Apesar do alerta lançado há dois meses pela Ordem dos Médicos e da insistência feita pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a falta de pediatras no Hospital Garcia de Orta agravou-se. Desta forma, em abril a escala da urgência pediátrica pode deixar de estar assegurada pelo que o serviço corre o risco de ser encerrado alguns dias ou em alguns períodos.
“Quando fizemos um alerta para a grave situação que estava a ser vivida no Hospital Garcia de Orta a ministra da Saúde apressou-se a negar os factos, em vez de ter investido todos os esforços no sentido de reforçar o quadro de pediatras. Chegámos assim a uma situação limite e inevitável”, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos.
“Não é possível ter uma urgência pediátrica aberta sem pediatras. Não é sério e, sobretudo, não é seguro para os mais de 130 doentes que ali acorrem todos os dias”, reforça Miguel Guimarães, avançando que desde fevereiro já saiu mais um pediatra do hospital, prevendose a saída de mais um até ao final de abril. Há também uma pediatra que entrou em licença de maternidade e outra que está grávida.
A situação motivou também uma tomada de posição por parte do SIM, que enviou uma carta ao conselho de administração do Hospital Garcia de Orta. “Lamentamos a inação do conselho de administração e o desrespeito que isto demonstra pelos profissionais, pelos pais e pelas crianças”, defende o secretário-geral do SIM. Jorge Roque da Cunha destaca que “esta tem sido, aliás, a postura do Ministério da Saúde nos vários assuntos, num desaproveitamento da abertura negocial das estruturas sindicais, que se traduziu em resultados quase nulos. Este tema estará na base de uma cimeira que o SIM e a FNAM vão realizar já neste dia 27 de março”.
“Como facilmente se percebe o cenário é muito grave e não deixa de ser irónico que o hospital não possa substituir estas pessoas, já que ainda este mês a ministra da Saúde publicou um Despacho que facilita a substituição de profissionais ausentes por doença ou por licença de parentalidade, mas que deixa de fora os médicos”, acrescenta o bastonário.
Em fevereiro a Ordem dos Médicos, após uma visita ao Hospital Garcia de Orta, já tinha alertado que o número de pediatras nos quadros naquela unidade de Almada era insuficiente e comprometia a qualidade e segurança dos serviços prestados às crianças. A urgência funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, quase sempre com um único pediatra, pelo que Ordem avançava que a solução para continuar a garantir as escalas poderia passar pelo encerramento durante a noite.
A gravidade da situação levou a que os chefes de equipa entregassem um pedido de isenção de responsabilidade. O número de chefes de equipa que não cobre sequer as sete noites da semana e que obriga a que façam um número incomportável de horas suplementares.
Muitas vezes o chefe de equipa é o único pediatra na urgência, o que se torna ainda mais incompreensível dado que os mesmos médicos que asseguram esta urgência, quando estão escalados, dão apoio à unidade de internamento de curta duração e à urgência interna dos doentes da enfermaria de pediatria. Ao fim-de-semana, a mesma equipa dá também apoio ao berçário. Na urgência pediátrica as equipas deviam ter, pelo menos, dois assistentes hospitalares de pediatria ou um assistente hospitalar e um interno dos últimos anos da Formação Específica, mas nem isso está a ser assegurado.
Lisboa, 28 de março de 2019