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Todos os médicos na abordagem da cessação tabágica

Autora: Ângela Dias Machado, Médica Interna de MGF na USF Afonso Henriques (ACeS Alto Ave – Guimarães)

 

O tabagismo é um dos mais importantes problemas de saúde dos nossos dias, quer pela sua prevalência, quer pelas consequências que pode gerar, tanto na população fumadora, como na não fumadora.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) refere, no seu relatório de 2008, que o consumo de tabaco constitui, a nível mundial, a principal causa evitável de doença e de morte, o que se repercute de forma pesada em custos sociais, económicos e de saúde.

Segundo a OMS, as intervenções para controlo do tabagismo são a segunda forma mais efetiva de investimento dos recursos financeiros em saúde, a seguir à imunização infantil. Parar de fumar traz sempre benefícios, imediatos e a longo prazo, em ambos os sexos, em todas as idades, em pessoas com ou sem doenças relacionadas com o tabaco. Embora deixar de fumar seja benéfico em qualquer idade, os ganhos são tanto maiores quanto mais precoce for o abandono definitivo do consumo de tabaco.

Neste contexto, parece-me inquestionável que a prevenção e o controlo do tabagismo devam constituir um objetivo prioritário das políticas de saúde. A promoção da cessação tabágica deve ser uma tarefa de todos os médicos, assim como de todas as especialidades médicas.

Não me parece que se deve limitar esta tarefa “apenas” aos médicos de Medicina Geral e Familiar. Realmente, eles são a primeira porta para o SNS e têm uma relação privilegiada com os utentes, mas não nos podemos esquecer dos médicos Cardiologistas que veem os doentes, por exemplo, numa altura pós-Enfarte Agudo do Miocárdio, os médicos Pneumologistas que vêm os doentes com múltiplas exacerbações de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, os Psiquiatras que veem os doentes com psicopatologia e múltiplas dependências, os Obstetras que veem as grávidas de alto risco (das quais as fumadoras deviam fazer parte), os médicos Oncologistas, os médicos de Medicina Interna, entre todas as outras as especialidades médicas que têm ou deviam ter um papel preponderante em abordar a cessação tabágica.

Não nos podemos limitar a dizer ao utente: “tem de parar de fumar!” ou “se reduzir para 3-4 cigarros por dia já é muito bom”. Como médicos que queremos o melhor para os nossos utentes, temos de o ajudar a tomar essa decisão e acima de tudo, explicar-lhe que a cessação tabágica faz parte do tratamento de qualquer condição médica e que a ajuda especializada é fundamental para parar de fumar. Devemos também ter noção que não basta tomar determinado fármaco para deixar de fumar, mas que as rotinas de acompanhamento são fundamentais para reduzir os sintomas de abstinência e prevenir recaídas.

Então, o que falta para todos os médicos se sentirem à vontade para abordar esta problemática da cessação tabágica? Formação nesta área? Tempo na consulta?