A, Gravely S, Hitchman SC, Bauld L, Hammond D, Hartmann-Boyce J

 

Grupo de Revisão Principal: Tobacco Addiction Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011244.pub2/abstract

Pergunta de revisão

O objetivo desta revisão foi avaliar se o pré-tratamento com uma pílula contraceptiva oral combinada (PCOC) ou com progestágeno ou estrogênio sozinho influencia os resultados de gravidez em casais com baixa fertilidade, passando por tecnologias de reprodução assistida (TRA)

Contexto

Fertilização in vitro (FIV; onde um ovo é misturado com esperma fora do corpo) e injeção intra citoplasmática de espermatozoide (ICSI; onde um espermatozoide é injetado diretamente dentro do óvulo) são técnicas importantes para as mulheres que têm problemas para engravidar. Ciclos de fertilização in vitro e ICSI são realizados em poucos passos. Em primeiro lugar, a mulher recebe terapia hormonal para estimular os ovários na produção de células de ovo (chamadas de estimulação ovariana). Quando alguns óvulos estiverem maduros o suficiente para serem fertilizado, a mulher recebe uma único injeção de hormona. Isso leva os ovários a liberar os óvulos, para que eles podem ser recolhidos pelo profissional de saúde. Os ovos são então fertilizados fora do corpo da mulher e tornam-se embriões. Um ou dois embriões são então transferidos para o útero.

Antes da primeira etapa em ciclos de FIV ou ICSI (terapia hormonal), pode ser dado um tratamento prévio com uma PCOC. Uma COC contém progesterona e estradiol. O pré-tratamento com um progesterona ou estradiol sozinho também pode ser usado antes da terapia hormonal. Estes pré-tratamentos suprimem a produção hormonal da própria mulher. Isto pode melhorar a resposta da mulher para a terapia hormonal em ciclos de FIV/ICSI. Desta forma, o risco de situações não desejáveis, como a formação de quistos (sacos de líquido que se desenvolve no ovário de uma mulher) e o número de gravidezes perdas poderá ser reduzido e os resultados de gravidez podem ser melhorados.

Características dos estudos

Esta revisão de Cochrane incluiu 30 ensaios clínicos controlados (estudos clínicos onde pessoas aleatoriamente são colocadas em um dos dois ou mais grupos de tratamento) que avaliaram o pré-tratamento com a PCOC, progesterona ou estradiol em 5096 mulheres, passando por tecnologias de reprodução assistidas. A evidência é atual, com a pesquisa feita em janeiro de 2017.

Principais resultados

Em mulheres em fase de estimulação ovariana em protocolos antagonistas, o pré-tratamento com a PCOC esteve associado a uma menor taxa de nascimento vivos ou gravidezes em curso, quando comparado com a ausência de pré-tratamento. Havia evidência insuficiente para determinar se as taxas de nascimento vivos ou gravidezes em curso foram influenciadas por tratamento prévio com progesterona ou de estradiol ou o pré-tratamento com PCOC usando outros protocolos de estimulação. Os achados em relação aos eventos adversos são inconclusivos, exceto que o pré-tratamento de progesterona pode reduzir o risco de quistos ováricos em ciclos de agonistas, e a PCOC em ciclos de antagonistas pode reduzir o risco de perda de gravidez, quando comparado com nenhum pré-tratamento em ciclos de agonistas.

Qualidade da evidência

A qualidade da evidência variou de muito baixa a moderada. Os principais problemas foram o risco de viés e a imprecisão. A maioria dos estudos não descreveram os métodos com um nível de detalhe adequado.

Notas de tradução: Tradução por Catarina Reis Carvalho, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 25 Mai 2017

 

Autores: Farquhar C, Rombauts L, Kremer JAM, Lethaby A, Ayeleke RO

Grupo de Revisão Principal: Gynaecology and Fertility Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD006109.pub3/abstract

Os antibióticos para reduzir a taxa de infeção após mordidas por mamíferos, como os seres humanos

As feridas de mordidas podem ficar infetadas devido à transferência de bactérias da boca de mamíferos para a pele. Houve uma redução no risco de desenvolver uma infeção após uma mordida humana quando dado antibióticos. Os antibióticos também diminuíram a possibilidade de desenvolver uma infeção da ferida após uma mordida na mão. São necessários mais estudos para confirmar estes resultados.

Notas de tradução
Tradução por Mariana Morgado, Serviço de Cirurgia Pediátrica, Centro Hospitalar Lisboa Norte, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Wounds Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD006109.pub3/abstract

Efeito de reduzir a ingestão de gordura saturada no risco de doenças cardiovasculares

Pergunta de revisão: Queríamos descobrir quais os efeitos na saúde de reduzir a gordura saturada na nossa alimentação (substituindo gorduras animais por óleos vegetais, gorduras insaturadas e mais alimentos ricos em amido).

Contexto

Orientação de saúde sugerem que uma redução na quantidade de gordura saturada que comemos, e uma redução do consumo de gorduras animais é bom para nossa saúde. Nós quisemos reunir toda a evidência para ver se seguir este conselho leva a uma redução no risco de morrer ou de contrair doenças cardiovasculares (doença cardíaca ou acidente vascular cerebral).

Características dos estudos

Avaliamos o efeito de reduzir a quantidade de gordura saturada que comemos em resultados de saúde, incluindo o risco de morrer, de doença cardíaca, de derrame e cancro pelo menos por dois anos. Nós só olhamos para estudos em adultos (18 anos ou mais velhos). Isto incluiu homens e mulheres com e sem doença cardiovascular no início do estudo. Não incluimos estudos de pessoas com doenças agudas, grávidas ou mulheres que amamentam.

Resultados chave

Encontramos 15 estudos com mais de 59.000 participantes. A evidência está atualizada até março de 2014. Esta revisão encontrou que reduzir gordura saturada conduziu a uma redução de 17% no risco de doença cardiovascular (incluindo doenças cardíacas e derrames), mas nenhum efeito sobre o risco de morrer. A revisão não encontrou benefícios de saúde claros em substituir as gorduras saturadas com alimentos ricos em amido ou proteína. Alterar o tipo de gordura que ingerimos, isto é, substituindo gorduras saturadas por gorduras poli-insaturadas parece conferir alguma proteção, reduzindo o risco de problemas do cardíacos e vasculares. Quanto maior a redução de gordura saturada e quanto mais o colesterol total do soro mais reduzido, maior a proteção. As pessoas que estão atualmente saudáveis parecem beneficiar tanto quanto aqueles com risco aumentado de doença cardíaca ou acidente vascular cerebral (pessoas com pressão arterial elevada, colesterol elevado ou diabetes, por exemplo) e as pessoas que já tiveram doença cardíaca ou acidente vascular cerebral. Não houve uma diferença clara no tamanho do benefício entre homens e mulheres.

Qualidade de evidência

Há um grande corpo de evidência, incluindo quase 60.000 pessoas que estiveram em estudos avaliando os efeitos da redução de gordura saturada durante pelo menos dois anos. Os estudos fornecem evidência de moderada qualidade que a redução de gordura saturada e a sua substituição por gorduras poli-insaturadas reduz o risco de doenças cardiovasculares.

Notas de tradução: Tradução de Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Heart Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011737/full

Pergunta de revisão: analisámos a evidência científica disponível sobre o efeito dos alongamentos em pessoas com contraturas articulares ou que se encontram vulneráveis às mesmas.

Contextualização: procurámos determinar a eficácia dos alongamentos no tratamento e prevenção de deformações articulares (também conhecidas como contraturas articulares) em pessoas com doenças neurológicas e não neurológicas. Algumas das doenças contempladas nesta revisão incluem pessoas com fraturas, acidentes vasculares cerebrais, lesões cerebrais, artrite ou queimaduras.

Os alongamentos podem ser executados através da utilização de ortóteses e programas de posicionamento corporal, ou com talas gessadas, que são mudadas em intervalos regulares (talas gessadas seriadas). Em alternativa, os alongamentos podem ser executados pelo próprio ou aplicados manualmente por terapeutas.

Características dos estudos: esta revisão Cochrane está atualizada até Novembro de 2015. Inclui os resultados de 49 ensaios clínicos aleatorizados que envolveram um total de 2135 participantes. Os participantes tinham doenças neurológicas e não neurológicas, incluindo acidentes vasculares cerebrais, lesões cerebrais e vertebro-medulares, artrite, fraturas do punho e queimaduras.

Os estudos compararam grupos que executaram alongamentos a grupos sem alongamentos, muitas vezes em associação a medidas de tratamento padrão, tais como exercício físico ou injeção de toxina botulínica, em casos de espasticidade.

Os alongamentos foram executados de diferentes formas, incluindo alongamentos passivos (executados pelo próprio, por um terapeuta ou com auxílio de equipamento técnico), posicionamento corporal, ortóteses e talas gessadas seriadas.

O tempo de execução dos alongamentos foi bastante variável entre os diferentes estudos, desde 5 minutos a 24 horas por dia [mediana de 420 minutos, intervalo interquartil (IIQ) de 38 a 600)], durante 2 dias a 7 meses (mediana de 35 dias, IIQ de 23 a 84). O tempo de execução cumulativo dos alongamentos variou entre 23 minutos a 1456 horas (mediana de 168 horas, IIQ de 24 a 672).

Os resultados de interesse incluíram o arco de amplitude articular, espasticidade, dor, capacidade de mobilização, capacidade para a participação em atividades da vida diária, qualidade de vida e efeitos adversos. Os efeitos a curto prazo (menos de uma semana) e a longo prazo (mais de uma semana) foram investigados separadamente.

Fontes de financiamento dos estudos: nenhum dos estudo foi financiado por uma companhia farmacêutica ou empresa com interesses comerciais no resultado dos mesmos.

Resultados chave: encontrámos os seguintes efeitos a curto prazo, até uma semana após a última intervenção, em estudos que compararam grupos que executaram alongamentos contra grupos sem alongamentos:

Arco de amplitude articular (pontuação mais elevada equivale a um melhor resultado)

Doenças neurológicas: os alongamentos aumentaram o arco de amplitude articular em cerca de 1% (0% a 2% melhor) ou 2º (0º a 3º)

Doenças não neurológicas: os alongamentos aumentaram o arco de amplitude articular em cerca de 1% (0% a 3% melhor)

Qualidade de vida (pontuação mais elevada equivale a um melhor resultado)

Doenças neurológicas: sem estudos

Doenças não neurológicas: os alongamentos aumentaram a qualidade de vida em cerca de 1% (0% a 3% melhor)

Dor (pontuação mais baixa equivale a um melhor resultado)

Doenças neurológicas: os alongamentos aumentaram a dor em cerca de 2% (de 1% pior a 6% pior)

Doenças não neurológicas: os alongamentos diminuíram a dor em cerca de 1% (de 3% melhor a 1% pior)

Limitação nas atividades (pontuação mais elevada equivale a um melhor resultado)

Doenças neurológicas: os alongamentos aumentaram a capacidade de mobilização em cerca de 1% (0% a 2% melhor)

Doenças não neurológicas: os alongamentos aumentaram a capacidade de mobilização em 1% (de 2% pior a 4% melhor)

Participação nas atividades de vida diária (pontuação mais elevada equivale a um melhor resultado)

Doenças neurológicas: sem estudos

Doenças não neurológicas: os alongamentos diminuíram a capacidade de participação nas atividades de vida diária em cerca de 12% (31% pior a 6% melhor)

Eventos adversos

Doenças neurológicas e não neurológicas: foram reportados 49 eventos adversos, incluindo lacerações cutâneas, dor, parestesias, tromboses venosas, infeções de feridas, hematomas, défices de flexão e edema. Não conseguimos calcular o risco destes eventos adversos surgirem com os alongamentos, uma vez que nem todos os estudos reportaram os efeitos adversos, ou não os reportaram para ambos os grupos.

Qualidade da evidência científica: encontrámos evidência científica de elevada qualidade em como os alongamentos não têm efeitos clinicamente importantes a curto prazo no arco de amplitude articular em pessoas com doenças neurológicas ou não neurológicas. Encontrámos evidência científica de elevada qualidade em como os alongamentos não têm efeitos clinicamente importantes a curto prazo sobre a dor, e evidência científica de moderada qualidade em como os alongamentos não têm efeitos clinicamente importantes a curto prazo sobre a qualidade de vida em pessoas com doenças não neurológicas.

Conclusão: os alongamentos não são eficazes para o tratamento e prevenção das contraturas articulares e não apresentam efeitos a curto prazo sobre a qualidade de vida e a dor em pessoas com doenças não neurológicas. Os efeitos a curto prazo e a longo prazo dos alongamentos sobre outros resultados em pessoas com doenças neurológicas e não neurológicas não são conhecidos.

Notas de tradução: Tradução por Guilherme Ferreira dos Santos, Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar Lisboa Central; Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência; com o apoio de Cochrane Portugal

 

Publicada: 9 Janeiro 2017

 

Autores: Harvey LA, Katalinic OM, Herbert RD, Moseley AM, Lannin NA, Schurr K

 

Grupo de Revisão Principal: Musculoskeletal Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD007455.pub3/abstract

Questão de investigação: A alimentação de bebés nascidos de termo com fórmula enriquecida com ácidos gordos poliinsaturados de cadeia longa (LCPUFA) resulta em melhoria da visão e do desenvolvimento neurológico global em comparação com as fórmulas não enriquecidas com LCPUFA?

Contexto: Os LCPUFA são um tipo de gordura que é essencial para o desenvolvimento do cérebro e da visão dos recém-nascidos. O leite materno contém quantidades adequadas de LCPUFA e, portanto, é considerado melhor do que o leite em fórmula. Existem no mercado algumas fórmulas com LCPUFA adicionados.

Características dos estudos: Esta revisão analisou estudos que compararam os resultados de bebés nascidos de termo (nascidos com ≥ 37 semanas de gestação) que receberam leite de fórmula enriquecido com LCPUFA com os resultados de bebés nascidos de termo alimentados com leite de fórmula sem enriquecimento com LCPUFA.

Resultados principais: Os autores da revisão concluíram que os bebés de termo alimentados com fórmula suplementada com LCPUFA não apresentaram melhores resultados do que os que foram alimentados fórmula sem LCPUFA.

Qualidade da evidência: Consideramos que a qualidade geral da evidência é baixa.

Notas de tradução: Tradução de Rute Baeta Baptista. Área de Pediatria Médica do Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central. Departamento de Fisiopatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Lisboa

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Neonatal Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD000376.pub4/full

Pergunta de revisão

Investigámos os benefícios e malefícios do apoio para adultos hospitalizados em risco de desnutrição, com base em métodos diferentes, que vão desde o formalmente validados ‘de acordo com o parecer’ dos investigadores experimentais de alimentação.

Contexto

Quando as pessoas desnutridas são admitidos ao hospital podem ter um risco aumentado de morte ou são mais propensos a sofrer uma complicação séria. O suporte de alimentação pode ajudá-los, apesar da desnutrido poder estar associada com uma doença grave subjacente. Neste caso, as intervenções específicas que visam melhorar o seu estado nutricional não ajudariam, como não seria o estado nutricional pobre em si que causou o aumento do risco de morte ou de sofrer um dano grave.

Data de pesquisa: fevereiro de 2016.

Características dos estudos

Foram incluídos 244 ensaios, com 28.619 participantes. Os ensaios incluídos avaliaram os efeitos de diferentes tipos de suporte nutricional (ou seja conselhos dietéticos, enriquecimento regular de alimentos com proteína extra e calorias, suplementos de proteína e alimentação através de um cateter diretamente na veia ou através de um tubo de alimentação diretamente no estômago ou intestino). O suporte nutricional foi prestado a pessoas que estavam doentes, sendo que tinham vários tipos de doenças e que iriam ser submetidos a procedimentos diferentes. O que todos tinham em comum era estarem em risco em pelo menos uma medida, incluindo a opinião dos investigadores.

Principais resultados

Não encontramos nenhuma evidência de uma diferença entre o grupo de suporte nutricional e o grupo de controlo em termos de risco de morte. No grupo de controlo 8,3% das pessoas morreram a curto prazo, quando comparado com 7,8% no grupo com apoio nutricional (baixa qualidade de evidência). No ponto temporal mais completo 13,2% das pessoas no grupo controlo morreram, comparado com 12,2% no grupo de suporte nutricional (baixa qualidade de evidência). Não encontramos evidência de uma diferença entre o suporte nutricional e controlo em relação ao risco de complicações sérias a curto prazo. As pessoas nos grupos de controlo tinham uma taxa de complicação grave de 9,9% no seguimento a curto prazo em comparação com 9,2% no grupo de suporte nutricional (baixa qualidade de evidência). No seguimento a longo prazo 15,2% das pessoas no grupo de controlo tinham uma complicação séria em comparação com 13,8% nos grupos de suporte nutricional (baixa qualidade de evidência). Estes resultados baseiam-se em pouco mais de 21.000 participantes. O suporte nutricional pode aumentar o peso em cerca de 1,32 kg em comparação com as pessoas em grupos de controlo. O benefício associado a um aumento de peso de 1,32 kg é incerto. Nós não confiável poderia avaliar os efeitos na qualidade de vida, devido à variação no relato desta informação. Quando olhámos para os diferentes tipos de suporte nutricional, uma análise secundária sugeriu que a alimentação por sonda pode ser benéfica, reduzindo complicações sérias no seguimento máximo, mas a força deste achado é fraco.

Qualidade da evidência

A evidência para estas conclusões é de baixa qualidade em relação ao risco de complicações graves e morte. A evidência é de muito baixa qualidade em relação ao efeito no peso. Todos os ensaios tinham um alto risco de viés (ou seja, os ensaios foram todos conduzidos de uma forma que pode sobre-estimar os benefícios e sub-estimar os danos de suporte nutricional). Os resultados eram consistentes em relação a complicações graves e morte, mas havia uma grande variação nos efeitos sobre o peso.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 19 Mai 2017

 

Autores: Feinberg J, Nielsen EE, Korang SK, Halberg Engell K, Nielsen MS, Zhang K, Didriksen M, Lund L, Lindahl N, Hallum S, Liang N, Xiong W, Yang X, Brunsgaard P, Garioud A, Safi S, Lindschou J, Kondrup J, Gluud C, Jakobsen JC

 

Grupo de Revisão Principal: Hepato-Biliary Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011598.pub2/abstract

Contexto: A patologia da coifa dos rotadores é uma causa comum de dor no ombro. Os doentes com patologia da coifa dos rotadores geralmente descrevem a sua dor como sendo mais intensa durante a noite, com agravamento com movimentos em direções específicas, incluindo movimentos acima da cabeça A patologia da coifa dos rotadores associa-se a incapacidade funcional e em alguns casos a diminuição da força muscular.

A terapia manual engloba a mobilização de articulações e outras estruturas por parte de um profissional de saúde (por exemplo, um fisioterapeuta). O exercício físico inclui qualquer movimento intencional de uma articulação, contração muscular ou atividade prescrita. O objetivo de ambos os tratamentos é aliviar a dor, aumentar a força muscular, aumentar a amplitude articular e melhorar a capacidade funcional dos doentes.

Características dos estudos: Este resumo desta revisão Cochrane apresenta o estado atual do nosso conhecimento sobre os benefícios e eventos adversos associados ao tratamento com terapia manual e exercício físico, quando comparado com o placebo, a não intervenção ou qualquer outra intervenção, em doentes com patologia da coifa dos rotadores. Depois de pesquisados todos os estudos relevantes publicados até Março de 2015, incluímos 60 ensaios clínicos nesta revisão (num total de 3620 participantes). Contudo, apenas 10 destes ensaios clínicos estudaram o efeito combinado da terapia manual e exercício físico. Entre os participantes incluídos, 52% eram mulheres, a idade média dos participantes foi de 51 anos e a duração média da patologia da coifa dos rotadores foi de 11 meses. A duração média do tratamento com terapia manual e exercício físico foi de seis semanas.

Resultados chave: um ensaio clínico de terapia manual e exercício físico comparado com um placebo (tratamento com ultrassons terapêuticos inativados) durante 10 semanas, em doentes com patologia crónica da coifa dos rotadores

Dor (uma pontuação mais alta equivale a uma maior redução no nivel de dor)

Os doentes tratados com terapia manual e exercício físico obtiveram um nível de melhoria da dor que se revelou ligeiramente superior ou igual ao dos doentes tratados com o placebo. A melhoria do nível de dor foi superior em cerca de 6.8 pontos (variando entre 0.7 pontos a menos e 14.3 pontos a mais) às 22 semanas (uma melhoria absoluta de 7%).

Os doentes tratados com terapia manual e exercício físico avaliaram a alteração no seu nível de dor em 24.8 pontos, numa escala de 0 a 100 pontos.

Os doentes tratados com o placebo avaliaram a alteração no seu nível de dor em 17.3 pontos, numa escala de 0 a 100 pontos.

Capacidade funcional (uma pontuação mais elevada equivale a uma melhoria superior na capacidade funcional)

Os doentes tratados com terapia manual e exercício físico obtiveram uma melhoria ligeiramente superior à dos doentes tratados com o placebo. A melhoria na capacidade funcional foi superior em cerca de 7.1 pontos (variando desde 0.3 a 13.9 pontos a mais) às 22 semanas (uma melhoria absoluta de 7%).

Os doentes tratados com terapia manual e exercício físico avaliaram a alteração na sua capacidade funcional em 22.4 pontos, numa escala de 0 a 100 pontos.

Os doentes tratados com o placebo avaliaram a alteração na sua capacidade funcional em 15.6 pontos, numa escala de 0 a 100 pontos.

Sucesso do tratamento

Quando em comparação com o tratamento com o placebo, mais 16 em cada 100 doentes reportou sucesso terapêutico com o tratamento com terapia manual e exercício físico, o que corresponde a uma melhoria absoluta de 16% (variando de 2% a menos a 34% a mais).

Cinquenta e sete em cada 100 doentes reportou sucesso terapêutico com o tratamento com terapia manual e exercício físico.

Quarenta e um em cada 100 doentes reportou sucesso terapêutico com o tratamento com o placebo.

Eventos adversos

Quando em comparação com o tratamento com o placebo, mais 23 em cada 100 doentes reportou a ocorrência de eventos adversos ligeiros, como a presença de dor temporária após o tratamento, com o tratamento com terapia manual e exercício físico.

Trinta e um em cada 100 doentes reportou a ocorrência de eventos adversos associados ao tratamento com terapia manual e exercício físico.

Oito em cada 100 pessoas reportou a ocorrência de eventos adversos associados ao tratamento com placebo.

Qualidade da evidência: Evidência científica de alta qualidade, proveniente de um ensaio clínico, sugere que a terapia manual e o exercício físico foram responsáveis por uma melhoria ligeiramente superior da capacidade funcional, quando em comparação com o placebo, às 22 semanas de seguimento, sem diferença ou com uma diferença mínima em outras medidas de eficácia importantes para o doente (por exemplo a dor global), com uma taxa relativa de ocorrência de eventos adversos ligeiros superior.

Evidência científica de baixa qualidade sugere que pode não existir diferença, ou existir uma diferença ligeira na dor global e capacidade funcional, quando a terapia manual e o exercício físico são comparados com a injeção de glucocorticóides; que pode não existir diferença, ou existir uma diferença ligeira na dor global e capacidade funcional quando a terapia manual e o exercício físico são comparados com a descompressão subacromial por via artroscópica; e que os doentes que recebem tratamento com acupuntura associada a aconselhamento dietético e suplementação alimentar com a formulação enzimática oral Phlogenzym podem ter menos dor e melhor capacidade funcional, quando em comparação com os doentes tratados com terapia manual e exercício físico.

Não temos a certeza sobre se em primeiro lugar, a magnitude de efeito da associação de terapia manual e exercício físico sobre a melhoria da capacidade funcional é superior, quando comparada com o tratamento com fármacos anti-inflamatórios não esteróides orais (AINEs); e em segundo lugar, se a associação da injeção de glucocorticóides à terapia manual e exercício físico é responsável por uma melhoria da capacidade funcional superior à injeção isolada de glucocorticóides, dada a qualidade muito baixa da evidência científica atualmente disponível.

Notas de tradução: Tradução de Guilherme Ferreira Dos Santos, Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Hospital de Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Portugal; Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Portugal; com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Musculoskeletal Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD012224/full

Pergunta de investigação: Os testes moleculares serão melhores do que os métodos culturais tradicionais para detetar infeção em recém-nascidos?

Contexto:

O método actual de detecção de infecção (doença causada por germes) em recém-nascidos é obter sangue ou outros fluídos corporais (ou ambos) e cultivá-los em laboratório para detectar se ocorre crescimento de bactérias (germes). No entanto, os métodos de cultura podem não detectar algumas infecções e demoram tempo até se obterem resultados (48 a 72 horas). Os métodos mais recentes de deteção de infeção baseiam-se na deteção de DNA (uma molécula que contém as instruções genéticas utilizadas no crescimento, desenvolvimento, funcionamento e reprodução) de bactérias e outros organismos que causam infeções. Os avanços na microbiologia introduziram novos testes moleculares para a deteção de infeções. Os testes moleculares são rápidos e podem detetar mais infeções em comparação com os métodos culturais tradicionais.

Características dos estudos: Procurámos estudos que avaliaram a utilização dos métodos moleculares para detetar infeção em recém-nascidos. Encontrámos 35 estudos que compararam os novos métodos moleculares aos métodos de cultura do sangue e do líquido céfalo-raquidiano para diagnosticar a infeção.

Fontes de financiamento do estudo: Nenhuma.

Resultados principais: Os métodos moleculares podem ser muito úteis como testes adicionais porque fornecem resultados rápidos.

Qualidade da evidência: Apesar de alguns problemas relacionados com a seleção de recém-nascidos para esta revisão, em geral, os métodos utilizados pelos estudos eram adequados. Avaliámos a qualidade da evidência como moderada a baixa.

Notas de tradução: Tradução de Rute Baeta Baptista. Área de Pediatria Médica do Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Central. Departamento de Fisiopatologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

Grupo de Revisão Principal: Cochrane Neonatal Group

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD011926.pub2/full

Pergunta de revisão

Queríamos saber se antibióticos melhoram o estado das pessoas com bronquite aguda. Também foram avaliados os potenciais efeitos adversos da terapia antibiótica.

Contexto

Bronquite aguda é um diagnóstico clínico (baseado em sinais e sintomas relatados pelo doente) para uma tosse aguda, que pode ou não estar associada com tosse com muco ou catarro. A bronquite aguda pode ser causada por vírus ou bactérias. Os sintomas geralmente duram duas semanas mas podem durar até oito semanas. Os antibióticos são frequentemente prescritos para tratar a bronquite aguda, mas estes podem causar efeitos adversos como náusea e diarreia bem como causar reações mais graves em pessoas alérgicas ao medicamento. Não há nenhum teste prático para distinguir entre bronquite bacteriana e viral.

Características dos estudos

Foram incluídos ensaios clínicos aleatorizados, comparando a qualquer terapia antibiótica com placebo ou nenhum tratamento em pessoas com bronquite aguda ou pessoas que tinham uma tosse produtiva aguda mas sem doença pulmonar crónica subjacente. Foram incluídos 17 ensaios com 5099 participantes. Tratamentos simultâneos com outros medicamentos para aliviar os sintomas foram permitidos se tivessem sido dados a todos os participantes no estudo.

Principais resultados

A evidência é atual de 13 de janeiro de 2017.

Encontramos evidência limitada de um benefício clínico para apoiar o uso de antibióticos para a bronquite aguda. Algumas pessoas tratadas com antibióticos recuperaram um pouco mais rapidamente com menor impacto relacionado a com tosse. No entanto esta diferença não pode ter uma importância prática como consistia numa diferença de meio dia ao longo de um período de 8 a 10 dias. Houve um aumento pequeno mas significativo de efeitos adversos em pessoas tratadas com antibióticos. Os efeitos adversos mais frequentemente reportados incluem náuseas, vómitos, diarreia, dor de cabeça e irritação da pele.

Esta revisão sugere que há um benefício limitado no uso de antibióticos para a bronquite aguda em pessoas saudáveis. É necessária mais investigação sobre os efeitos do uso de antibióticos para a bronquite aguda em pessoas frágeis, idosas com múltiplas condições crónicas, que podem não ter sido incluídas nos ensaios existentes. A utilização de antibióticos tem que ser considerada no contexto dos potenciais efeitos adversos, de uma terapêutica dirigida a uma condição auto-limitada, do custo do tratamento com antibióticos e em particular a efeitos prejudiciais a nível populacional devido ao aumento da resistência aos antibióticos.

Qualidade da evidência

A qualidade destes ensaios foi geralmente boa, em particular nos estudos mais recentes.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, com o apoio da Cochrane Portugal

 

Publicada: 19 Junho 2017

 

Autores: Smith SM, Fahey T, Smucny J, Becker LA

Grupo de Revisão Principal: Acute Respiratory Infections Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD000245.pub4/abstract;jsessionid=EE9B0D5B1EAD59694242E68B79B

Pergunta da revisão

Foi revista a evidência sobre o efeito da toxina botulínica tipo A (BtA) em comparação com a toxina botulínica tipo B (BtB) em pessoas com posicionamento involuntário da cabeça, uma doença chamada distonia cervical. Isto é uma atualização de uma revisão Cochrane anterior onde foi avaliada a eficácia (redução da gravidade, incapacidade e dor) e a segurança da BtA versus BtB na distonia cervical.

Contexto

A distonia cervical, também conhecido como torcicolo espasmódico, é uma doença que leva a uma posição anómala da cabeça, sendo incontrolável e muitas vezes dolorosa. É uma condição relativamente incomum (afetando 57 a 280 pessoas por milhão) mas que pode ser muito incapacitante, afetando negativamente a qualidade de vida. Na maioria dos casos, a causa é desconhecida e não existe cura. Uma vez que a distonia cervical é normalmente uma doença de longo prazo, requer tratamento a longo prazo.

A toxina botulínica (Bt) é um produto químico poderoso e natural que pode causar paralisia grave (uma incapacidade de se mover na parte do corpo onde é aplicada) em animais e humanos.A toxina pode ser usada para tratar muitas doenças, em particular aquelas com contrações musculares involuntárias, como a distonia cervical. O tratamento é administrado por injeções nos músculos afetados pela doença. Existem diferentes tipos de toxina, mas nem todos estão disponíveis para o tratamento de condições de saúde. A BtA é tipicamente o primeiro tratamento usado na distonia cervical, mas a BtB é uma alternativa. A força relativa de cada formulação Bt é variável, e o custo no Reino Unido para 200 unidades varia de GBP 198 a GBP 308.

Características do estudo

Foi realizada uma pesquisa rigorosa da literatura médica em outubro de 2016 e foram encontrados três estudos que compararam uma única sessão de tratamento de BtA versus BtB. Estes estudos incluíram um total de 270 participantes, com, em média, um comprometimento moderado da doença. Os participantes permaneceram nos estudos por um curto período de tempo – entre 16 e 20 semanas após o tratamento. A idade média das pessoas nos estudos foi de 53,3 anos, e tiveram distonia cervical durante uma média de 6,6 a 7,9 anos antes de participarem nos estudos. A maioria, 63,3%, das pessoas nos estudos eram mulheres. Todos os três estudos foram financiados por fabricantes de medicamentos com possíveis interesses nos resultados dos estudos.

Principais resultados

Os resultados mostram pouca ou nenhuma diferença entre BtA e BtB nas principais medidas de eficácia e segurança, incluindo o número total de eventos adversos (indesejados ou nocivos). Houve também pouca ou nenhuma diferença entre BtA e BtB nas autoavaliações relatadas pelos participantes do estudo. Com base nos resultados, seria de esperar que, de 1000 pessoas com distonia cervical tratados com BtB, haveria 362 mais pessoas que experimentam boca seca ou dor de garganta em comparação com 1000 pessoas tratadas com BtA. Os estudos que analisaram a duração do efeito mostraram pouca ou nenhuma diferença entre BtA e BtB. Nenhum dos estudos examinou o impacto de qualquer tipo de toxina na qualidade de vida.

Qualidade da evidência

Todos os estudos incluíram participantes que eram diferentes da pessoa média que sofre de distonia cervical. Para ser incluído, era exigido um ciclo de tratamento bem sucedido com toxina botulínica no passado. As pessoas com certos tipos de distonia cervical, em particular as formas que fazem a cabeça virar para trás ou para a frente, não foram autorizados a participar nos estudos.

Não foram incluídos suficientes participantes nos estudos para estar completamente confiantes nos resultados para o risco de eventos adversos, as avaliações auto-relatadas pelos participantes ou a avaliação da dor.

A qualidade da evidência para melhoria geral e o risco de eventos adversos foi baixa. A qualidade da evidência que mostra mais dor de garganta ou boca seca em pessoas que recebem BtB é moderada. A qualidade da evidência onde os participantes deram suas auto-avaliações é baixa.

Não se podem tirar conclusões definitivas sobre a segurança global e a utilidade a longo prazo da BtA em comparação com a BtB na distonia cervical.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina de Lisboa

 

Publicada: 26 Outubro 2016

 

Autores: Duarte GS, Castelão M, Rodrigues FB, Marques RE, Ferreira J, Sampaio C, Moore AP, Costa J

 

Grupo de Revisão Principal: Movement Disorders Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD004314.pub3/abstract

Pergunta da revisão

Foi analisado se as vacinas podem ajudar a prevenir as constipações.

Contexto

A constipação é causada por uma infecção viral do trato respiratório superior, e as pessoas geralmente ficam melhores quando o vírus morre. Pessoas constipadas não se sentem bem, o nariz tende a pingar, há congestão nasal, espirros e tosse com ou sem dor de garganta e temperaturas ligeiramente elevadas. Os tratamentos visam aliviar os sintomas.

Globalmente, a constipação causa doença generalizada. Tem sido difícil produzir vacinas para prevenir a constipação devido aos muitos vírus envolvidos. O efeito das vacinas sobre a prevenção da constipação em pessoas saudáveis é ainda desconhecido.

Data da pesquisa

Para esta atualização, pesquisamos a literatura até 2 de setembro de 2016.

Características do estudo

Não encontramos novos ensaio nesta atualização. Esta revisão inclui um estudo aleatorizado previamente identificado e realizado em 1965. Este estudo envolveu 2307 pessoas saudáveis numa instalação de treino para a Marinha dos Estados Unidos e avaliou o efeito de uma vacina viva enfraquecida (atenuada) de adenovírus em comparação com uma vacina falsa (placebo).

Fontes de financiamento

Este estudo foi financiado por uma instituição governamental.

Principais resultados

Não houve diferenças na frequência de constipações entre aqueles que receberam a vacina em comparação com aqueles que receberam uma vacina falsa. Não houve eventos adversos relacionados com a vacina. No entanto, devido ao baixo número de pessoas incluídas no estudo e número de constipações, bem como falhas no desenho do estudo, a nossa confiança nos resultados é baixa. Investigação futura poderá esclarecer se as vacinas podem prevenir constipações, uma vez que a evidência atual não apoia o uso da vacina de adenovírus para prevenir constipações em pessoas saudáveis.

Qualidade da evidência

Nós avaliamos a qualidade da evidência como baixa devido ao alto risco de viés e baixo número de participantes no estudo e número de constipações, o que resultou em imprecisão.

Notas de tradução: Tradução por Gonçalo S Duarte, Laboratório de Farmacologia Clínica e Terapêutica, Faculdade de Medicina de Lisboa, com o apoio de Cochrane Portugal

 

Publicada: 18 Mai 2017

 

Autores: Simancas-Racines D, Franco JVA, Guerra CV, Felix ML, Hidalgo R, Martinez-Zapata MJ

 

Grupo de Revisão Principal: Acute Respiratory Infections Group

 

Revisão completa pode ser consultada AQUI:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD002190.pub5/abstract