Naquela que foi a sua primeira saída internacional, em entrevista a meios de comunicação espanhóis, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, realçou a ligação histórica entre as nações da Península Ibérica e traçou um retrato resumido dos desafios que se vivem em Portugal, muitos dos quais partilhados pelo país vizinho: “Em Portugal temos um sistema nacional de saúde dentro do qual temos um serviço público que, neste momento, tem muitos problemas”, por oposição ao setor privado e social que, salientou, estão em “grande desenvolvimento”. Contextualizando as dificuldades que se sentem no setor público, mencionou o descontentamento que leva à saída de médicos e outros profissionais do setor público. “Os médicos não estão satisfeitos pois não têm nem boa retribuição financeira, nem condições para formação – seja para formar novos especialistas seja para receber formação diferenciada -, nem tempo para fazer investigação. Formação e investigação são duas áreas muito importantes para os médicos, mas também para o desenvolvimento da medicina e do próprio país”, frisou lamentando que os médicos não sintam condições para o desenvolvimento profissional no Serviço Nacional de Saúde. Nesta ocasião, Carlos Cortes deixou uma mensagem ao Colégio de Médicos de Madrid que celebra este ano 125 anos, mais de um século “a contribuir para o desenvolvimento da medicina, para a saúde e o bem estar das pessoas”. Partilhou ainda o seu ensejo de aprofundar as sinergias entre os médicos portugueses e espanhóis e enalteceu o passo que se deu no dia 31 de maio de 2023 através da assinatura da Declaração de Madrid. Carlos Cortes falou ainda da visão, partilhada com o seu homólogo espanhol durante esta visita, de uma única Saúde na Europa, em que os desafios partilhados pelos sistemas de Saúde sejam resolvidos em rede, através de sinergias que envolvam também os decisores políticos. Neste contexto o bastonário da Ordem dos Médicos portuguesa realçou o forte contributo da transformação digital para acelerar estes processos, designadamente para a construção eficaz do Espaço Europeu de Dados da Saúde. “Os dados em Saúde têm que estar interligados” mas tendo em conta os aspetos éticos, deontológicos e técnicos para que se tenha segurança na circulação destes dados tão sensíveis. Aos jornalistas espanhóis, realçou ainda que nesta área, “Espanha e Portugal estão na vanguarda em relação aos outros países da União Europeia porque os processos clínicos estão já informatizados e existe uma ligação entre os hospitais e os cuidados de saúde primários”, realidade que não se verifica em todos os países da UE. “Para mim é muito importante que tenhamos uma única Saúde na Europa”, mencionou, referindo a necessidade de se encontrarem soluções para o espaço europeu em todos os desafios de saúde que os países partilham.