Numa entrevista ao “SNS Contas Certas”, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, alertou que o número de médicos enviado para a OCDE não corresponde aos profissionais que estão no ativo mas sim aos que estão inscritos na OM, sendo que a OCDE estima que este número esteja, portanto, inflacionado em cerca de 30%. Só com esta retificação se tem um desenho mais realista da demografia médica no nosso país. “O que é consensual é que faltam médicos no Serviço Nacional de Saúde, em determinadas áreas do país. E não é só nas regiões periféricas mas também nas grandes cidades como Lisboa ou Porto quase de uma forma transversal em todas as especialidades”. Referindo-se especificamente à Medicina Geral e Familiar que “tem imensas dificuldades” e onde há “uma assimetria muito marcada entre o norte e o sul do país”, deu o exemplo do ACES Cávado I, na zona de Braga, onde praticamente não há nenhum utente sem médico de família, em oposição a, por exemplo, o ACES do Estuário do Tejo, com sensivelmente a mesma cobertura populacional, onde mais de metade dos utentes não tem médico de família. Esta dificuldade, frisou, também se sente a nível hospitalar. Mencionando várias situações de rutura, o bastonário centrou-se na “Medicina Interna, pilar dos hospitais e dos serviços de urgência” que cada vez tem mais dificuldade de captação de especialistas. A pressão assistencial que compromete a capacidade de resposta do sistema de saúde é insustentável, por isso, o representante de todos os médicos deixou publicamente a recomendação, em jeito de desafio, que já havia lançado aos responsáveis políticos: “que tornem o SNS [na questão dos recursos humanos] mais competitivo. O SNS precisa de se desenvolver, de crescer, de se diferenciar e aperfeiçoar e a investigação é essencial. O SNS deve ter a capacidade de dar condições aos médicos para desenvolverem projetos de investigação”, entre outros fatores que podem ser aliciantes. O caminho a percorrer é longo, mas o bastonário elogiou a diferença de mensagem transmitida pelo Ministério da Saúde que este ano, ao contrário do que acontecia anteriormente e também na sequência de vários apelos da OM, abriu concursos de forma mais célere. “Quando há coisas positivas também temos que saber reconhecer”, concluiu, lamentando que essa mudança não tenha ainda abrangido todas as especialidades. Com planeamento, Carlos Cortes acredita que podemos “tornar o SNS mais competitivo e mais capaz de contratar os médicos que necessita”.
A entrevista completa pode ser vista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Drybt1w8e-U